terça-feira, 30 de abril de 2013

Rímel borrado e chocolate

                   
Rímel borrado e chocolate

Silvia Britto

Hoje acordei cabisbaixa, sem energia, melancólica, com um aperto no peito.Sentimentos que são meus, verdade, mas que normalmente sabem e respeitam os seus lugares. Tentei ignorá-los. Não consegui. Tentei minimizá-los. Não permitiram.Pareciam dizer-me: "Pensa que é fácil ser corajosa e querer levar a vida com positividade?".
Tive então uma ideia que lera em uma revista feminina para combater o baixo astral e resolvi ir ao shopping, passear. Coloquei-me bonita, maquiada, bem vestida e subi no salto. Nada melhor do que uns olhares de admiração para fazer feliz o ego. Nada.Os olhares pareciam atravessar-me, ou era eu que estava muito cabisbaixa para notá-los.
Entrei em uma loja de departamentos e fui a uma de suas cabines, com a ideia de experimentar um vestido. Sentei-me no banco e desandei a chorar. Soluçava. Deparei-me com minha imagem no espelho e vi meu rosto inchado, nariz e olhos vermelhos. O rímel preto escorria dando-me o aspecto de um guaxinim gripado.                        
De repente, o choro transformou-se em riso diante da tragicomicidade da vida. Gargalhava! Num desses relances, ao olhar no espelho, eu a vi. Lá estava a minha menininha querida! Triste, amuada, com um muchocho no canto da boca, tal qual o meu, quando a vida tenta me derrubar.
Perguntou-me, direta: "Onde andava? não gosto quando me perde!".
Meu coração apertou Abracei-a, pedi perdão, coloquei-a no colo e prometi não mais abandoná-la. Ficamos assim por um longo tempo, fazendo as pazes. Saí da cabine com a alma leve, os pés no chão, apesar do salto, e o rosto completamente manchado. Devolvi o vestido à vendedora assustada, que ainda perguntou: "Serviu?". Respondi: "Não sei! Não tive tempo de experimentar!". A pobre me pegou o vestido das mãos e deve ter ficado agradecida por livrar-se de uma doida de pedra! E lá fui eu, de mãos dadas com minha menininha, saltitando, em busca de um sorvete de chocolate!
Saí do Shopping com a boca suja de chocolate, a maquiagem derretida, o sorriso nos lábios e o rebolado... Ahhh, o rebolado... Esse merece outro texto, pois é muito mais que um poema! Rsrsrs