quarta-feira, 22 de abril de 2015

A idade da justiça


A idade da justiça
Silvia Britto

Não sou especialista em segurança pública, tampouco socióloga. Porém, muito tem me irritado esse discurso sócio-paternalista contra a redução da idade penal para os nossos doces marginais.
Muitos dizem acreditar que seja apenas a ação oportunista de alguns políticos para dar uma resposta à população com relação à sua inércia e incompetência de coibir a violência que assola nosso Brasil varonil. Concordo com eles, até certo ponto. Mas, neste caso, funcionaria, de fato, como uma maneira  mais fácil e direta de tentar diminuir a impunidade que reina sobre as nossas cabeças.
Na minha simplória opinião, penso que, se alguém é capaz de articular um crime, manusear uma arma, praticar um roubo, também é perfeitamente capaz de ser punido por isso. Sem essa de que eles são vítimas de uma sociedade desigual! E os que, vivendo em situações de até maior privação, não se corrompem? Devem esses últimos entender que estão bancando os otários e que o crime, na verdade, compensa?
Fazendo uma analogia, devem os pais punir as deficiências, desobediência e agressividade dos filhos ou devem, simplesmente, assumir a culpa e aceitar que foram eles mesmos os responsáveis pela má conduta de sua cria e deixá-los livres para reincidir? Afinal, o "poder superior" está aqui para dar um rumo certo aos nossos futuros cidadãos, ou para ser conivente com suas más condutas? Palmadas bem dadas, só não deu quem teve a sorte de ter anjos como filhos, e não capetinhas levados pedindo limites, como foi o meu caso.
Do jeito que está, os jovens contraventores têm cada vez mais certeza de que o crime precoce é uma grande saída para que façam sua breve aposentadoria aos 18 anos. Não há dúvida de que é preciso investimento em educação, em saúde e na integração familiar. Mas uma coisa não exclui a outra. Não é permitindo que cada quadrilha tenha seu "menor de estimação", para assumir seus crimes, que vamos resolver o caos generalizado em que vivemos. Cada problema, com a sua solução. Se, um dia, conseguirmos fazer nosso dever de casa e tornar as oportunidades, de fato, iguais a todos, como mágica, veremos que o número de menores infratores também diminuirá.
Sei que o sistema carcerário já está corrompido e deve ser reformulado urgentemente. Mas não é deixando futuros criminosos à solta que daremos fim à violência. Que tal, pelo menos começarmos a pensar em sistemas direcionados à  reclusão desses menores, obrigando-os a estudar e oferecendo ensino de qualidade dentro de prisões especializadas em recebê-los? Se não tiveram a sorte de ter pais que conseguissem lidar com suas deficiências de caráter, que o Estado assuma esse papel.
Portanto, podem estribuchar, soltar espuma pela boca, chamar-me de insensível e utópica mas sou ainda mais radical do que as propostas de lei. Acho que não deveria haver idade para a punição. Crime é crime em qualquer idade. Se uma criança de 7 anos mata seu amigo por vingança, é claro que é uma pessoa inapta para viver em sociedade.Se o que acham é que devemos passar as mãos sobre as cabeças dos doces criminosos e estupradores mirins, realmente, acho que estou no mundo errado.
Parem que eu quero descer!


domingo, 5 de abril de 2015

A coelhinha branca

A coelhinha branca
Silvia Britto

Certa feita, ainda na escola Rosa Castro, em São Luis do Maranhão, lembro-me de ter aprendido uma das melhores lições que a vida poderia me dar e que sempre trago comigo.
A ocasião era a Páscoa. Festa com todos vestidos de lindos coelhinhos! A turma estava alvoroçada diante do espetáculo que se aproximava.
Chegara a hora da escolha do "elenco" de coelhinhos. Haveria o azul, o amarelo e o vermelho também. Por conta dos meus sempre brilhantes olhos azuis esverdeados, fui escolhida para abrir o espetáculo, sendo o coelhinho azul. Seria a primeira a entrar em cena, seguida do amarelo e do vermelho também. Após essa abertura do "show" entraria o bando de coelhinhos brancos, com faces perdidas na multidão de "coadjuvantes".
Qual não era o meu orgulho! Sentia-me a "estrela" da trupe!
Porém, meu palco durou pouco. A neta da diretora, preterida ao papel "colorido" e destinada a ser apenas mais um dos coelhinhos brancos, abriu um berreiro de dar dó. Pelos pistolões da vida, acabou sobrando para mim, a troca de papéis. Perdi minhas lindas orelhas azuis. Fui de diva a figurante em questão de segundos. Lembro-me de não ter me dado por rogada e fingi estar tudo bem. Por trás, chorei até ficar com os olhos vermelhos, tais quais os dos coelhinhos.
O choro durou uma tarde, talvez uma noite.
Diante do inevitável, resolvi que iria fazer meu papel de coelhinha branca da melhor forma possível. Queria me divertir também! E assim fiz. Pulei mais alto que todos, empenhei-me nas barrigadas e me acabei de verdade nas cambalhotas, trazendo gargalhadas a todos os presentes. Acreditem, tudo que fiz foi abraçar meu "papel" com seriedade e empenho, independente do grau de importância a ele atribuído.
Felizmente, essa minha veia exagerada e palhaça, sempre me traiu, mesmo quando tentava passar despercebida. Ao fim do espetáculo, todos queriam saber quem era a coelhinha de lindos olhos azuis, engraçada e bundudinha que a todos encantara com sua entrega ao papel que lhe fora confiado.
Lição tirada: Não importa a missão que lhe for destinada. Faça-a com entrega, alegria e vontade, que até as "árvores" do cenário podem ter o seu valor reconhecido. Deixem a vida lhes levar! Mas sempre com alegria e nunca perdendo o rebolado. Eu nunca perdi o meu, o famoso "mais que um poema"!
Boa Páscoa!

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Celebrar o quê?

Celebrar o quê?
Silvia Britto

Sem brincadeira...
Não creio em religiões, mas, se eu fosse Jesus, estaria muito danada da vida!
As duas festas maiores do Cristianismo, seu nascimento e morte, são mais celebradas por causa de um velhinho com um saco cheio(?) de presentes e por um coelho que põe ovos(?) de chocolate?
Onde está o sentido dessa fé? Comer bacalhau na sexta-feira é suficiente para render-se homenagem a quem morreu por toda uma legião de seguidores?
De qualquer maneira, desejo uma boa Páscoa a todos.
Aproveito para desejar Chag Sameach aos meus amigos judeus que comemoram o seu Pessach.
Celebra a libertação dos escravos hebreus do domínio do faraó egipcio. A mais linda história de libertação que conheço. Liberdade essa, conquistada a duras penas, muito sofrimento, dez pragas e 40 anos vagando pelo deserto hostil a caminho da Terra Prometida. Não esquecendo que Jesus, como um bom judeu que era, também celebrava essa libertação e foi traído exatamente no seder (jantar) de Pessach, que, a partir daí, ficou conhecido, pelos cristãos, como a Santa Ceia.
Seja qual for a religião ou a história, essa é uma época de celebração da vida, de superação, de realização do que parece impossível. A fé está em cada um de nós, na nossa força e determinação de domarmos nossos fantasmas e passarmos por cima das nossas dificuldades em busca da liberdade. E liberdade sempre me emociona.
Que todos tenhamos fé e acreditemos no nosso êxodo rumo à felicidade, na morte das nossas limitações e na ressurreição da nossa boa vontade de fazer um mundo melhor.
Amém!