sábado, 31 de maio de 2014

Aonde tenha sol, é pra lá que eu vou


Aonde tenha sol, é pra lá que eu vou
Silvia Britto

Hoje, a tarde convidou-me a passear. Insistiu muito para que eu saísse de casa e fosse ver o por do sol na praia. A praia está tão pertinho de você, insistiu a vida em meus ouvidos.
E fui. Convidei a  menininha e a linda mulher que moram dentro de mim, e lá fomos as três para nada menos do que Copacabana. Eternamente, uma das mais emocionantes praias do mundo, se não pela sua eterna beleza de menina, pelo menos pelas lindas canções que a eternizaram.
Desci no Lido, posto 2, e fui caminhando em direção ao Leme, lugar que sempre me encantou e que serviu de palco para alguns dos melhores momentos de minha vida.
Logo que começamos a andar pelo famoso calçadão, a menininha sapeca já me implorou que lhe comprasse um picolé de limão. Assim o fiz, só para ver meu vestido florido maculado pelas gotas de seu picolé. Menina impossível!
Enquanto caminhava, senti nitidamente a presença da linda mulher, ao provocar algumas viradas de cabeça e alguns elogios por onde passávamos. E lá ia eu, equilibrada entre a ingenuidade infantil e a sedução, continuando meu passeio em direção ao sol.
Perto da pedra dos pescadores, ainda nos deparamos com um povo alegre, tocando um sambinha tímido mas nem por isso sem alegria, rodeado por alguns poucos gringos, provavelmente já ambientando-se para a Copa que se aproxima. Inevitavelmente, esse samba me trouxe saudade de um momento maravilhoso que vivenciei há algum tempo, também num passeio descompromissado pela praia. À ocasião, danei-me a sambar e brindei ao amor...
Enfim, chegamos ao último quiosque da praia e ali sentamos as três. Eu dividia um chope com a linda mulher enquanto a menininha esbaldava-se a correr pela areia, colocando, vez por outra os pezinhos no mar. Sapeca, essa danada!
E ali ficamos, compartilhando desse momento de equilíbrio e tranquilidade, a espera do adeus de mais um dia. Nem me dei conta de quando isso realmente aconteceu. O sol foi deixando de me aquecer e deu lugar a uma brisa fria que me dizia que era hora de retornar à vida real.
E assim fiz. Peguei o ônibus que me traria de volta, em seu ponto final, ali pertinho. Chegamos à nossa casa e eu dei um longo e demorado banho na menininha que já se pôs a dormir ao meu lado. Vim tentar eternizar mais esse lindo momento através deste texto enquanto a linda mulher nos serve de uma taça de um delicioso e suave vinho branco que ainda estava intacto na minha geladeira. E assim ficaremos as três, aconchegadas, esperando o nascer de um novo dia.

Com que roupa?


Com que roupa?
Silvia Britto

Com que roupa eu iria ao samba que não fui?
Não fui ao samba.
Não fui ao samba porque não tinha roupa para vestir.
Não tinha roupa porque, atualmente, só ando nua.
Desnuda, pois nada mais me cai bem, 
que não sejam os braços do verdadeiro amor.
Desculpe-me garboso cavalheiro que me tirou para dançar.
Perdoe-me por não o poder acompanhar.
O samba exige dois corpos presentes e o meu, não mais me pertence.
Não consegui transpor essa porta que me levaria à voz dos grandes poetas.
Não porque essa porta esteja trancada...
Não! Ela está escancarada!
E queres prisão maior do que não conseguir transpor uma porta escancarada?
Nada a ver contigo, ou com as rosas que me tentaste ofertar.
Apenas, meu coração não quer que eu seja de mais ninguém.
Quem eu quero não me quer e quem me quer, mandei embora.
Mas aí já muda o ritmo da dança...
Outro dia eu falo do Waldick.
Melhor será continuar no samba e terminar cantando:

Meu coração tem mania de amor, e amor não é fácil de achar.

Desculpe-me, galante cavalheiro, mas não tive roupa para ir ao samba que você me convidou.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Minha ronda


Minha ronda
Silvia Britto

Hoje acordei  totalmente sem foco pra vida, com vontade de cair no mundo, sair pra comprar cigarros e só voltar na segunda-feira, cheirando a pinga e perfume barato.
Há dias em que me canso de tentar ser a boa moça, aquela que tudo compreende, que tudo respeita , que tudo espera calada e resignada. Não! A vontade hoje é de faltar à academia, armar barraco, tomar café com pinga, comer no Mac um belo de um sandubão de carne vermelha, acompanhado por um pacote mega-hiper-extra-large de batatas fritas, bem trabalhadas no óleo, com Coca-Cola, e arrotar, sem pudor, na frente de quem resolver bancar o gaiato de me impedir.
Não bastando, à noite, ir acabar-me no samba, ou numa gafieira da vida, sozinha, para poder ter a tranquilidade de cair nos braços dos malandros e pés-de-valsa de plantão, tomando whisky com guaraná, deixando a ponta do band-aid, aparecer livre, no calcanhar.
Acordar, amanhã, na areia de uma praia qualquer, esperando o nascer de um sol qualquer, ainda vestida com um lindo e brega vestido de cetim verde, para combinar com os olhos verdes, já todos borrados pelo efeito das lágrimas no rímel barato.
Pelo calçadão, algum vendedor de quiosque se apiedará de mim e oferecer-me-á uma água de côco para limpar minha alma. Aceitarei, mas não deixarei de perguntar: tem pinga?
E assim seguir pelo dia, perdida pela cidade, pedindo as “vinte” de cigarros baratos, comendo torresmo pelos bares, até que a noite chegue e eu possa retocar a maquiagem, em um banheiro público, só para ser mais uma vez a bailarina Esmeralda nas Estudantinas da vida. E o band-aid? Continua lá, firme e forte, no calcanhar...
Esta não é uma carta de despedida ou um atestado de insanidade mental explícito, já que, implicitamente, não haja mais dúvidas quanto à minha anormalidade. É apenas uma vontade de fazer tudo errado para ver se as coisas começam a dar certo. O que tenho visto é que, fazendo tudo certo, a vida acaba por me dar o lugar dos conformados e dos que merecem pena, e isso eu não admito! Não quero me conformar aos “SE”s da vida, tampouco quero que sintam pena de mim.
Enfim... A academia eu já faltei. Vamos ver o que Nossa Senhora das Causas Perdidas me reserva até o final de mais um dia.

Diz que fui!

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Fazendo as pazes com a linda mulher


Fazendo as pazes com a linda mulher
Silvia Britto

Há alguns dias comentei haver finalmente feito as pazes com a minha menininha, minha pequenininha querida, a que mora dentro de mim. Estávamos estremecidas por um lamentável descuido meu, pelo qual já pedi milhões de perdões. À época, comentei que ainda faltava fazer as pazes com a linda mulher que também é parte desta pluralidade de personagens que se resumem em mim.
Essa foi infinitamente mais difícil de reconquistar. Magoou-se bastante com o descaso com que lhe tratei e com as lágrimas que a fiz verter ao anulá-la dentro de mim após uma grande decepção. Decepcionada com minha atitude derrotista, ela me virou as costas e não me deixava mais mirar-lhe os lindos olhos nem tocar sua pele, sempre quente e receptiva aos meus afagos.
Porém, ao perceber minha insistência em recuperar seu amor, resolveu dar-me mais uma chance e marcamos um encontro. Mas não poderia ser um encontro qualquer. Exigiu de mim nada menos do que o meu melhor. E assim o fiz.
Aproveitando uma ocasião em que me encontrava sozinha em casa, aprontei-me para ela. Coloquei uma garrafa de champanhe no gelo, bebida essa que me havia sido ofertada por ocasião do meu aniversário para que eu celebrasse, justamente, o amor. Enfeitei a casa com flores, acendi umas velas e coloquei um vestido preto e longo.  Caprichei na maquiagem e prendi os cabelos no alto da cabeça. Coloquei um lindo disco de boleros, seguido de Louis Armstrong e Frank Sinatra. Enchi a sala de espelhos e ali fiquei, esperando que a linda mulher decidisse, por fim, vir ao meu encontro.
E lá pela terceira taça de champanhe e pela segunda dança à voz do Sinatra, ela surgiu. Estava linda, de vestido também preto e longo, e exalava um perfume embriagante de champanhe misturado com flores. Em uma virada de cabeça, encontrei-a no espelho. Aos poucos fomos nos aproximando e ela me tirou para dançar. Senti-me envolta por seu corpo sensual e quente  e, aos poucos, nos entregamos àquele abraço.
Ao final do disco, chorávamos suavemente nos braços uma da outra, encantadas com nosso reencontro. Mas ela queria mais. Foi até os discos e escolheu a música que seria nosso tema de reencontro, uma linda melodia italiana, Noi Due Per Sempre. E nesse momento despimo-nos de todas as mágoas, decepções e tristezas que se haviam, cruelmente, colocado entre nós. Estávamos nuas, dançando ao som dos acordes da linda música que nos guiava os movimentos.
E a entrega aconteceu. Nos possuímos como há muito tempo não éramos capazes de nos dar. Ficamos ofegantes, os cabelos em desalinho e os corpos suados pela paixão. Ainda tomamos uma última taça de champanhe e ali mesmo, no chão, adormecemos, nos braços uma da outra.
Ao amanhecer, eu não queria acordar. Estava com medo de encontrar-me novamente só e desprezada pela linda mulher. Relutantemente, fui abrindo os olhos e qual não foi a minha alegria ao encontrar os belos olhos no espelho, sorrindo para mim e perguntando: “Quer café, meu amor?”... E nos amamos mais uma vez, antes de encerrarmos aquele reencontro com um delicioso beijo com gosto de café.

Juramos amor eterno eu, a pequenininha e a linda mulher. Fizemos um pacto de que, daqui pra frente, não aceitaremos nada menos do que TUDO. Não buscamos mais nada, pois já encontramos o que buscávamos do amor.  Entretanto, SE houver mais do que um "tudo" nesta vida, ele que a nós se apresente e não meça esforços em nos conquistar. Se isso não for possível, nos bastaremos e seremos muito felizes ao nosso modo.  E assim seguiremos, unidas e únicas, até o fim dos meus dias... E mais um ano.


quarta-feira, 28 de maio de 2014

Aos meus Facefriends


Brinde aos meus Facefriends
Silvia Britto

Hoje senti uma grande necessidade de falar com meus Facefriends. Vontade de agradecer pela força que me dão todo dia para continuar sorrindo e brincando. Vontade de agradecer pelo carinho e respeito com que sempre me tratam.
O advento da Internet, se bem usada, é uma das coisas mais maravilhosas do mundo moderno. Resgatou-me amigos de infância, adolescência, de outras terras. Manteve-me em contato com amigos ingleses, canadenses, italianos, espanhóis, gente que fez minha história pelo mundo por onde andei.
Claro que, se mal usada, a internet também pode destruir sonhos, reputação, famílias e abalar o caráter dos despreparados. Como dizia um sábio jogador de futebol, do qual não me recordo mais o nome, a Internet é uma “faca de dois legumes”!
Mas não quero falar das coisas ruins. Senti uma imensa vontade de registrar minha gratidão aos meus amigos que, apesar de não me conhecerem ou não estarem comigo pessoalmente, sempre me apoiaram, deram-me carinho e me ajudaram a superar momentos difíceis em que senti o mundo rompendo-se aos meus pés.
Uns chamam-me de Doce, outros de Flor. Por uns sou considerada uma nonsense girl do bem. Também sou  Bocólinda, Silviaaaa, Super Silvia, Zoião, Belezura, Silvinha, Silvex, e até de Musa Gloriosa já fui apelidada. Amo esse acolhimento e o calor que sinto emanar da tela quando vocês me acariciam. Pode parecer irreal e ilusão para uns mas, se chega da forma que recebo em meu coração, para mim é mais que real.
Infelizmente, pode ser que em algum momento eu tenha que deixar de visitá-los com a frequência que hoje faço e talvez até tenha que me ausentar desse convívio gostoso e respeitoso que consegui criar à minha volta. A vida do lado de cá da tela me cobra posições e atitudes um pouco mais intensas do que consigo dar ao me deixar ser tragada pela delícia que é ser eu mesma, falar minhas bobagens, tocar esse terror do bem ao dizer o que penso, me embebedar dessa eterna bagunça que faz tão bem à minha alma e à minha essência de moleca.
Serei eternamente grata a todos vocês, todos mesmo!, pois, se estão na minha lista de amigos é apenas porque me respeitam e me querem bem. Os que, de alguma forma não entenderam ou confundiram minha simpatia com algo além do que posso dar ou ser, foram deletados sem o menor remorso... Outra maravilha da Internet, deletar quem não é bem-vindo às nossas vidas.
Enfim, um grande beijo em cada um de vocês, minha família cibernética, do meu mundo do coração e das telas, que tanto me fazem bem. Se a vida deixar e quando a hora chegar, não os abandonarei  totalmente. Conseguirei vir aqui, vez ou outra, para continuar externando minhas merd..., meus pensamentos profundos e relevantes e para rir gostoso das maluquices da vida.

Amo vocês, #bandibocós# !


sábado, 24 de maio de 2014

Hoje é dia de festa


Hoje é dia de festa
Silvia Britto

Meu coração acordou em festa e lágrimas hoje.
Festa por ser um dia especial, de celebração da vida.
Lágrimas pela impossibilidade de poder abraçar com força
aquele que um dia chamei de meu.
Quando longe, nunca estivemos tão perto.
Quando perto, nunca estivemos tão longe.
Não é o coração que faz coisas que a própria razão desconhece.
É a vida que impõe seus desejos e armadilhas
e deixa o pobre coração perdido e desamparado.
É assim que está o meu, neste momento.
Desamparado, triste e calado, mas não vazio.
O amor, quando verdadeiro e honesto,
não abandona um coração uma vez por ele visitado.
Quisera eu pudesses ver como te amo e como para sempre te carregarei dentro do meu peito, qual tatuagem, impressa pelas marcas de amor que deixavas em mim.
Particularmente, quisera te fazer sentir isso hoje, através do calor do meu corpo.
Quisera te lambuzar de mim e impregnar-me na tua pele
pela eternidade do nosso encontro.
Quisera eu transbordasses em mim e juntos voltássemos a ser
outra vez nós dois, em apenas um.
Quisera te fazer o homem mais feliz do mundo na infinitude de uma vida.
Mas não posso.
Outra o fará e, um dia, tu nem mais te recordarás do meu cheiro e do meu gosto.
Mas não vou ficar triste, porque não te quero fazer chorar por sentires a saudade e a falta que sinto de ti.
Portanto, segue aqui o meu beijo molhado, salgado, apaixonado e agradecido.
Obrigada por teres me dado, um dia, a plena felicidade.
Mesmo na incerteza de que algum dia ainda serás meu, para sempre te esperarei e eternamente te amarei.

Parabéns a você, nesta data de LUZ!
Muitas felicidades, muitos anos de PAZ!
Que o DIA seja em breve!
Que o TALVEZ vire certeza!
Que QUEM SABE seja DEUS!

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Quer namorar com eu?


Quer namorar com eu?
Silvia Britto

Calma, amantes inveterados da nossa amada Língua Portuguesa!
Depois de eu pregar aos quatro ventos o quanto sou apaixonada pelo nosso amado idioma, vocês devem estar com os estômagos revirados! Mas se me derem apenas algumas linhas, explicarei a razão de tamanha "antice".
Há mais ou menos 4 anos, comecei uma jornada, ainda inacabada, de estudos em direção à conquista de um cargo público. Nessa ocasião, ingressei em um curso preparatório para tentar passar nos famigerados concursos.
Lá pelas tantas do curso, iniciou-se o módulo de Português. Eu sempre tive uma pequena queda, ou melhor, um tombo grande, por professores de Português. Se alguém sabe a diferença entre objeto direto e indireto, já ganha o meu coração e já vou logo querendo mostrar meu complemento nominal.
Brincadeiras à parte, o novo professor, além de excelente didata, era um charme de pessoa. Sério, mal sorria, mas quando o fazia, deixava-me encantada com aquele sorriso amplo e sincero. Como nunca bati bem da bola, virava e mexia dava minhas "contribuições" à aula e a turma caía na gargalhada. Nunca fui uma arruaceira. Entretanto, toco um terror do bem em sala de aula e acabo, invariavelmente, ficando próxima de meus mestres queridos.
Pois bem... Já sem saber o que fazer para chamar atenção do tchutchuco, tive minha deixa em uma aula de Concordância Verbal. Ele explicava que o verbo "namorar" é transitivo direto, dispensando, portanto, a tão famosa preposição "com", que o povo cisma em atribuir-lhe.
Dizia ele:

-"Se alguém quiser namorar COM você, nem pense duas vezes e saia correndo!"

Ah!! Não prestou! Imediatamente levantei minha mão e mandei:

- Professor, do jeito que a coisa anda, se alguém quiser namorar COM EU, já estou avaliando!

A turma veio abaixo em uma sonora gargalhada, inclusive o tchutchuco, brindando-me com seu lindo sorriso. Sorri por dentro e ganhei o dia com aquela visão do Paraíso espelhada no seu rosto.
Aula vai, aula vem, acabamos ficando próximos e saíamos quase sempre para tomar café. Sempre conversávamos bastante sobre a vida, sobre Deus, sobre minha insuportável simpatia e fazíamos planos secretos para eletrocutar os garçons que cismavam em considerar-nos invisíveis. Acabei por apaixonar-me por ele, que por sua vez nunca me deu bola nesse sentido e transformamos esse encontro numa das mais belas amizades que já tive na vida.
Pouco nos vemos, mas nosso amor é para sempre. Minha paixão carente e infantil deu lugar a uma imensa admiração por essa pessoa maravilhosa que hoje considero um irmão de alma.

Tchutchuco! Este aqui é em sua homenagem! Você continua sem querer namorar com eu?

Beijo beijo!!

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Elogio matinal, para levantar o astral!


Elogio matinal, para levantar o astral!
Silvia Britto

Acabo de retornar de uma consulta médica, na academia, necessária para avaliação da capacidade do corpo de suportar os exercícios e seus impactos físicos. Fiquei imensamente feliz em receber também uma avaliação que transcendeu o físico e a ordem natural das coisas.
O médico, um senhorzinho de voz macia e simpática, de lá seus quase oitenta anos, iniciou os exames de praxe. Pressão arterial, inspire, expire, língua para fora, diga “A”, rosto para cima, olhos para um lado, olhos para o outro... Nesse momento ele parou e disse, não conseguindo ater-se às normas profissionais:

-Menina! Que olhos lindos você tem!

Agradeci, sorridente e disse a ele que os olhos foram feitos pela mamãe. Ele continuou dizendo que não estava falando da cor, que olhos verdes há aos milhares. Falava da expressão forte de vida que deles transbordavam. Em sua prática diária, cansava-se de examinar meninas ditas rainhas e princesas de academia, com corpos esculturais, mas que traziam olhos mortos e opacos em seus rostos de boneca.
Como não resisto a uma boa provocação, perguntei se ele estava me chamando de gorda e velha, ao citar as “meninas” e seus “esculturais” corpos e que já tenho 51 anos de idade! Ele não se intimidou e respondeu que a idade era o que menos se notava em mim. Meu corpo estava funcionando perfeitamente e meus olhos deixavam ver que minha alma era criança, não no sentido da imaturidade, mas no sentido da sinceridade.
Realmente, concordei, meus olhos não sabem mentir. Sou uma eterna moleca, petulante e corajosa, mais uma vez, citando palavras da minha mãe.
Ele terminou dizendo que meus olhos eram presentes de Deus e que eu dava orgulho a Ele por fazer bom uso dessa dádiva. Com olhos assim, você não apenas nunca envelhecerá como tornar-se-á eterna, disse-me o encantador doutor.

Saí da consulta feliz por ver que, de alguma forma, estou recuperando minha alegria e vontade de viver. Sei que elogio em boca própria é vitupério (não sabem o que é isso? Vão procurar no dicionário, seus folgados!), mas há muito que já me despi de falsas modéstias e comportamentos normais. Fui ao espelho do vestiário da academia e constatei a verdade das palavras do médico... Vai ter olhos lindos assim aqui em casa, menina!!

terça-feira, 20 de maio de 2014

Desistir é a melhor saída


Desistir é a melhor saída
Silvia Britto

Começo este texto citando um dos meus poetas maiores, Mr Bob Marley:

"Difícil não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que se mais ama. Eu desisti. Mas não pense que foi por não ter coragem de lutar, e sim por não ter mais condições de sofrer."

Pois é. Tomei a difícil decisão de desistir. Não é fácil desistir de sonhos ou de amores verdadeiros quando os encontramos. Porém, há momentos em que a melhor saída é parar de insistir.
Não foi fácil, pois minha natureza é guerreira e inconformada. Não consigo desistir antes de chegar no fundo do poço. Mas, finalmente, cheguei lá. Foram muitos dias de rejeição. Muitas atitudes insistindo em me mostrar que eu estava no lugar errado e na hora errada. E eu, presa a promessas, confessamente irresponsáveis, de amor e felicidade.
Porém, os dias foram passando, o sentimento de rejeição tomando conta de mim, fazendo com que minha autoestima, sempre tão alta e sorridente, se abalasse para a vida. Minha criança perdeu-se dentro de mim. A mulher abusada e irreverente, que é minha marca registrada, virou-me as costas. E assim eu seguia, movida pela cabocla guerreira que tomou as rédeas da situação de dor em que me encontrava.
Mas ontem, algo clicou dentro de mim. Vi que não posso insistir em algo que não pode ser meu. Entendi que desistir é o caminho mais corajoso a ser seguido. Encarei de frente o fato de haver sido preterida e de não ter a importância que julgava ter. Entendi que não passei de um lindo sonho que, se serviu para recuperar a autoestima de alguém, já fez o seu papel.
Mas não pensem que sou uma mulher ingênua que faz isso sempre que vislumbra a possibilidade de ser amada. Não sou. Fiz o que fiz por ter absoluta certeza de meus sentimentos e saber que o que sentia era amor verdadeiro. Era não... É! Porque amor não acaba nunca. Mas histórias de amor sim. Essas tem que acabar quando não são correspondidas ou quando um ama mais do que o outro. Nesse caso, a corda sempre arrebenta do lado de quem ama mais, de quem tem mais coragem de ser feliz.
Dessa vez, quem se esborrachou fui eu. Aliás, esse parece ser um marco nas minhas histórias de amor. Sempre acabo me esborrachando por dar mais do que podem me ofertar. Não tenho limites na minha entrega, se achar que vale a pena fazê-lo.
Mas sinto um grande alívio de dizer, alto e bom tom, que EU DESISTO. Desisto de sofrer por algo que nunca foi meu de verdade. Desisto de chorar por quem me rejeita com atitudes que não deixam dúvidas de que não sou prioridade em sua vida. Desisto de esperar por alguém que me deixa só e sem esperanças de me fazer feliz. Eu e minha estranha mania de achar que fariam por mim o que eu faria por outrem.
Por um tempo achei que não conseguiria sair do lugar e que ficaria esperando, pelo resto da minha vida, ser resgatada da minha dor e rejeição. Mais uma vez, mudo de ideia. Não vou mais esperar, mesmo sabendo que o amor, quando é verdadeiro, não acaba jamais. Sigo amando para sempre e mais um ano. Mas não vou mais olhar para trás. Sigo meu caminho livre da obrigação de esperar pelo que nunca foi meu.
A lição aprendida é que não posso e não vou mais me contentar com migalhas vindas de outrem e, principalmente, vindas de mim mesma. Não vou sair por aí tentando substituir um amor para o qual não há substituição. Prefiro seguir só do que me sujeitar a amar menos do que sou capaz. Esse tipo de encontro é raro, mas serve para mostrar que o amor existe e que ele é lindo.
Não posso esperar por algo que não mais existe. Se existisse, da maneira que mereço, seria meu. Levo comigo apenas a beleza do meu sentimento. Isso é o combustível que alimenta a minha alma.
Ao passar a tarde de ontem inteira refletindo sobre isso e chegando a conclusão de que era hora de pendurar as chuteiras e dar esse jogo por encerrado, terminei o dia exausta e vazia dos sentimentos que me consumiram os dias. Tomei um banho e caí num sono profundo, como há muito não experimentava, por andar perambulando de braço em braço de homens que não conseguiram me amar.
Acordei com um estranho vazio no peito. Mas um vazio bom. Vazio de quem teve a coragem de deixar partir aquilo que mais amava para poder virar a página e recomeçar a escrever a sua história. Não resisti e vim correndo até aqui, escrever o primeiro texto deste novo capítulo que se inicia.
Desistir, só se for para recomeçar. É chegada a hora de construir um novo futuro.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Escrever, escrever, escrever...




Escrever, escrever, escrever...
Silvia Britto

Vontade de escrever, escrever, escrever... E não mais parar. Talvez pela sensação de vida que a escrita me traz. Ao final de tudo, quando leio o que meus dedos transcreveram da minha alma, parece que me torno real. Fora da escrita, tenho me sentido invisível e pequena, quase um grão de areia, que sequer tem onde pousar.
Procuro caminhos através de meus textos que sei muito bem aqui não estarem. Não há caminhos para uma alma que se sente só. Há apenas a vida que insiste em que eu não pare e que siga, cabeça erguida, até o fim dessa viagem com que me brindou.
Estou com esta compulsão de começar e não parar... Hoje pela manhã, andei sem rumo da porta da minha casa em Botafogo até, de repente, me dar conta que estava na Lagoa Rodrigo de Freitas, olhando o céu e imaginando quanto tempo andei até ali chegar. Acho que caminhei algo em torno de duas horas seguidas. Parei apenas quando meus pés deram sinais de que algo não estava certo.
E assim eu tenho andado ultimamente. Sem rumo e sem chão. Vazio na alma. Coração humilhado. Sensação de ser um item descartável, qual aqueles brinquedos desejados em noites de Natal mas que, passado o encanto, são jogados em um canto qualquer da vida.
Solidão é minha eterna companheira. Foi com ela que desembarquei, aos 5 anos de idade no aeroporto do Rio de Janeiro com minha mãe e meus irmãos, vinda de São Luis do Maranhão. A cidade pareceu-me tão grande que engoliu por inteiro minha infância e meninice, que passei, sozinha, brincando com bonequinhas de papel.
Em meus sonhos de criança, sempre imaginei que cresceria e seria, um dia, importante para alguém. Felizmente, a vida brindou-me com um casamento maravilhoso que me completou por 30 anos. Mas acabou. E com ele, todas as minhas chances de ser novamente importante para alguém.
Não adianta. Não dou sorte no amor. Os pés na bunda superam covardemente os momentos de felicidade. Sempre escuto o mesmo discurso... “Você é maravilhosa, MAS...”. Minhas relações são povoadas por essa palavra má... “MAS”. Maravilhosa MAS sou um autista emocional... Maravilhosa MAS não posso lhe fazer feliz... Maravilhosa MAS não te mereço... Maravilhosa MAS há coisas mais importantes do que nós.
Nesse intervalo, em que me iludia com promessas equivocadas e irresponsáveis, que nunca poderiam ser cumpridas, perdi-me de mim mesma. Perdi minha vontade de brincar e meu desejo de gozar. De tanto que lutei, fiz as pazes com minha menina, que ainda não quer brincar mas que já me permite colocá-la pra dormir em meu colo.
Problema maior está sendo recuperar a mulher. Aquela que sonhava em um dia ser importante para alguém, perdeu-se totalmente de mim. Não tenho mais ilusões. Acho que nunca mais conseguirei confiar no amor de um homem. Minha inocência foi roubada de mim.
Mas pelo menos não perdi a capacidade de amar. É. Acho que é isso. Nunca vou perder minha capacidade de amar, pois essa nasceu comigo. O que sinto estar irremediavelmente perdida é a crença de acreditar-me amada.  Infelizmente, sinto que as sequelas do desamor tiraram-me para sempre uma das asas.
Só posso pensar que é algo em mim que desperta isso. Saio de uma relação doente, em que era acintosamente ignorada, para outra, em que terminei abandonada, depois de me ter sido prometido o mundo. Como acreditar novamente no amor? Não posso mais.
Vou tentar, heroicamente, recuperar minha autoestima e usar minha capacidade de amar a meu favor. Preciso, desesperadamente voltar a me amar. Enquanto isso, eu escrevo, e escrevo, e escrevo, e escrevo...

domingo, 18 de maio de 2014

A sorrir, eu pretendo levar a vida




A sorrir, eu pretendo levar a vida
Silvia Britto

Não sei mostrar o que não sinto... Meu bem e meu mal.
É claro que a vida não cansa de me dar rasteiras e de me fazer chorar muito também. Mas fiz a opção de encarar tudo de frente e aceitar o que essa tinhosa dessa vida resolve fazer comigo, de frente e com alegria.
Mesmo triste, eu SOU feliz.
Tenho a plena convicção de que a vida é curta e que pode ser muito cruel com os que dela desistem e com os que fazem a opção pela acomodação preguiçosa, abdicando de correr atrás dos seus sonhos.
Às vezes, a dor é tanta que as lágrimas roubam o meu sorriso por dias que parecem intermináveis. Mas ele sempre volta, insistindo em me mostrar que se algo me fez chorar não era para mim. Pelo menos, não da forma em que se apresentou. Preciso de sorrisos abertos, abraços apertados, pessoas inteiras e amores corajosos.
Sei que posso parecer uma doidivanas, que chora e que ri ao mesmo tempo, mas não sou capaz de jogar minhas emoções para baixo do tapete. Choro, penso, reflito, mudo de ideia, não tenho certezas absolutas.
Apenas deixo meu coração livre para que não caia nas armadilhas de um cérebro que foi feito para tentar terminar com nossos desvarios de felicidade.
Nada contra o cérebro. Considero-me uma mulher muito inteligente, até mesmo para conseguir o equilíbrio entre esses dois órgãos vitais, cérebro e coração, sem os quais deixamos de ser seres abençoados com o poder de decisão sobre nossas escolhas.
Apenas não vou ser escrava da lógica e da razão. Prefiro seguir meus sonhos. Fiz a opção de ser feliz, apesar dos pesares. Quem quiser seguir comigo por essa estrada de intensidade, que me dê a mão. Se não puder ou vier, levarei cicatrizes, vez por outra ainda derramarei lágrimas de saudades, mas não posso desistir da minha natureza de ser feliz e sorrir para a vida.
Por isso eu deixo sim, a vida me levar. Com muito riso, cerveja, boleros, praia, sol e mar. Sambando, cantando, correndo, fazendo muito amor, tomando picolé de limão e indo ao Maraca, morrer de paixão pelo meu Glorioso amor.

Deixo aqui um apelo aos que, por acaso, lerem essas minhas aparentes sandices:

Coragem, meus queridos! Vamos ser felizes! Cuidem-se muito bem porque ninguém é capaz de cuidar tão bem de nós como nós mesmos. Sorriam! Brinquem! Amem sem esperar retorno! A felicidade somos nós que criamos quando temos a coragem de deixar o coração comandar o cérebro. Usem o cérebro como aliado, não como carrasco! Confiem nessa tal de massa cinzenta que, se conseguirem conquistar, tornar-se-á uma massa multicolorida, de mãos dadas com o encarnado de nossas emoções.

E bora que bora, que o caminho é lindo e não há tempo a perder!

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Tudo que eu queria te dizer


Tudo que eu queria te dizer
Silvia Britto 

Peguei mais um título emprestado. Tenho que tentar me lembrar de ser mais criativa. Esse é de um livro da Martha Medeiros, uma das minhas cronistas preferidas. Mas, novamente, ele é perfeito para expressar o que agora trago em meu peito. Gostaria de pedir só um pouquinho da tua atenção. Prometo ressaltar apenas os pontos positivos dos meus sentimentos. A sem noção vai falar!

Vou começar dizendo que estou apaixonada por ter te encontrado. Na verdade, eu sempre fui e SOU apaixonada por ti. Já te sabia antes de conhecer-te. E isso já é irremediável. Não há mais volta. É uma paixão dessas que nos fazem muito bem. Daquelas que nos fazem sorrir no meio da rua, sozinhos, ao nos lembrarmos de um momento gostoso ao lado do nosso amor. Que fazem o coração acelerar gostoso quando nos lembramos das provas da tua existência. Dessas que todos em volta percebem e pensam: "Xi! Está perdida! Foi flechada!". 

É isso o que tu me provocas. E isso é muito bom. Deixa-me feliz por ser capaz de sentir-me viva. A busca da felicidade é um caminho muito particular. Sou apaixonada por ti e não pelo que possas sentir por mim. Ouvi isso em um programa de TV na noite passada e achei perfeito. Mais uma vez furtando... Tenho que parar com essa mania.

A verdadeira paixão é essa que vem da alma. E isso já me basta. Não se trata de uma relação em que os prazeres da carne sejam imperativos. Mas não quero aqui ser hipócrita e dizer que sexo não me interessa na vida. Seria mentira. Mas essa seria outra história, outro texto e outro contexto. Isso seria o Paraíso e imagino que eu não deva ser merecedora de algo assim. Pelo menos, não ainda, nem de novo.

Portanto, volto atrás em minhas certezas. Mas, para mim, viver tem que ser assim. Tem que envergonhar. Tem que ser ousado. Tem que fazer voltar atrás e mudar de opinião, se isso for o que o coração mandar.Tem que fazer as pernas tremerem e o coração acelerar. Perco minhas ilusões com classe e venço minhas vergonhas com coragem. Porém, tu saberás lidar com mais essa falta de noção da minha parte. Já ganhei tua permissão para não fazer sentido na vida.

Não precisas falar nada. Assim termino o meu discurso: envergonhada, emocionada, pernas tremendo e coração acelerado. Mas muito feliz por ter dividido este momento com a única pessoa que tem legitimidade para dividi-lo comigo.

Ah! Só mais um pedido. Posso te dar um beijo? Não te assustes. Apesar de eu ter demonstrado que ando meio ladra ultimamente, não vou te roubar um beijo. Quero te dar um beijo na testa. Respeitoso. Em respeito e admiração a tua "coragem covarde" de tentar fazer o que achas certo. Posso?

Amo a ti para sempre e mais um ano. Obrigada por, finalmente, te colocares em meu caminho... DEUS!

terça-feira, 13 de maio de 2014

Fazendo as pazes com a pequenininha


Fazendo as pazes com a pequenininha
Silvia Britto

Andava triste e com a relação comigo mesma um tanto quanto estremecida.
Primeiro por estar vivendo um amor que não sabia ser impossível. Depois pelo extremo sofrimento em que me deixei cair quando ele se foi. Coisas de mulher intensa, que se joga em todas as armadilhas que a vida oferece. Dessa vez, o voo foi mais alto do que a rede de segurança me permitia subir. Infelizmente, só descobri isso ao cair.
Até ontem, minha imagem fugia de mim no espelho. Meu corpo desconhecia meu toque. Meu pensamento engessou-se num grande poço de dor, incompreensão e tristeza. Ia escrever também que sentia muita mágoa mas desisti. Mágoa é uma palavra que nunca coube em meu coração.
Talvez o mais correto seria escrever desilusão, por achar que fui apenas a protagonista de um lindo romance de Sessão da Tarde que nunca poderia sair da tela da TV. A mudança de canal abrupta e repentina, fez-me ficar como uma heroína perdida em meio aos pixels da televisão dos meus sonhos.
Sem dúvida, esse amor desmedido que senti deixa cicatrizes eternas em meu coração. Aos poucos, a razão foi me estendendo sua mão, talvez por não conseguir mais enxergar através de tantas lágrimas, que eu vertia sem cessar, e me resgatou do enorme poço em que me encontrava.
Reencontrei primeiro o meu sorriso interno, aquele que vem da alma. Insisti bravamente em frente ao espelho até que os meus olhos reencontrassem a linda menininha que mora dentro de mim e que estava muito entristecida comigo por haver deixado de cuidar dela. Na ilusão de, finalmente, também ser cuidada por alguém, negligenciei da minha molequinha de olhos brilhantes e vivos. Felizmente ela não desistiu de mim e seus olhos novamente se uniram aos meus no espelho. E juntas sorrimos, e choramos, e sorrimos e choramos de novo, só que de alívio por termos nos reencontrado.
Eu havia caído na grande armadilha de achar que se pode ser cuidado e amado de fora para dentro. Impossível. O amor por mim mesma sempre foi o grande responsável por meu otimismo, coragem, simplicidade, honestidade e alegria de viver. Sem ilusão, volto a entender que minha principal cuidadora sou eu mesma.
Volto a entender que o amor é uma opção que duas pessoas que amam e respeitam a si mesmas fazem de serem felizes juntas. Se uma delas não conseguir encontrar sua coragem interior de entrar no barco da paixão e da felicidade a embarcação afundará ou perder-se-á, deixando a outra sem rumo, pelos mares da vida. Amar é uma linda viagem que exige muita cumplicidade, coragem, competência e, acima de tudo, muito amor próprio.
E esse foi meu grande erro. Embarquei numa canoa sem perceber o grande furo que trazia em seu interior. A canoa ainda não estava pronta e o marinheiro precipitou-se ao me roubar para ele, encantado, ele mesmo, com a grande possibilidade de ser feliz de verdade.
Felizmente, sou uma sereia e, embora muito machucada e triste pela irresponsabilidade das promessas impossíveis do adorável marujo, já consegui recuperar minha bela cauda e reencontrei minha vontade de voar pelos mares do mundo. Eu disse voar? Sim! Não conhecem sereias voadoras? Pois então apresento-me: Silvia Helena, da Ilha do Amor.
Vida de sereia não é uma vida fácil. Atraio homens maravilhosos mas que, inevitavelmente, são tragados pelo medo e afogam-se no mar da falsa felicidade, aquela que os faz viver impulsionados apenas pelo instinto de sobrevivência, sem orgasmos plenos, acomodados em seus castelos de areia, esperando somente que a onda final os venha buscar.
No peito, levarei o amor e a lembrança desse marinheiro impetuoso. No corpo, levo um pouco do seu cheiro e do seu gosto. Mas volto a cuidar de mim mesma e nunca mais negligenciarei da minha vocação à felicidade e à alegria de viver. Mesmo que siga sem uma grande paixão, amigos não me hão de faltar, e a brincadeira marota e irreverente continuará a nortear os meus dias, nessa estrada de luz que decidi seguir.
Já fiz as pazes com a minha menininha, que chorava em um canto qualquer, sentindo-se duplamente abandonada. Do marinheiro que lhe afagava os cabelos, eternamente sentirá saudades. Mas ela tem a mim para colocá-la no colo e cantar pra ela dormir. Falta agora ficar também de bem com a mulher linda e inteligente por quem, sem falsa modéstia, sou totalmente apaixonada. Mas tudo tem seu tempo e já marcamos um encontro.
Estou de volta ao meu mar. Cauda de sereia: ok! Olhos verdes d’água: ok! Sorriso de menina: ok! Rebolado que é mais que um poema: ... Bem... Esse ainda está um pouco envergonhado e tímido. Mas já escuto um samba, e me parece ser o Zeca, pedindo pra que eu deixe a vida me levar. Por isso, é hora de gritar bem alto:

- Ei, vida! Leva eu!

sexta-feira, 9 de maio de 2014

O avesso do mundo


O avesso do mundo
Silvia Britto

Ficar em silêncio, diminui o risco, mas não permite a possibilidade de avanço.
Nunca serei a moça comportada, que se cala, se comporta e esconde o que sente.
Não sei ser metade. Amo de verdade, sofro de verdade, sorrio de verdade.
Não é fácil. É difícil. É praticamente impossível.
Mas gosto do impossível. É lá que se escondem os diamantes mais bonitos.
Por isso tenho sempre esta sensação de estar no avesso do mundo.
Às vezes encontro um doido, voando na contramão do que a vida estipulou.
Mas logo me vejo novamente só, pois o tal doido não se permite viver na plenitude dos seus desejos..
E assim eu vou, seguindo o caminho dos destemidos, que é a tal solidão.
Hoje, já sinto que alguém mais me faz companhia nessa estrada. Alguém a quem resolvi dar o nome de Deus, por sua capacidade de me fazer renascer a cada dia. Renascer é presente divino.
Nem sempre são dias fáceis. Mas são dias meus. São dias que nunca mais se repetirão.
E é nessa certeza, de que tenho que fazer o que acho certo e que não posso me calar a um destino que não me pertence, que choro, grito, sofro, esperneio e não me conformo.
Torno-me uma pequenininha teimosa, uma gigante em otimismo e determinação.
Sei que, em algum momento nesta metade de túnel que ainda me resta percorrer, sentir-me-ei plenamente abraçada pelo amor e pela paixão, da maneira que mereço.
Não posso deixar que o tempo acabe com meu amor verdadeiro e com minha felicidade.
Meu corpo agora descansa. Não quer reconhecer o meu toque. Minha imagem no espelho foge de mim. Mas do alto do meu otimismo inato e inabalável, sinto que, ao deixar mais esta pele para trás, serei amparada por asas ainda mais lindas e poderosas, que seguirão junto comigo, pelo avesso da vida, correndo, cantando, voando e fazendo amor.
 Até o fim dos meus dias... E mais um ano.


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Reflexões e Deus


Reflexões e Deus
Silvia Britto

Ando meio cansada desse papo de solidão. Gosto muito da minha companhia. Mas é muito difícil ME beijar a boca. Também não dá para ter uma sensação nova e surpreendente quando EU mesma toco a minha pele...
Por instantes acreditei ter encontrado uma nova luz para iluminar meus dias, meu sorriso. Penso que me equivoquei. Chegamos a uma altura da vida em que, quando queremos alguma coisa, já temos experiência bastante para tentar realizar nossos sonhos. Ou não!!! E esse "ou não" é o que me mata!
Sempre entendi que na vida temos a opção de sermos alegres ou tristes. Como bem dizia o poetinha:
" É melhor ser alegre que ser triste..." Fiz a opção de ser alegre. Mas como é difícil. Muitas vezes faço um esforço supremo, invisível aos outros, para seguir nesse caminho.
De tanto treinar, às vezes a alegria me vem até como se fosse algo muito natural. Porém, em diversas ocasiões, é uma briga intensa e cansativa a que se trava dentro de mim. A tristeza tem garras poderosas e de tanto lutar com elas, saio toda ferida, arranhada, cansada.

Há momentos em que sinto uma solidão interna tão grande que tenho medo de perder-me no buraco
negro da existência. Por mais que busque e receba a companhia de meus queridos, não consigo me livrar desse túnel escuro que também tem sua morada cativa dentro de mim.
Acho que é exatamente nessas horas que os crentes em Deus exalam uma grande confiança e possuem uma vantagem sobre os que não O tem como verdade absoluta. Imagino que quem O traz dentro de si, eterno e infinito, nunca se sente só. Terá sempre Sua companhia.
Nunca consegui conceber a existência de Deus como verdade. Talvez tenha sido Ele quem nunca notou minha presença e nunca me convidou para brincar. Minha visão de mundo sempre foi mais pragmática. Mas confesso que, apesar de ter vivido até hoje sem essa presença, sinto que agora Ele finalmente chegou a mim. Consegui, finalmente e apesar da solidão, sentir que meu coração aquietou-se. Ainda num início de descoberta, sinto que Ele é o responsável por isso. Por intermédio de um anjo, me ajudou a chegar ao fundo de mais este poço e me deu forças para recomeçar.
O homem foi dotado de duas poderosas armas: a consciência e a autonomia. Como é difícil administrá-las! Os pensamentos são livres, independentes. Levam-nos a lugares inimagináveis. Nem sempre prazerosos. Por essa razão temos que ter o discernimento de seguir nosso desejo. Ou não. Olha o "ou não" aí de novo! Que difícil tarefa separar sonhos de realidade. Impossível saber o que se passa nas cabeças de outrem. Isso, pelo menos para mim, é muitas vezes angustiante.

Como é sofrida essa necessidade de ser amada. Acho que é uma forma que encontramos para acreditar que tudo em volta é real: amam-me, logo existo. Tenho me sentido um pouco flutuante sobre esse universo. Estou com saudade de sentir os meus pés no chão.
Torno-me desejo. Torno-me sonho. Torno-me saudade.