Vão comprar pão!
Silvia Britto
Estava em
casa, triste e cabisbaixa. Reclamando da vida e casmurra de fazer inveja a
qualquer Bentinho. Olhei para o relógio e vi: cinco horas da tarde. De repente,
uma voz surgiu lá no fundinho de mim e falou: “Levante e vá comprar pão!”.
Estranhei o comando, mas como ele insistisse e eu siga a tendência de obedecer
meus instintos aparentemente sem noção, levantei, reclamando, e fui.
Esperava uma
tarde fria. Qual não foi minha surpresa ao perceber que a tarde estava morna e
macia. Fui obrigada a relaxar, automaticamente, os músculos do pescoço,
preparados para o frio invernal.
Pelo caminho,
fui encontrando vizinhos sorridentes e parando nos portões costumeiros para
falar com meus amigos de quatro patas. Esses últimos, ainda olhavam insistentes
para minhas costas, esperando a materialização repentina da Ritinha, a beleza
negra e viralata que sempre me acompanha nesses passeios. Mas mesmo sem
achá-la, abanavam deliciosamente seus rabinhos aos meus afagos.
Também
arranquei sorrisos de uma linda bebê, banguela e careca que, segundo a mãe,
estava molinha por ter tomado vacina. Vi o beijo apaixonado de dois namorados
se reencontrando, ela com cara de atrasada, descendo do ônibus e ele, paciente, a
sua espera no ponto.
Para
culminar esse passeio, aparentemente sem propósito, ainda pude ouvir o relato
extasiado de um garotinho de lá seus oito anos, ao seu amigo, talvez um
pouquinho menor:”Cara! E o mais maneiro, é que minha mãe falou que chocolate ao
leite é nutritivo!”. Isso ele dizia enquanto carregava duas barras enormes de
chocolate em direção ao caixa da padaria.
No meu
caminho de volta, ainda pude ver amigos jogando uma pelada na Praia da Urca,
enquanto o sol dava seus últimos suspiros por essas bandas. Do outro lado, o
Garota da Urca parecia explodir de vida com famílias barulhentas e crianças
irriquietas. E isso tudo inundou meu coração de calor e vida.
Cheguei à
casa e fui direto comer meu pão, que ainda estava quentinho no saco. A manteiga
derretia assim como fez meu coração ao fazer esse passeio simples pela vida.
Para acompanhar, uma xícara de café com leite e voilá! Estou novamente
alimentada pela simplicidade da vida e pronta para seguir adiante.
Moral da
história: Se um dia sentirem-se deprimidos, aqui vai o meu conselho: Vão
comprar pão!!
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