quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Não sei dizer mas vou tentar


Não sei dizer mas vou tentar
Silvia Britto

Eu tenho tanto pra lhe falar mas, com palavras, não sei dizer... Porém, vou tentar. Sempre fui petulante e tenho que encontrar um jeito de explodir o que sinto no peito e o meu amor.
Sempre te busquei, isso é certo. Buscava por você na escola, nos bailinhos dos clubes, nas praias, em todos os lugares por onde andava. Por vezes, achei ter te encontrado. Encontrei pessoas que, à sua maneira, até me deixaram feliz, fizeram-me crer que amar e ser amada não era apenas coisa de filme. Mas sempre faltava algo. E esse algo que faltava, hoje sei, era você.
Faltava essa certeza, que hoje carrego, de que minha busca acabara. Ficava orgulhosa de não desistir de buscar e desiludida de saber não haver encontrado. Perdia o foco, olhava para os lados, desconfiando estar no caminho errado. Buscava os caminhos certos, conversando com o meu coração.
Até que um abraço te trouxe para mim. Não dá para explicar o que senti com aquele abraço. Meu corpo pedia com todas as forças que eu não mais desapegasse daquele sentimento de sentir-me em casa, jamais antes experimentado. Tentei resistir, fugir, esquecer. Não por minha causa, mas por tudo que sempre acreditara na vida. Você não me buscava e, consigo, trazia uma história muito intensa e intransponível à minha moral e ideologia de vida. Entretanto, como fugir dos desígneos do destino? Como fugir do que era para ser, apesar dos pesares?
Eu fugia, escondia-me, e você me achava, encantado também, com o sentimento que nasceu em seu peito. Descobriu-se recém nascido,  como um bebê que aprende a respirar. Num impulso maior, a vida nos empurrou nos braços um do outro para que, finalmente, nos sentíssemos plenos e totalmente enamorados, numa estrada sem retorno.
E é isso que eu sinto. Sinto-me em casa nos seus braços. Quando me abraça, perco a noção de quem sou eu e quem é você. Seu toque no meu corpo, parece encontrar meu caminho melhor do que eu mesma jamais ousaria. Suas pernas, quando entrelaçadas às minhas, transformam-se em uma prisão da qual nunca mais quero escapar.
Você me leva do paraíso ao inferno com sua intensidade. Mas o caminho inverso, também se faz de uma maneira tão intensa e rápida, que me faz perder a respiração. Minhas lágrimas de dor e sofrimento, transformam-se em soluços de alegria e gozo em questão de segundos. Isso é louco, insano, concordo. Mas a vida é insana!
Não sei mais despertar sem nossas, já incorporadas, juras de amor: “Bom dia, meu amor. Eu te amo!”. Foi a maneira mais linda que a vida encontrou de me presentear todas as manhãs e me fazer agradecer por estar viva.
Com você, sou criança, bailarina, amante e meretriz. Meretriz de um homem só. Escrava dos seus desejos e rainha das minhas vontades. Sou plena, sou grande e sou pequena. Sua pequena.
Constantemente, você esbraveja contra o destino e a vida por não termos nos encontrado mais cedo e termos perdido tanto tempo sem desfrutar desse lindo sentimento que brotou entre nós. Diz arrepender-se não estar à beira da cama da minha mãe, no momento em que ela me trouxe ao mundo, para poder ter tido, desde sempre, a possibilidade de cuidar de mim e viver o nosso amor. Pois eu, meu amor, não tenho nada a reclamar. Sinto-me apenas imensamente agradecida por ter tido a oportunidade de ter seus braços à minha volta. Não poderia passar por essa vida sem esse sentimento. Temos todo o tempo do mundo e mais um ano! Não temos tempo a perder, é certo. Mas o tempo que temos juntos será eterno.
Começamos uma nova história de amor e entrega que contagia a todos por onde passamos. Não que causemos inveja, pois esse sentimento, não constrói. Mas somos a prova viva de que o amor é possível. Fazemos renascer a esperança nos que nele, já não acreditavam.
Nosso caminho não é florido. Ao contrário, é cheio de pedras e tortuoso. Entretanto, o encanto dessa louca viagem, é que vamos juntos, de mãos dadas, driblando as pedras, tornando-nos amigos delas e seguindo, rio acima, a caminho do nosso vale de sol e cachoeiras, onde, finalmente, poderemos descansar. Mas, se bem nos conheço, descansar, apenas para recomeçar a andar. Não temos limites do que queremos alcançar e isso, meu amor, não tem preço! Somos dois meninos corajosos lançados à aventura da vida e ao desafio do amor. Sou muito feliz de ter você como meu parceiro nessa loucura.
Como me sinto ao seu lado? Derretida e inteira. Triste e feliz. Menina e mulher. Cuidada e cuidadora. Corajosa e medrosa. Grande e pequena. Professora e aluna. Alvo e flecha. Amada e amante. Profanada e intocada. Anjo e demônio. Devassa e casta. Caça e caçadora. Viva. Viva!!! Viva!!!!!!!!!!!!!
Neste ano que se inicia, tenho apenas um grande desejo: que nosso caminho de cumplicidade seja eterno e que eu possa estar aqui, ano que vem, desejando tudo isso outra vez.
Te amo, vida.

Como é grande, o meu amor por você.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Sofrimento e infelicidade



Sofrimento e infelicidade
Silvia Britto

Sofrimento... Infelicidade... 
Hoje me peguei pensando no significado dessas duas palavras que parecem confundir-se mas, na verdade, não cruzam o caminho uma da outra. Pelo menos, não necessariamente.
A infelicidade, ou seu oposto, a felicidade, é um estado de espírito, é opcional. Já o sofrimento, é inevitável, imposto e necessário ao crescimento em qualquer situação, seja fisicamente, para superar os limites do corpo ou emocionalmente, para driblar as sandices do amor. Se eu pudesse, não optaria por sofrer em momento algum. Coisa ruim! Entretanto, se não sofrer, como crescer?
Tudo fica mais fácil quando entendemos que a felicidade é um modo de viver e não um objetivo na vida. Eu sou feliz. Agradeço à vida pela oportunidade de poder ver o amarelo dos girassóis, sentir o doce das frutas, desfrutar do calor do sol lambendo meu corpo e morrer de paixão ao encontrar outros lábios, cheios de amor, procurando pelos meus. Não temos o direito de ser infelizes diante de tamanho presente.
Contudo, também vivo momentos de dor. Não se pode evitá-la. Doem, aqueles que tem coragem de viver. Sofrer não é para os fracos. Esses apenas acham que sofrem e usam esse sentimento para chantagear sua vizinhança e conseguir, de forma mesquinha e falsa um pouco do mel das colmeias que não lhes pertencem.
Não posso admitir que me digam que sou uma pessoa infeliz. Isso seria, no mínimo, duvidar da minha inteligência e incapacidade de ver a luz da minha alma. Muito menos,  posso concordar que cultivo a infelicidade. Sou feliz. E muito! Sou feliz porque, apesar de tanto sofrimento, vejo um mundo de alegria. E que trabalho que me dá optar por essa tal felicidade!
Em outras palavras, não sou infeliz mas passo por momentos de dor e sofrimento. Às vezes, até desnecessários. Há situações que não dependem só de mim para que a dor me invada. É inevitável! Como reagir quando se perde um grande amor? Ou quando a saudade de alguém que nunca mais poderá estar conosco apertar? Como sorrir, se a dor de uma palavra parecer cortar nossa dignidade ao meio, com fio de aço? Como não doer a falta de um abraço apertado?
Repito: sofrimento é um mal necessário para que momentos felizes prosperem. Posso sofrer sem ser infeliz. Isso é muito mais comum do que se pensa. O que não posso é  me dar ao desfrute de ser infeliz. Isso, jamais!

Resumo da ópera: eu sofro mas eu sou feliz. E agradeço muito por isso!


terça-feira, 24 de novembro de 2015

Entre peitos e bundas



Entre peitos e bundas
Silvia Britto

Sou mulher, desde que me entendo por gente. Porém há momentos em que me incomoda um pouco ser parte desse grupo. Sei que nem todas são iguais, mas a competição e tentativa de “puxar o tapete” uma da outra é algo que, por muitas vezes, me enoja. Acho que é a minha parte “gente” que fala mais alto nessas horas.
Não digo que não faço lá minhas críticas também. Mas confesso que as faço quando atingida por idiotices que, não nego, tiram-me do sério. É o meu lado defesa que fala mais alto. Para se ter uma ideia, até meus olhos já foram acusados de serem falsos, de serem lentes de contato, como se ter olhos claros fosse algo que ameaçasse a integridade dos que não os têm. Pois eu conheço muitas mulheres (deixemos os homens fora disso, por ora) de olhos azuis e verdes que são mais feias que o capeta, principalmente internamente, em seus preconceitos e ignorâncias.
Constantemente, pode ser entreouvido por aí, quando a beleza de alguma linda mulher é colocada em questão: “Ah! Mas ela colocou silicone nos peitos! A bunda também foi comprada! Não percebem que faz chapinha no cabelo?”. E eu pergunto: e daí? E daí se temos recursos para mudar a cor dos cabelos, tirar pelancas extras da barriga ou do rosto, ou até mesmo fazer depilação definitiva para remover pelos anti-higiênicos e indesejáveis?
Particularmente, aos 17 anos de idade, fiz redução dos seios e isso mudou minha vida de adolescente deprimida para jovem mulher autoconfiante. E alguém ainda tem coragem de dizer que não o deveria ter feito? Que o bonito é ser natural? Que atire a primeira pedra a mulher que nunca pintou as unhas! Ou terão elas nascido vermelhas? Ou ainda, aquela mulher que nunca usou maquiagem! Ou será que os lábios nasceram mais rubros do que a maçã da branca de neve?
As falsas loiras, criticam as “luzes” das morenas. As morenas, criticam as sardas das ruivas. As ruivas, criticam o tamanho agigantado das bundas das mulatas... Affff! Quanta pobreza de espírito, sisters! Cansa-me ter que ver a que ponto hipócrita chegou nosso senso de beleza e inveja.
Porém, desconfio que o buraco seja mais embaixo. A crítica não vai aos cachos do cabelo ou ao tamanho dos seios e bundas. A crítica vai como uma forma de tentar sentir-se superior, de alguma forma, ao sucesso que a outra faz. O que incomoda, de fato, não é a bunda ou os seios, e sim a inteligência, o charme e aquele “quê” a mais que algumas mulheres possuem. Isso é inato! Não há como comprar simpatia na farmácia. Muito menos, sedução em bisnagas de tinta para o cabelo.
Há mulheres que, sem nenhuma maquiagem, sem penteados elaborados, sem roupas de grife e sem bolsas Louis Vitton, chegam e abalam qualquer ambiente. E essa beleza interior incomoda demais. Tanto, que as invejosas se pegam com fervor no silicone do peito e nas celulites das pernas para tentar compensar o que nunca terão: charme e luz própria!
Portanto, “critiquetes” de plantão, antes de julgarem a chapinha da outra, deem uma olhada em seus livros nas estantes, em seus discos, seus quadros nas paredes, suas fotos de viagem, a quantidade sincera de pessoas que querem o seu bem, na sua forma de expressar-se e escrever, no seu jeito de inserir-se nos problemas do mundo e na sua capacidade de passar de um papo “cabeça” ao não pensar em nada e deixar-se levar pelo som do “Charme” nas pracinhas dos subúrbios cariocas.
Por favor, não me venham falar de peitos ou bundas! Ou vocês acham que eles serão eternos? Olhem dentro dos meus olhos e tentem ver um pouco mais além da cor. Eles dizem muito mais do que sua vã ignorância as deixa ver.


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A fada invisível


A fada invisível
Silvia Britto

Ela era apenas uma mulher como todas as outras. Dessas que tem uma família, filhos, netos, cachorro no quintal, papagaio na varanda. Apenas não tinha papagaio. Tampouco netos. A filha há muito já a abandonara por força do destino e caprichos da vida e a cadela, cega num canto, quase não mais se fazia notar.
Fora uma mulher bonita, ainda se podia notar pelo brilho dos olhos que pareciam teimar em não perder o encanto quando, esporadicamente, a encontravam no espelho. Não era uma mulher material. Não guardara consigo as joias, sapatos ou roupas de grife que tivera a oportunidade de um dia usar. Despiu-se de tudo, quando optou por ser uma mulher livre e aberta para o amor. Estranhamente, sentia-se melhor assim, nua de objetos que apenas pesavam na sua busca pela real felicidade.
Porém, o destino não foi capaz de dar-lhe a felicidade plena pela qual sempre lutara. Em alguns recôncavos do seu caminho, ainda sentia-se incompleta, inapropriada e até mesmo ensaiava sentimentos retorcidos de mágoa pelas injustiças que a vida lhe impunha.
Costumava levar sua vida através de sua janela, compartilhando da felicidade barata e genuína de vizinhos e transeuntes costumeiros, a quem chamava, internamente, de amigos. Vibrou quando o namoro do portão em frente resultou em uma linda aliança nos dedos dos jovens suspirantes. Chorou de emoção quando o filho da balconista do armarinho formou-se doutor. Comeu com prazer o pedaço de bolo do aniversário de 15 anos de Aninha, a menina especial, que morava no fim da rua.
Hoje acordara um pouco mais emocionada que de costume. A família que morava ao pé da ladeira e que sempre a hostilizara por confundir sua vida livre e corajosa com, talvez, algum tipo de prostituição vulgar e ameaçadora aos bons e hipócritas velhos costumes, estava em festa. Havia uma movimentação natalina, misturada aos usuais sons de brigas e desentendimentos que de lá partiam e refletiam a vida dos que teimam em manter-se dependentes de velhos padrões de comportamento em que cada um é por si e Deus, por todos.
Apurara a audição e podia ouvir, nitidamente, o choro de uma nova criança, abençoando aquele lar e trazendo mais vida e continuidade àquela família que, apesar dos preconceitos inerentes ao que lhes é inesperado, também sorria e chorava de emoção. Era um choro de menina. Uma princesa chegava, trazendo sua contribuição de luz, orgulho e alegria para aquele lar.
Desta feita, ela nada podia fazer a não ser observar, invisível, de longe, a emoção que emanava da casa. Sentiu-se estranhamente feliz e também orgulhosa, como se fizesse parte daquele núcleo fechado à sua existência. Abriu os olhos do seu coração generoso e acolhedor e pode ver, com eles, as feições da linda vida que despontava. E sentiu-se madrinha. E sentiu-se fada.
E, como todas as fadas madrinhas, também fez suas profecias, embora de longe, à gentil princesa:

“Tu serás bela, serás graciosa, terás o encanto puro da rosa. 
Eu profetizo nesse momento, na tua chegada, grande talento. 
E te desejo, com meu condão, que tenhas sempre bom coração”.


Que Deus a abençoe, linda criança.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Espinha quebrada


Espinha quebrada
Silvia Britto

E mais uma vez a vida me pôs de castigo. Se uma vez quebrou meu sorriso para que eu aprendesse a sorrir, desta feita, quebrou minha coluna para que eu aprenda a manter a minha postura, sem me curvar ao que não me parece lógico.
Até aqui, minha vida tem sido um eterno cuidar, facilitar, ajudar, corresponder, arrumar. Sempre declinei do meu direito de também ter fraquezas e desejos. Carregava, sem parar para pensar, o peso do mundo nas costas. De tanto me curvar, está aí o resultado: minha coluna quebrou!
Passei quase uma semana de cama, quase imóvel, de castigo, obrigada a pensar e refletir sobre o meu comportamento. Descobri que há muita coisa certa e corajosa em minhas atitudes. Entretanto, fui forçada a admitir que há muitos equívocos na visão que tenho da vida.
Equívoco número um, é esperar que me cuidem da mesma maneira com que me dedico a cuidar de quem de mim precisar. Nem todo mundo é um “cuidador universal” como eu. Não tenho limites para a minha entrega. Choro, esperneio, grito e tenho uma coragem até imbecil de demonstrar minhas emoções e frustrações. Exponho-me sem a menor preocupação com estratégias de autoproteção.
E com isso, vou deixando que pesos enormes acumulem-se sobre o meu lombo. Às vezes por ingenuidade, às vezes por medo de magoar aos que me cercam. Medo esse, falso, perverso, que prejudica apenas a mim mesma, pois os outros, nem percebem a suposta proteção que lhes dediquei.
Lamento por não ter sido capaz de assumir meus desejos de forma mais rápida e lúcida. Vivia perdida, à deriva, em um mar que insistia em chamar de injustiça. Nada mais somos do que o reflexo das nossas escolhas. Tudo que acontece em nossa estrada, de certa forma, é uma escolha nossa. Portanto, não há que se falar em injustiça.
Da minha estrada, não tenho dúvidas. Amar é assumir a liberdade de ser feliz. Liberdade essa, que chega quando perdemos a necessidade de querer impressionar o mundo com nossa força ou flexibilidade diante dos problemas que parecem fazer fila, esperando o momento certo de furar os nossos sinais internos de proteção.
Ainda tenho muito que percorrer até sentir-me plena pois, infelizmente, isso não depende só de mim. Desconfio até que nunca o serei. O foco, mais uma vez cai no velho clichê de viver um dia de cada vez.
Se essa é a única solução que parece ser lógica, no momento, é hora de despir-me das expectativas que crio em torno do que é ser feliz. É hora de tirar o manto de mulher forte, que pode receber o peso do mundo nas costas. É hora de pedir água e um tempo para pensar e reformular o conceito de felicidade. É sabê-la infinita enquanto dure mas ter plena convicção de que é passível de fim. Novamente, é viver o tal dia de cada vez.
Quem sabe assim, mais leve, minha coluna consiga seguir, ereta, um pouco mais, por esta estrada adentro? Vou seguir o conselho do sábio confrade Botafoguense, o Zeca, deixando a vida me levar, sem nunca perder o meu já famoso rebolado, aquele, que é mais que um poema.

Preciso ir às compras: um pouco mais de espinha, por favor!

Reformular e recomeçar é preciso!

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O poder da loucura


O poder da loucura
Silvia Britto

Às vezes me pego pensando, em madrugadas perdidas tentando entender o que a vida quer de mim, e hoje, um lampejo me veio à mente, já cansada e muito abatida de tanto procurar nexo para a minha existência. Já pensaram na força que a loucura e os loucos têm?
Não raro entreouvir-se por aí que fulano é louco, sicrano surtou, fulaninha é maluca. E isso, sempre vem acompanhado de um sentimento de desistência por parte de quem fala, como se estivesse justificando que as atitudes dos fulanos e sicranos é normal diante de sua loucura.
E nós, os sãos, como ficamos? Perdemos, constantemente, as batalhas pois, contra a loucura não há argumento. Falar com alguém cego por suas sandices  internas é como tentar enxugar gelo. Remamos, remamos, remamos e não saímos do lugar.
Eu, por temperamento ou teimosia, passo horas tentando argumentar com os pirados que cruzam o meu caminho e, inevitavelmente, termino exausta e com um sentimento enorme de impotência e incompetência em me fazer ouvir.
Não sou de largar o osso fácil, em nenhuma situação em minha vida. Isso me traz muitas vitórias, como o cargo público que conquistei  quase que na unha e à base de muito esforço, mas também me traz muitas noites mal dormidas, muitas dores de cabeça e muita dúvida em relação à minha própria normalidade. Sim, porque só um louco debate tanto tempo com outro louco.
Estamos rodeados de pessoas que vivem em mundos paralelos e deturpam os fatos da vida real como se vivessem no mundo da Alice, a das maravilhas. Suas realidades são tão ébrias e equivocadas que, às vezes, não vejo nem como começar um argumento. Por vezes, vejo-me embrenhada a tal ponto, que fico na dúvida se a louca de verdade não serei eu.
E os loucos da minha vida acabam sempre me vencendo, sugando minhas energias e minha tão desejada paz, que vivo buscando e que sempre me dá olé e escapa-me das mãos como um porquinho ensaboado correndo na lama.
Acho que eu deveria começar a rasgar dinheiro, comer cocô e também jogar  minhas inseguranças e dificuldades no colo dos outros para me sentir um pouco mais fortalecida. Só assim, talvez eu pudesse ter a força de que preciso para conseguir sobreviver nesse mundo de loucos em que vivemos.
Manter-me sã, em nada contribui para o meu bem-estar. Quanto mais tento manter meus pés no chão para dar a mão aos meus malucos de plantão, mais sou sugada pela areia movediça em que eles se encontram e parecem ter prazer em ficar. Quanto mais me entrego, mais me sugam. E esse movimento louco de puxar, segurar, aguentar firme, está me deixando sem noção de qual atitude tomar para manter-me intacta e com a cabeça fora d’água. As mãos que me acenam são muitas e vêm de todos os lados.
 Infelizmente, aos 52 anos de idade, ainda não fui capaz de encontrar um porto seguro para me amparar e me dar colo. Tenho certeza de que esse depoimento provocará mais revolta do que entendimento mas, como disse há pouco, em outro texto, se eu calar minhas palavras e meus textos, aí mesmo é que afundo de vez.
Uma revolta a mais, uma a menos, um grito aqui, outro ali, isso tudo parece que não pesa mais tanto em meus ombros. Simplesmente, pelo fato de perceber que, nada do que eu faça  ou diga, é capaz de impedir as revoltas e cobranças que me cercam de todos os lados.
Acho que estou começando a ganhar força na loucura também e desconfio estar embarcando no navio confortável da insanidade. Não sei. Será? Sou uma louca passando por sã ou uma sã que sucumbiu à loucura? Não sei. Diga-me quem for capaz.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O retorno às letras


O retorno às letras
Silvia Britto

Ok. Deixem eu respirar fundo, pois passei muito tempo longe das minhas letras, palavras e textos que tanto me encantam. Perdi um pouco a mão para escrever e as teclas ainda estão inseguras com esse meu retorno.
Infelizmente, há momentos em que a vida nos impõe certas atitudes e nada podemos contra ela. O mesmo trabalho, que lutei tanto para conseguir, acabou interferindo na minha positividade e fluidez de viver e brincar. Mas acho que chegou a hora de colocar esse cargo no Ministério Público no lugar dele: muito importante na minha vida mas, nem de longe, o centro dela!
Também não posso culpar apenas o trabalho pela minha ausência. Andei  meio perdida por aí, com complexo de super-heroína, achando ser a responsável pela paz de espírito e felicidade de outras pessoas. Era um apartamento que eu tinha que desocupar, uma filha que eu tinha que deixar amparada, uma irmã para ser cuidada, um amor que precisava sentir-se seguro. A lista não é pequena. Amigos, família, muita gente por quem me julguei diretamente responsável.
A verdade é que, nesse afã de salvar as pessoas, acabei me afogando em mim mesma. Passei meus dias preocupada em corresponder a todos e a tudo, esquecendo de cuidar da minha alma e da minha essência. Não brincava mais e as lágrimas, já tão conhecidas por  quem me conhece, caindo mais por tristeza e cansaço do que por alegria. Isso não está certo.
Chega de culpar os outros pelas minhas lágrimas e atribuir meu desconforto a causas externas. Se choro, é por culpa única e exclusivamente minha, que não soube me defender de energias que não me pertencem. Se me sinto  injustiçada, é pela minha falta de energia para blindar minha alma para fatos que não me pertencem ou que a mim são imputados de forma irresponsável  e sem fundamento.
Por esse tempo que parei de escrever, fui subornada pela insegurança, ganhei entrada gratuita para o show da tristeza e fui sondada pelo ciúme, que veio de mãos dadas com a baixa-autoestima. Ofertas muito tentadoras, quando se está em um momento de transição na vida. Estou, mais uma vez, tendo que reinventar o meu mundo.
Não adianta. Não posso ser responsável pela felicidade de ninguém. Já tenho um trabalho danado em manter-me íntegra para quando precisarem de minha ajuda, no que estiver  ao meu alcance. E disso me orgulho. Nunca desisto de pessoas que sinto estarem aí para contribuir com minha alegria e felicidade. Ainda estou em aprendizado de deixar partir as que em nada me fortalecem. Mas, aos poucos estou apurando meu faro para detectá-las.
O maior bem que posso fazer pelos que me cercam é ser eu mesma. Não adianta querer ensinar alguém a voar empurrando-o montanha abaixo. O melhor caminho é que eu voe, linda e solta, com essas asas lindas que Deus me deu. O melhor ensinamento é o exemplo. Se eu recolher minhas asas e deixar com que as lágrimas de tristeza as molhem, não deixarei ninguém, que realmente se importa comigo, feliz e muito menos farei a diferença na vida de ninguém. Nem na minha! Voarei livre e pousarei, linda e faceira ao lado do que me faz feliz, sem me deixar caçar pelas armas das carências e inseguranças de outrem. A melhor forma de me comportar é deixar bem claro que, se pousei, foi porque eu quis e nada me forçou a isso.
Fato é, que estou de volta ao teclado e não posso negar nem esconder a grande alegria que isso me dá. É como se a vida estivesse em stand by, esperando o momento em que eu voltaria a brincar. E isso me deixa imensamente feliz.

Vamos brincar de viver e  escrever?


quinta-feira, 30 de julho de 2015

Mais uma conquista


Mais uma conquista
Silvia Britto

E não é que eu consegui?
Ainda estou sob o efeito da notícia e, às vezes, penso até estar sonhando. Mas é verdade! Em poucos dias, serei a mais nova servidora do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro! Pelas evidências, tenho que convencer-me de uma vez por todas, de que não sou apenas um rostinho lindo em uma personalidade encantadora, rsrs.
Há coisa de 5 anos, minha vida deu uma guinada de 180 graus. De repente, eu era uma mulher só, com lindas lembranças de um casamento que durou 30 anos mas que chegou ao seu destino, sem amigos, que, inevitavelmente acabam afastando-se dos recém separados, sem emprego, e com uma irmã e uma filha para cuidar. Parecia que o mundo abria-se sob meus pés.
Parei, pensei muito, e a única coisa que me restava, além da alma inconformada com a acomodação e a alegria de viver, era uma viva lembrança de uma menina estudiosa, caxias e CDF, que amava estudar, estava sempre tirando notas boas e que tirou de letra o período acadêmico.
Decidi, então, tomar essa vantagem e dom que a vida me deu a meu favor. Tornei-me uma estudante profissional! Ingressei no mundo dos concursos públicos. Estudei muito. Assim como em tempos de escola, não faltei a uma aula sequer. Esforcei-me. Fiz amigos eternos e companheiros ao longo dessa jornada árdua. E acabou compensando. Prestei, finalmente, o concurso que seria a minha passagem para uma nova vida, independente financeiramente e cheia de orgulho próprio, por ver que minha luta não fora em vão.
Estranho é perceber que, até mesmo quando a vida nos é generosa, ela não é fácil. Depois de uma certa idade, não  existe ganho sem perda. Por um lado, a grande felicidade e orgulho pela minha conquista e, por outro, a grande tristeza de ser obrigada a deixar para trás o meu amor, meus amigos e, acima de tudo, minha filha querida.
Ela foi, por 18 anos, minha amiga, confidente, cúmplice e companheira. Por mais que eu saiba que ficarei fora por apenas um ano, nada mais será como antes. Ela cresceu e o ciclo de morarmos juntas, como mamãe e filhinha, chegou ao fim. Com certeza, continuarei mamãe e ela, filhinha. Mas não acredito que isso se dará, novamente, sob o mesmo teto.Por mais que me doa, tenho que aceitar que essa hora chega para todos. Só estranho que serei eu a abandonar, por força das circunstâncias, o lar. Coisas dessa tal de vida...
Apesar dos pesares, inicia-se mais uma fase na vida desta mulher, sem noção, petulante e guerreira, que nunca abaixará a cabeça à acomodação. Que minha luz me ilumine e que eu continue sempre colhendo os frutos de ser quem sou.
Deixo com vocês um grande abraço e a certeza de que todo sonho é possível se você desejar de verdade.
Até!

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Por fim te encontrei


Por fim te encontrei
Silvia Helena

Procurei-te no menino empoado
Que descia a ladeira
Em desabalada carreira
Montado em sua Caloi

Procurei-te nos bailes adolescentes
Onde em minha inocência faceira
Saia a dançar ligeira
Com meus falsos heróis

Procurei-te no professor de Literatura
A cuja poesia feiticeira
Me entreguei, quase inteira
Não me quis. Mas não dói.

Procurei-te nas praças
De todas as cidades do mundo
Procurei-te nos bares
De todas as esquinas da vida

Perdi-me cansada
Em desabalada carreira
Até que ao subir, cabisbaixa, a ultima ladeira,
Uma rampa vestida com alvinegra bandeira,
Por fim te encontrei. Te salvei meu herói

Andei, procurei
Só te encontrei em ti.
Te amo
E fim.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Hoje é sexta-feira


Hoje é sexta-feira
Silvia Britto

Este texto foi escrito há uns dois anos, quando eu teimava em não me render à acomodação que teima em nos rondar pela vida afora. Mais uma prova que a rebelião pode dar certo! Hoje, eu até chego a sentir falta de tanta tranquilidade! Rsrsrs

Hoje é sexta-feira, bosta!
Se você quer saber o que estou fazendo em casa, ao invés de estar na night, dançando, encantando a todos com meu rebolado, que é mais que um poema, saiba que eu também não tenho a menor ideia, bosta!
Também poderia estar em casa, mas degustando um delicioso vinho em um romântico jantar, à luz de velas, com Frank Sinatra cantando ao fundo. Mas também não é o que a vida destinou-me para hoje, bosta!
Sei lá! Já perdi a conta das sextas-feiras que passo em casa, tentando imaginar a razão de ser esse o meu destino. Nelson Rodrigues dizia que, sexta-feira é o dia em que a virtude prevarica. A minha resolveu ser santa e não pecar, bosta!
Sexta-feira chega mais rápido que Natal! Mas isso apenas para os que sempre ficam em casa, tentando consolar-se pensando que a vida é mais do que uma eterna festa. Eu não sou dessas! A vida é para ser festejada diariamente, principalmente na sexta-feira, bosta!
A sexta-feira chegou, bateu na minha porta e perguntou se poderia entrar. Eu respondi que sim, mas só se for rapidamente. Tenho novela para acompanhar, Globo Repórter sobre os avanços nas cirurgias cardíacas das antas para assistir e uma garrafa de vinho para terminar. Porque hoje, metade de mim é vinho e a outra, torradinhas com queijo. Afinal, as uvas que fizeram o vinho daquele jantar romântico estavam verdes e o Sinatra, rouco! Bosta!

quarta-feira, 1 de julho de 2015

E ninguém cala este chororô


E ninguém cala este chororô
Silvia Britto

Antes de começar, faz-se importante esclarecer que não escrevo este texto por estar deprimida ou triste. Longe disso! Estou em uma fase de muitas realizações pessoais e a vida me tem sido muito generosa.Talvez esteja apenas um pouco incomodada comigo mesma por pegar-me tentando secar minhas emoções e ser menos do que eu sou. Não posso engolir meu choro e minhas inseguranças, sob o risco de morrer sufocada pelos mesmos.

Chorar, muitas vezes, é interpretado como carência.
Ser carente é nunca estar completo, é nunca ser capaz de estar contente.
Ser contente é sentir-se pleno. E isso, eu sou, pelo menos em relação à realização dos meus desejos e sonhos. Apenas os merecedores têm esse privilégio.
Obviamente, não tenho controle sobre a realização desses sonhos da maneira com que os imaginei. Mas procuro aceitar que meus sonhos também dependem de outrem e que ninguém pensa ou sente como eu. Somos únicos na nossa idealização de felicidade. Melhor seria dizer de "momentos felizes", pois já me convenci de que felicidade eterna não existe. Vivemos da lembrança e da expectativa de momentos felizes.
Infelizmente, (ou felizmente!) não me contento com pouco ou com partes. Dou muito, sou muito, busco muito. Só consigo contentar-me quando recebo de volta, pelo menos, a tentativa do retorno dessa entrega. Consequentemente, sou confundida com uma mulher carente, para quem nada parece ser suficiente. Sou muito teimosa na busca por essa cumplicidade.
Nem todos nasceram com parafusos a menos como eu. Doar-se, entregar-se, mergulhar de cabeça, é para os desmiolados ou para os que não se furtam à intensidade que a vida, em sua brevidade, merece. Não meço esforços para fazer feliz a quem amo. Mas essa sou eu! Meu tempo é o aqui e o agora. Tenho que aprender a respeitar o tempo alheio e até mesmo que esse nunca chegue.
Constantemente, minha intensidade transborda e é tida como ridícula ou como algo a ser ignorado. Sou tomada por carente ou dramática quando abro o berreiro para não deixar minha alma acomodar-se a menos do que acho que mereço. E sigo ouvindo, com o coração apertado pela falta de carinho e clareza do que venho a ser eu:

- Lá vai ela de novo, a bipolar! A "quadripolar"!
- Ela precisa do choro para ser feliz!

Triste é perceber-me engolindo as lágrimas para não perturbar os que não as entendem. Mas é uma luta perdida para mim. Nunca irei me satisfazer com a mediocridade da injustiça. Choro, esperneio, mudo tudo de lugar, ando de costas, de cabeça para baixo, pulando em uma só mão. Saio toda ralada dessa aventura que é viver, mas não deixo situações de provação vencerem meu direito à felicidade.
Quando digo que choro muito, creiam, não é por carência. Choro por tristeza, felicidade, por prazer. Choro por transbordar a intensidade da minha coragem e ânsia de justiça. Sei que posso, muitas vezes, estar equivocada na minha interpretação do que seja justo. Mas para isso existem as palavras e as conversas. Sei mudar de ideia, não sou cabeça-dura. Isso seria burrice e tenho, sem falsa modéstia, plena convicção de que burra não sou. Tola sim! Sonhadora também! Mas nunca burra.
Chorar é expressar-se e expressão é sinônimo de superação.
Portanto, sinto muito se incomodo mas:

- Cala o choro já morreu! Quem manda no meu choro sou eu!

BUÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!!!!!!!!!!!!!


quinta-feira, 21 de maio de 2015

Parabéns ao meu amor


Parabéns ao meu amor
Silvia Britto

O tempo passa.
E com ele vêm os cabelos brancos, as rugas, as lembranças e as milhares de pequenas histórias que formam a imensa colcha de retalhos que somos nós.
Em dois dias você completará 60 anos de vida. Como não poderia deixar de ser, ainda mais se tratando de você, essa vida está repleta de lindas histórias, alegres e tristes, emocionantes e cômicas, mas todas trazendo a sua marca. Todas marcadas pela sua intensidade, emotividade, determinação e inteligência.
Você foi o filho que buscava caruru no mato para ajudar na mesa humilde de outrora. Que saía pelas ruas e não conhecia fronteiras montado em sua bicicleta. Levava duros castigos do pai, com quem aprendia, sem sentir, a ser um homem de verdade. Sentava à mesa na excitação antecipada de um delicioso, reconfortante e inesquecível ensopadinho de berinjela. Um filho que seguiu seu destino, guiado pelas mãos de seus pais, de forma íntegra e com muita coragem.
Também foi, e ainda é, o pai que não mede esforços, lágrimas, dores e gritos para mostrar o melhor caminho aos seus filhos. Não é fácil a tarefa de ser justo e amoroso ao mesmo tempo. Muitas vezes, isso é encarado como injustiça no momento dos conflitos e confrontos.  Contudo, o reconhecimento pelo amor incondicional, aos filhos dedicado, sempre encontra o seu caminho de volta.
E esse retorno do amor vem na forma de netos. Com os netos, a certeza da sua continuação e a grande alegria de receber em seus braços aqueles que representam a imensa gratidão dos seus filhos pelo homem e pai que você sempre foi. E você baba. E você chora. E você acalanta os seus pequeninos trazendo-os ao peito, fazendo-lhes cócegas para extrair as gostosas risadas e para escutar as doces palavras: “- Para, VOVÔ!”. E, ao contrário dos filhos, os pequenos não se poupam do grande prazer de falar, olhando em seus olhos, o quanto te amam. Mas você, como homem inteligente que é, percebe o coro de amor e gratidão sendo engrossado pelas lágrimas contidas nos olhos de seus filhos quando presenciam esse momento.
Dos amigos, só escuto elogios. Você tem um magnetismo pessoal tão grande que é impossível passar por algum lugar sem que o ambiente todo ilumine-se ao seu redor. E de todos os cantos, ruas e lugares por onde andamos, pipocam pessoas para enriquecer as histórias da sua vida. Todos, sem exceção, te chamam de irmão. E tudo que você sempre fez para ser amado dessa forma, foi ser você mesmo. Essa explosão de alegria, otimismo e generosidade, inerentes aos grandes homens.
E eu, chegando de repente nessa intensidade de vida que é, e sempre será, você, sinto-me honrada de ser tomada em seus braços no melhor abraço que já conheci neste mundo. Um abraço inesquecível, testemunhado também por todos que tiveram o privilégio de esbarrar com você nesta vida.
 E foi assim que te encontrei... De braços abertos para receber todo o amor que eu tenho para lhe dar e que você muito merece receber. Tenho o imenso privilégio de acordar entrelaçada a esse homem maravilhoso e de ser saudada, todos os dias com o som da sua linda voz, sussurrando aos meus ouvidos: “-Bom dia, meu amor... Eu te amo”.
Você é o filho do qual eu me orgulharia, o pai que eu sempre quis ter, o avô que me faz gargalhar com a sua inesgotável reserva de piadas e brincadeiras e o amigo que faz com que eu sinta orgulho de ser quem sou e de tê-lo ao meu lado.
Porém, acima de tudo isso, você é o amor que sempre busquei e que já estava prestes a desistir de encontrar. Quis o destino que você ainda pudesse ter a grande alegria de ouvir um “eu te amo”, sincero e apaixonado, de uma mulher que não mede, e jamais medirá, esforços para te fazer feliz. 
Eu te amo, meu Ronaldo. Tenha a certeza de que agora, até o fim da sua estrada, você sempre me terá ao seu lado cuidando de você e tentando retribuir ao grande cuidador que você foi durante toda a sua vida.  Dê-me sua mão e vamos juntos, pela estrada afora, fazendo um enorme barulho e soltando os fogos do nosso amor pelas praias, bares, sambas e partidas de futebol  do nosso amado Glorioso.
Parabéns, meu grande amor! Pela vida linda que você é, pelo homem que você carrega no seu peito, pela criança que escapa pelo seu sorriso e pelo amor que você transborda no seu coração. 
Termino com um clichê, que como todo bom clichê, transborda de tanta verdade:

- O aniversário é seu, mas o presente é nosso!

Eu te amo. Para sempre e mais um ano!

Sua,

Silvia.


quarta-feira, 22 de abril de 2015

A idade da justiça


A idade da justiça
Silvia Britto

Não sou especialista em segurança pública, tampouco socióloga. Porém, muito tem me irritado esse discurso sócio-paternalista contra a redução da idade penal para os nossos doces marginais.
Muitos dizem acreditar que seja apenas a ação oportunista de alguns políticos para dar uma resposta à população com relação à sua inércia e incompetência de coibir a violência que assola nosso Brasil varonil. Concordo com eles, até certo ponto. Mas, neste caso, funcionaria, de fato, como uma maneira  mais fácil e direta de tentar diminuir a impunidade que reina sobre as nossas cabeças.
Na minha simplória opinião, penso que, se alguém é capaz de articular um crime, manusear uma arma, praticar um roubo, também é perfeitamente capaz de ser punido por isso. Sem essa de que eles são vítimas de uma sociedade desigual! E os que, vivendo em situações de até maior privação, não se corrompem? Devem esses últimos entender que estão bancando os otários e que o crime, na verdade, compensa?
Fazendo uma analogia, devem os pais punir as deficiências, desobediência e agressividade dos filhos ou devem, simplesmente, assumir a culpa e aceitar que foram eles mesmos os responsáveis pela má conduta de sua cria e deixá-los livres para reincidir? Afinal, o "poder superior" está aqui para dar um rumo certo aos nossos futuros cidadãos, ou para ser conivente com suas más condutas? Palmadas bem dadas, só não deu quem teve a sorte de ter anjos como filhos, e não capetinhas levados pedindo limites, como foi o meu caso.
Do jeito que está, os jovens contraventores têm cada vez mais certeza de que o crime precoce é uma grande saída para que façam sua breve aposentadoria aos 18 anos. Não há dúvida de que é preciso investimento em educação, em saúde e na integração familiar. Mas uma coisa não exclui a outra. Não é permitindo que cada quadrilha tenha seu "menor de estimação", para assumir seus crimes, que vamos resolver o caos generalizado em que vivemos. Cada problema, com a sua solução. Se, um dia, conseguirmos fazer nosso dever de casa e tornar as oportunidades, de fato, iguais a todos, como mágica, veremos que o número de menores infratores também diminuirá.
Sei que o sistema carcerário já está corrompido e deve ser reformulado urgentemente. Mas não é deixando futuros criminosos à solta que daremos fim à violência. Que tal, pelo menos começarmos a pensar em sistemas direcionados à  reclusão desses menores, obrigando-os a estudar e oferecendo ensino de qualidade dentro de prisões especializadas em recebê-los? Se não tiveram a sorte de ter pais que conseguissem lidar com suas deficiências de caráter, que o Estado assuma esse papel.
Portanto, podem estribuchar, soltar espuma pela boca, chamar-me de insensível e utópica mas sou ainda mais radical do que as propostas de lei. Acho que não deveria haver idade para a punição. Crime é crime em qualquer idade. Se uma criança de 7 anos mata seu amigo por vingança, é claro que é uma pessoa inapta para viver em sociedade.Se o que acham é que devemos passar as mãos sobre as cabeças dos doces criminosos e estupradores mirins, realmente, acho que estou no mundo errado.
Parem que eu quero descer!


domingo, 5 de abril de 2015

A coelhinha branca

A coelhinha branca
Silvia Britto

Certa feita, ainda na escola Rosa Castro, em São Luis do Maranhão, lembro-me de ter aprendido uma das melhores lições que a vida poderia me dar e que sempre trago comigo.
A ocasião era a Páscoa. Festa com todos vestidos de lindos coelhinhos! A turma estava alvoroçada diante do espetáculo que se aproximava.
Chegara a hora da escolha do "elenco" de coelhinhos. Haveria o azul, o amarelo e o vermelho também. Por conta dos meus sempre brilhantes olhos azuis esverdeados, fui escolhida para abrir o espetáculo, sendo o coelhinho azul. Seria a primeira a entrar em cena, seguida do amarelo e do vermelho também. Após essa abertura do "show" entraria o bando de coelhinhos brancos, com faces perdidas na multidão de "coadjuvantes".
Qual não era o meu orgulho! Sentia-me a "estrela" da trupe!
Porém, meu palco durou pouco. A neta da diretora, preterida ao papel "colorido" e destinada a ser apenas mais um dos coelhinhos brancos, abriu um berreiro de dar dó. Pelos pistolões da vida, acabou sobrando para mim, a troca de papéis. Perdi minhas lindas orelhas azuis. Fui de diva a figurante em questão de segundos. Lembro-me de não ter me dado por rogada e fingi estar tudo bem. Por trás, chorei até ficar com os olhos vermelhos, tais quais os dos coelhinhos.
O choro durou uma tarde, talvez uma noite.
Diante do inevitável, resolvi que iria fazer meu papel de coelhinha branca da melhor forma possível. Queria me divertir também! E assim fiz. Pulei mais alto que todos, empenhei-me nas barrigadas e me acabei de verdade nas cambalhotas, trazendo gargalhadas a todos os presentes. Acreditem, tudo que fiz foi abraçar meu "papel" com seriedade e empenho, independente do grau de importância a ele atribuído.
Felizmente, essa minha veia exagerada e palhaça, sempre me traiu, mesmo quando tentava passar despercebida. Ao fim do espetáculo, todos queriam saber quem era a coelhinha de lindos olhos azuis, engraçada e bundudinha que a todos encantara com sua entrega ao papel que lhe fora confiado.
Lição tirada: Não importa a missão que lhe for destinada. Faça-a com entrega, alegria e vontade, que até as "árvores" do cenário podem ter o seu valor reconhecido. Deixem a vida lhes levar! Mas sempre com alegria e nunca perdendo o rebolado. Eu nunca perdi o meu, o famoso "mais que um poema"!
Boa Páscoa!

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Celebrar o quê?

Celebrar o quê?
Silvia Britto

Sem brincadeira...
Não creio em religiões, mas, se eu fosse Jesus, estaria muito danada da vida!
As duas festas maiores do Cristianismo, seu nascimento e morte, são mais celebradas por causa de um velhinho com um saco cheio(?) de presentes e por um coelho que põe ovos(?) de chocolate?
Onde está o sentido dessa fé? Comer bacalhau na sexta-feira é suficiente para render-se homenagem a quem morreu por toda uma legião de seguidores?
De qualquer maneira, desejo uma boa Páscoa a todos.
Aproveito para desejar Chag Sameach aos meus amigos judeus que comemoram o seu Pessach.
Celebra a libertação dos escravos hebreus do domínio do faraó egipcio. A mais linda história de libertação que conheço. Liberdade essa, conquistada a duras penas, muito sofrimento, dez pragas e 40 anos vagando pelo deserto hostil a caminho da Terra Prometida. Não esquecendo que Jesus, como um bom judeu que era, também celebrava essa libertação e foi traído exatamente no seder (jantar) de Pessach, que, a partir daí, ficou conhecido, pelos cristãos, como a Santa Ceia.
Seja qual for a religião ou a história, essa é uma época de celebração da vida, de superação, de realização do que parece impossível. A fé está em cada um de nós, na nossa força e determinação de domarmos nossos fantasmas e passarmos por cima das nossas dificuldades em busca da liberdade. E liberdade sempre me emociona.
Que todos tenhamos fé e acreditemos no nosso êxodo rumo à felicidade, na morte das nossas limitações e na ressurreição da nossa boa vontade de fazer um mundo melhor.
Amém!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Nascer e morrer


Nascer e morrer
Silvia Britto

Mais uma dessas madrugadas...
Dizem que as madrugadas não foram feita para descansar e sim para pensar.
Verdade.
Mais uma vez estou eu aqui, falando sozinha, sem encontrar eco para as minhas palavras.
Falo sozinha. Para as paredes. Mas se quiser ser um pouquinho mais romântica, falo para a Lua, linda lá fora, ainda tentando dar-me um pouquinho da sua atenção.
De que adianta falar se as palavras não encontram um porto seguro onde repousar?
De repente, dei-me conta de que nascemos sozinhos e é exatamente assim que morreremos.
Sós nas nossas verdades, inalcançáveis aos que não nos querem ouvir por estarem embriagados por suas próprias verdades. Por aqueles que preferem o acalanto do sono às angústias e dúvidas que a realidade tem a lhes oferecer.
Realidade. Nada mais é do que um pesadelo que faz parte da vida dos que não querem ou não podem amar. Dos que não conseguem agarrar-se à linda viagem de sonhos que é a vida.
Nasci com esse dom, de saber amar. Com isso, sofro, sou mal interpretada e mal acreditada.
Nascemos sozinhos, vivemos nossas verdades sozinhos e, raramente, encontramos alguém que nos consiga ouvir.
A vida, quase que integralmente, segue fácil e tranquila quando optamos por viver apenas para nós mesmos.
Não é fácil e fico aqui, nesta madrugada, a pensar. Por que tudo tem que ser tão complicado? Por que a tendência universal é que sejamos tomados de acordo com a vivência de outrem, que insistem em não dialogar conosco e se mantém fiéis e reféns das suas crenças?
Como pode o mundo evoluir, o amor crescer e a vida tornar-se fácil e tranquila quando dependemos tanto da credulidade alheia?
Estou cansada de falar sem ser ouvida, de ver minhas belas palavras desacreditadas na sua veracidade.
Quisera fosse diferente. Mas qual! Vejo-me constantemente questionada na verdade de ser quem sou.
Que interesse teria eu de mentir? Já passei da metade do meu túnel. Já estou com idade suficiente para colher frutos e não para semear o meu futuro.
Por isso passei tantos anos descrente do destino. Não é dito que aqui se faz, aqui se paga?
Nada do que fiz foi com o intuito de cobrar. Mas questiono o motivo de nunca ser recompensada pelo imenso trabalho de ser quem sou.
Pelo jeito, é assim que tem que ser... Nascer, viver e morrer sozinhos, sem rascunho e sem borracha.

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