Silvia Britto
Hoje
acordei cabisbaixa, sem energia, melancólica, com um aperto no peito.Sentimentos
que são meus, verdade, mas que normalmente sabem e respeitam os seus lugares. Tentei
ignorá-los. Não consegui. Tentei minimizá-los. Não permitiram.Pareciam
dizer-me: "Pensa que é fácil ser corajosa e querer levar a vida com
positividade?".
Tive
então uma ideia que lera em uma revista feminina para combater o baixo astral e
resolvi ir ao shopping, passear. Coloquei-me bonita, maquiada, bem vestida e
subi no salto. Nada melhor do que uns olhares de admiração para fazer
feliz o ego. Nada.Os
olhares pareciam atravessar-me, ou era eu que estava muito cabisbaixa para
notá-los.
Entrei em
uma loja de departamentos e fui a uma de suas cabines, com a ideia de
experimentar um vestido. Sentei-me no banco e desandei a chorar.
Soluçava. Deparei-me
com minha imagem no espelho e vi meu rosto inchado, nariz e olhos
vermelhos. O rímel preto escorria dando-me o aspecto de um guaxinim gripado.
De
repente, o choro transformou-se em riso diante da tragicomicidade da vida.
Gargalhava! Num desses relances, ao olhar no espelho, eu a vi. Lá estava a
minha menininha querida! Triste, amuada, com um muchocho no canto da boca,
tal qual o meu, quando a vida tenta me derrubar.
Perguntou-me,
direta: "Onde andava? não gosto quando me perde!".
Meu
coração apertou Abracei-a, pedi perdão, coloquei-a no colo e prometi não mais
abandoná-la. Ficamos assim por um longo tempo, fazendo as pazes. Saí da cabine com
a alma leve, os pés no chão, apesar do salto, e o rosto completamente manchado.
Devolvi o vestido à vendedora assustada, que ainda perguntou:
"Serviu?". Respondi: "Não sei! Não tive tempo de
experimentar!". A pobre me pegou o vestido das mãos e deve ter ficado
agradecida por livrar-se de uma doida de pedra! E lá fui eu, de mãos dadas com
minha menininha, saltitando, em busca de um sorvete de chocolate!
Saí do
Shopping com a boca suja de chocolate, a maquiagem derretida, o sorriso nos
lábios e o rebolado... Ahhh, o rebolado... Esse merece outro texto, pois é
muito mais que um poema! Rsrsrs