domingo, 17 de maio de 2020

Rotina de Energia



Rotina de Energia
Silvia Britto

Outro dia, indagada por uma amiga do grupo de escola, Joyce, sobre nossa rotina nesses dias tão difíceis contra um vírus, inimigo invisível, pus-me a pensar na minha...

Não vou falar dos finais de semana. Até porque não sei o que farei nesses dias... Deixo que a vida me surpreenda. Amo surpresas!

Vamos falar da rotina, do dia-a-dia.

Durante a semana, acordo cedo, por volta das 7 horas da manhã.
Estou trabalhando de casa, assim como muitos outros que tiveram essa sorte.

Vou direto para a sala e sigo uma rotina de exercícios, criada por mim, depois de anos e anos de atividade física e academia.
Termino com alongamento e uns poucos movimentos de yoga, saudando o Sol e o Deus que habita em mim.

Segue-se a hora do banho, onde mentalizo que todas as coisas ruins são lavadas do meu corpo.
Termino sempre com uma ducha de água fria, como se para "selar" a energia e trazer-me de volta ao dia que tenho pela frente.

E vem a hora do sol! Uma das minhas favoritas!
Sento-me ao sol, em minha varanda, sempre agradecida por ter esse cantinho sagrado.
Coloco uma música para alegrar minha alma e entrego-me ao deleite de ter minha melanina e minha imunidade reforçadas pelo Deus Sol.
Sou movida por ele. Aonde tenha sol, é pra lá que eu vou.
Tenho alma de girassol.
E fico lá, entregue a esse prazer por uns 30 minutos.

Daí, tomo café e sigo para o computador.
É hora do que eu, gaiatamente chamo de "Hommer Office".

E começo o trabalho.
Não está nada fácil trabalhar de casa, longe dos colegas queridos de trabalho e do ambiente delicioso que tenho, graças a Deus, o dom de criar por onde passo.
Os desafios são imensos. Ainda mais pra mim, quase uma anta cibernética.
Que me perdoem as antas, pois elas são brilhantes no que precisam ser para bem viver.
Elas não precisam entender de software, onedrive e links-urgentes-pra-ontem.
Há dias em que choro, não nego, por sentir-me incapaz de absorver melhor os novos comandos através de uma tela de computador...
Mas, ao final do dia, desligo o computador agradecida por ter vencido mais uma batalha e matado meus dragões diários.

Ao longo do dia, há pausas estratégicas para brincar nos grupos de amigos de escola, de trabalho, carregando sempre a certeza de ser eu mesma, em minha eterna missão de tornar as coisas mais leves e trazer sorrisos a quem deles precise. Sou uma eterna Poliana.

Por volta das 19 horas, os amigos de escola se unem em oração, pedindo forças para passar por esses tempos difíceis. Hà muita fé e vibração nesses momentos. arrepiante mesmo.
Mas, confesso que apareço pouco por lá, nessa hora.
Prefiro ter essas conversas com Deus, sozinha.

Converso, principalmente, com o Deus que habita em mim.
Aquele Deus que se alimenta das coisas simples da vida, de flores, de cores, de sorrisos, de verdades e de compaixão. O meu Deus das Pequenas Coisas.
Peço forças para manter minha luz e que eu sempre possa dar a mão ao Deus que habita em cada pessoa que cruzar o meu caminho e que dela precisar.
Também dou a mão aos deuses interiores daqueles que, por acaso, se me apresentem nessa hora.
Damo-nos as mãos para brincar de roda, fazer festa e nos nutrir de alegria.
Tenho uma enorme sorte de ter um exército de anjos ao meu redor.

Pouco saí nesse dois meses.

Fui dar umas duas voltas de carro pela orla, para ver o mar, outro elemento essencial à minha existência.
Sou sereia! Já contei? Mas esse é outro papo, pra outra hora.
Só de respirar o ar do mar, já o sinto penetrando e correndo em mim, fortificando meu sangue e meu coração.

As outras poucas vezes, fui ao mercado.
Não se vive só de bons pensamentos.

Tenho me alimentado bem, melhor do que quando comia na rua.
A comida caseira, feita por nossas próprias mãos, tem um sabor de vida, que em nenhuma outra encontramos.
Nem nos melhores restaurantes.
O que ingerimos quando vamos a bons restaurantes é prazer.
Em casa, o que ingerimos, é vida. É o essencial.

E o dia termina.

Mais uma vez agradeço, dessa vez à Lua, por me embalar em seu colo sereno e me ajudar a repor as energias para um novo dia que se iniciará em algumas horas...


... Outro dia, indagada por uma amiga do grupo de escola, Joyce, sobre nossa rotina nesses dias tão difíceis contra um vírus, inimigo invisível, pus-me a pensar na minha...




terça-feira, 7 de abril de 2020

Quarentena Dreaming



Quarentena Dreaming
Silvia Britto


Hoje estava sentindo-me um tanto quanto solitária.
Efeitos da quarentena forçada.
Peguei uma cerveja e fui para a varanda do décimo andar olhar o céu. 
De repente, peguei-me a pensar se a vida não seria um sonho. 
Um conjunto de lembranças que poderiam nem ter acontecido.
E se eu nunca houvesse saído do maranhão e aportado no Rio?
E se eu não tivesse pedido para voltar um ano na escola nova?
E se tivesse mantido meu desejo inicial de cursar Medicina?
E se?

Teria eu casado? 
Que parceiros teria eu encontrado no meu caminho?
Teria eu tido filhos, separações, os mesmos amigos, as mesmas decepções, as mesmas alegrias?
Que músicas embalariam minhas lembranças e quais seriam elas?
A vida é mesmo muito engraçada, feita de escolhas que determinam todo o resto de emoções com as quais temos que lidar.
Mas vejam só, não estou reclamando das minhas escolhas, elas me tornam quem sou.
Mas me faz pensar que tudo é um sonho. 
Que o aqui e agora nunca se fez tão presente. 
Que a vida passa rápido demais!

A cerveja está quase acabando. 
Já tomei mais da metade da garrafa. 
E as lembranças? 
Ah, as lembranças... Essas não acabarão jamais. 
Pelo menos, não as que escolhi ter nessa vida.
Cabe a mim, ou a nós, escolhermos as lembranças que teremos daqui pra frente.
E assim eu vou vivendo, de lembrança em lembrança, de escolha em escolha, enquanto eu puder beber.

Silvia Britto.
Abril 2020.