domingo, 29 de setembro de 2013

Os que amam demais


Os que amam demais
Silvia Britto

Acordei com o coração apertado.
Não pela derrota, pois isso faz parte de qualquer campeonato.
Já disse antes e agora repito: títulos de campeonatos me interessam sim, mas não são meu principal objetivo. Não são eles que encantam e enchem de orgulho o meu coração. Afinal, o Botafogo é o ”Glorioso” e não o “Tituloso”. Coleciono glórias, não títulos.
Estava encantada ao sentir que meu time do coração havia finalmente entendido o valor da estrela que tráz no peito e reinava lindo e feliz pelos gramados. Sua linda estrela deixava para trás um belo facho de luz, que a todos hipnotizava, a cada partida.
Mas algo de estranho se deu. Como que por mágica, a atitude do time mudou. Uns julgam o técnico, outros, a idade do craque, outros até ousam culpar o destino. Sinceramente, não sei o que há e me abstenho de julgar quem quer que seja. O momento agora é de dar apoio ao amante confuso. Dar amor à linda bandeira.
Sei que muitos Alvinegros agora me criticarão e dirão que sou uma boba ao apoiar um time assim, desmilinguido. Não os culpo por pensarem assim. Mas cada um ama do jeito que sabe. O meu amor por essa estrela é incondicional. Isso significa que, perdendo ou ganhando, TE AMO FOGO!
Estarei  presente em todos os jogos que puder. Não se trata de otimismo. Trata-se de suporte. Vibrarei a cada jogo e continuarei portando, com orgulho e altivez, a linda estrela que me escolheu como amante.

“ O Botafogo não é para os óbvios. Muito menos para os normais. É para os que amam demais.”

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

São Cosme e Damião


São Cosme e Damião
Silvia Britto

Dia 27 de setembro. Dia de São Cosme e Damião.
Ah!! Quantas recordações isso me trás. Moleca, ia de rua em rua, com uma sacola de plástico em punho, recolhendo os saquinhos de doces pela vizinhança. Sempre tentava pegar dois, um para a minha irmã, Lilica, que, por capricho da vida, só podia assistir à festa pela janela.
Havia sempre a notícia que vazava;
- Dona Zulmira do 702 vai distribuir às 10 horas!
- Seu Toinho, na Santo Amaro, tá distribuindo agora!
E lá ia eu correndo, descabelada e feliz, de porta em porta, colecionando saquinhos de guloseimas, muitas vezes de origem duvidosa quanto a sua gostosura.
Era quase uma competição entre a molecada - quem encheria mais a sacola?
Ao final do dia, chegava a minha casa suja, suada e esbaforida da molecagem de dia inteiro. Portava comigo o meu troféu, uma sacola lotada de marias-mole, cocôs-de rato, suspiros, goiabada, balas Juquinha, pirulitos do Zorro (lembram dele???) e afins, nem sempre com seus nomes identificados.
Um pouco mais velha, tive a experiência de ter uma melhor amiga que "recebia" entidades da Umbanda. Nunca conseguirei explicar aquilo. Mas aí é outra história. Um dia eu conto. Voltando às crianças, minha amiga "recebia" a Mariazinha da Beira da Praia. Uma menina levada da breca que cismava em entupir-nos de bolo empapuçado de guaraná! Não é que era bom? Era dia de festa no Centro de Umbanda, e uma bagunça linda reinava, feita por adultos que se deixavam levar pela fé.
As crianças de hoje não sabem mais o que é ser livre e feliz. Lamento. Não se distribuem saquinhos de São Cosme e Damião em shoppings. Ainda bem que vivi em uma época em que as ruas também eram das crianças para brincar de queimado, carniça, pique-bandeira e soltar pipas coloridas.
Saudades da molecagem vadia.
Salve Cosme, Damião, Dom Um!

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O anjo da lama





O anjo da lama
Silvia Britto

Você se foi tão rápido quanto veio. Lembro-me de ter acontecido assim com a única paixão que me confessou haver tido na vida. Já disse antes e volto agora a dizer: você veio para iluminar meu coração e mostrar que as luzes do caminho só se apagam se assim o permitirmos.
Fui cortejada e paparicada por um verdadeiro gentleman de alma. A poucos pude dar essa qualidade. Cuidou de mim em um momento muito difícil e me deu de presente o inesquecível. Apenas por sua gentileza e generosidade foi possível deparar-me com tanta beleza em forma de liberdade, mato e lama. Foi uma lama libertadora, a que você me apresentou.
Cantamos juntos, encantamo-nos juntos com a paisagem rústica, ficamos sujos de lama, dançamos, tomamos vinho e rimos para valer, como duas almas irmãs que precisavam rever-se para reafirmar seus laços de amizade, amor e respeito.
Hoje venho aqui dizer adeus. Obrigada, meu anjo. Vou carregá-lo para sempre no meu baú de lembranças. Impossível esquecer tamanho carinho e gentileza. Eu precisava achar-me merecedora de tanto cuidado.
Siga em Paz o seu caminho, continue a tocar com seu coração todos que dele precisarem e que o mereçam. Um dia ainda nos reencontraremos, pois me deves uma estrela cadente. Você é lindo, seu astral é alto, e sua alma de uma gentileza ímpar. Obrigada por tudo, meu anjo da lama e da luz. Te amo para sempre. 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Encontre a tampa de sua panela!

Encontre a tampa de sua panela!
Silvia Britto

Boa noite, caro ledor!

Você, que se encontra aí sozinho, abandonado, com o coração despedaçado por achar que nunca conseguirá conquistar aquela gatinha da Zona Sul que não sai dos seus pensamentos...
Você, que atende pela alcunha de Mestre-fofo-de-Caxias,  não fique triste assim!
É com grande emoção que nosso programa, Encontre a Tampa de Sua Panela, lhe oferece, em nome daquela que você julgava nem saber da sua existência, uma mensagem de fé e esperança.
Ela, que atende pelo singelo pseudônimo de Charmosa da Urca, lhe envia uma mensagem de esperança:

“80ção

20ver pois

100você não posso viver.”

Ela também pede para lhe dizer que:

“Se Deus fosse fazer um mostruário do trabalho dele, você estaria na capa.”

E que sempre que lhe vê, usando a sua camisa green-natureza-morta, pensa:

“Se verde é assim, imagina maduro!!!”

Por isso, educador charmoso de Caxias, não perca as suas esperanças...
Pode ir preparando a sua colher que o seu amor está dando sopa.
E enquanto aguarda, ansiosa pela sua chegada, lhe oferece esta singela canção:


E o programa se despede por aqui, com a certeza de haver cumprido sua missão de
unir as tampas às suas panelas, da Zona Norte à Zona Sul, enquanto houver fogo no fogão.
Enquanto houver esperança, haverá panelas a serem tampadas!
Persista! Nunca desista!

Bom noite e até o próximo:

Encontre a tampa de sua panela !

domingo, 22 de setembro de 2013

Jardim profícuo

Jardim profícuo
Silvia Britto
 
Tudo que a vida me dá é certo. Nunca reclamo de nada. Momentos tristes têm seu valor. Sem eles, não conseguiria dar tanto valor à minha constante alegria. Nesse imenso campeonato, que é existir, somos todos vencedores. E qualquer campeonato é feito de batalhas. Ninguém passa pela vida invicto.
Parece loucura, mas saboreio cada tristeza como se fosse também, uma vitória. É quando estamos tristes que crescemos. Felicidade, normalmente, é apenas um momento para desfrutar do que plantamos quando estávamos tristes. Felicidade não tráz crescimento. É apenas o momento de regojizar a alma com o fruto de nossa colheita. O que seria da terra se não fosse a chuva? O que seria do sorriso sem a lágrima?
Felizmente, planto muito. Meu jardim é profícuo. Nele há espaço para tudo. Balanços para as brincadeiras, cachoeiras para a lavagem da alma, esconderijos para reflexão, pista de dança, pequenas alcovas para fazer amor e um espaço sem fim para guardar lembranças e receber meu exército de anjos.
Falando em exército de anjos, essa é a principal riqueza do meu jardim. e orgulho-me de perceber que esse exército só faz crescer. A cada dia que passa, há novos anjos lindos, prontos para lamber meus olhos ao primeiro sinal de uma lágrima. Isso me faz imensamente orgulhosa. Planto muito mas acabo recebendo muito mais do que sou merecedora.
Este texto é apenas uma maneira de agradecer a esse lindo exército. Obrigada meus anjos. Obrigada meus lindos amigos. A vida segue como sempre, linda e ensolarada. E eu? Ahhh! Olhem para mim seguindo, moleca e sem noção, com meu rebolado, que é mais que um poema!


sábado, 21 de setembro de 2013

Joelho ralado, coração magoado


Joelho ralado, coração magoado
Silvia Britto

Hoje não acordei bem. A vida me empurrou da cama às cinco horas da manhã para ver o sol nascer. Coração apertadinho em um canto do peito. Como é de costume ao me sentir assim, escrevi. Publiquei. Rodei pela casa. Pela janela vi que a manhã estava linda. Resolvi que nada melhor do que a água salgada do mar para diluir minhas lágrimas e torná-las insignificantes diante da grandeza azul.
E lá fui eu. Os óculos escuros escondiam as lágrimas teimosas. O dia estava alegre, apesar de meu peito apertado. Crianças correndo, namorados de bicicleta, sol realçando o azul do mar e o Redentor, como sempre, braços abertos sobre a Guanabara.
Mas é claro que isso não poderia dar certo. Há momentos em que é melhor recolhermo-nos a nosso canto e esperar a ressaca passar. Cheguei à praia e, antes de colocar os pés na areia, descendo uma pequena rampa de cimento que me levaria ao mar, estabaquei-me de uma forma que até o Carequinha ficaria com inveja.
Do joelho, começou a jorrar o que parecia para mim uma cascata de sangue. Ato contínuo abri um berreiro de dar dó. Pessoas aproximaram-se e tentaram me ajudar. Lavaram meu joelho com água gelada, abanaram-me, disseram-me palavras de consolo. Mal sabiam elas que a dor maior vinha do coração. O sentimento era de vergonha, humilhação e dor. Mas o que chorava era o coração.
A menininha desavergonhada que mora em mim não se intimidou e chorou até cansar. A mulher, apenas assistia, impotente na sua tristeza.
Mas cansei e parei de chorar. Levantei-me e fui, com o rebolado que é mais que um poema, um tanto quanto capenga, até o mar. A esperança era de que o sal fizesse o joelho arder tanto que o foco sairia do coração. E assim foi. Ardeu e queimou. Gritei e chorei. E finalmente a dor pareceu dar lugar a uma dormência reconfortante. Fiquei ali por alguns minutos, boiando ao sabor das ondas e olhando o céu. Esse continuava azul em sua inabalável infinitude. E pouco a pouco as coisas foram tomando suas devidas proporções. Saí da praia, comprei um picolé de limão e voltei pra casa pensando: saudades do tempo em que um mertiolate encarnado e ardido curava tudo.

Solteirinha da Urca

Solteirinha da Urca
Silvia Britto

Cansei de ser sozinha. Por isso sou solteira.
Só, sozinha, avulsa, sem ninguém, solta na vida.
Esse negócio de amar dá muito trabalho!
Minha alma é vadia, livre e solta. Meu coração, é leal e cúmplice.
E alma e coração entendem-se maravilhosamente nesta aparente ambiguidade.
Mas a cumplicidade da emoção é uma coisa que tem que vir naturalmente.
Nunca cobrei sentimentos de alguém e detesto cobranças.
Odeio chantegens emocionais. Não negocio com terroristas.
Tenho meu tempo para resolver as coisas do meu jeito.
Sempre fui uma pessoa extremamente responsável pelo que cativo e não gosto de ser colocada contra a parede. Cuido muito bem de quem bem me quer.
Sentimento, amor, entrega, cumplicidade, carinho, cuidado...
Essas são palavras que fazem parte da minha religião.
A maioria das pessoas não me alcança e julga-me ingênua ou devassa.
Não as culpo por esse julgamento. Sou mesmo tudo isso e mais um pouco.
Implorar amor nunca foi o meu feitio.
Gosto de pássaros livres que optam por pousar ao meu lado.
Estar solteira não significa estar procurando. Estou esperando.
Levando minha vida com toda a honestidade da minha alma e esperando quem me entenda.
Ou melhor, quem me aceite, pois nem mesmo eu procuro me entender. Isso é perda de tempo.
Viver é não ser entendido.
Como li um dia por aí, ser solteira é um estado de espírito. É não ter nada planejado.
Amor não é planejável. Mas exige cumplicidade. Exige confiança. Exige falta de pudor.
Espero por quem queira ser solteiro ao meu lado.
Não vou ficar perdendo tempo procurando a outra metade da minha laranja.
Vou é pegar a minha metade e fazer uma caipirinha! E saboreá-la, bem ao meu estilo, com uma pitada de molecagem e irreverência.
E lá vou eu, pela vida afora, com meu rebolado que é mais que um poema...
Soltinha que nem arroz de festa!


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A fila que anda

A fila que anda
Silvia Britto

Enganam-se os que acham que a conquista é uma parte finita do amor. Talvez ela seja a parte mais importante de um relacionamento de sucesso. É o que mantém acesa a vontade de ir sem mais voltar.
Deve ter sua dose diária de imposição sutil. Poesias diárias são sonhos impossíveis. Não é necessário que se tenha jantares românticos todas as semanas. Ou que todos os meses se vá ao cinema. Nem sequer que se ganhe alianças de prata todos os anos.
A conquista se dá no ouvido atento ao outro. No cafuné feito de maneira inesperada. No beijo roubado no cangote. No mimo vindo do nada. No olho no olho. Mas há certas ocasiões que merecem um destaque especial. Quem não gosta de se sentir importante para seu amor?
O que deixamos de perceber é que a fila da vida anda e, se não nos apressarmos em acompanhá-la, ficamos sozinhos, para trás. Normalmente há um comodismo preguiçoso depois da conquista. E é aí que a relação nos escapa das mãos. Quando nos damos conta, as mãos não mais se tocam. A fila andou e ficamos sós, absortos em nosso mundo autista e confortável.
Há muito desisti de conforto. Chutei e chuto o balde quantas vezes forem necessárias para a fila não parar. Ando de mãos dadas nessa fila, tento acompanhar o passo. Mas, às vezes, mãos não conseguem manter-se unidas. E vêm outras. E vão. É assim que é. É assim que deve ser nessa fila que insiste em andar.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Ter noção



Ter noção?
Silvia Britto

O que é ter noção?
É tomar CHICABOM e não ficar toda lambuzada?
É levar um caldo da onda e não sair com areia até no sizo superior esquerdo?
É achar que o futebol é o ópio do povo?
É não poder dizer bom dia ao dia, ao sol e às flores?
É não poder ler de cabeça pra baixo?
É não poder fazer sanduíche de melancia?
É honrar seus compromissos e a verdade, doa a quem doer?
Se é, não não...
Quero não...
Ter noção.

E NÃO ter noção?
É dizer "te amo" quando o coração mandar?
É poder beijar de língua através do pensamento?
É fazer amor despudoradamente?
É começar a rir sozinha no meio da rua sem ter que dar explicações?
É torcer para o Botafogo?
É parecer ridícula por ser feliz?
É amar quem se quer, do jeito que se quer, e ficar feliz apenas com isso?
Se é, sim sim...
Quero sim...
Ser assim.
 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Só acontece comigo...


Só acontece comigo...
Silvia Britto

Quando digo que há coisas que só acontecem comigo, ninguém acredita...
Toca o telefone, aqui em casa, e eu atendo:

- Alô.
- Oi amor! Que saudades da minha princesa linda! Amo você!
- Que bom! O amor é um sentimento tão lindo...
- Sinto sua falta 48 horas por dia, sabia?
- Você é um belo de um conquistador, hein?
- É que você me deixa assim... Eternamente apaixonado.
- Rsrsrsrs. Já me falaram isso antes. Mas a eternidade foi muito curta.
- Ahhhhh! Mas ainda bem que não durou! Você foi feita pra mim...
- Já ganhei o dia! Rsrsrs.
- Você dormiu bem, meu anjo?
- Maravilhosamente! Mas também, com essa vitória do Fogão!
- Fogão? Mas você não é flamenguista?
- Deus me livre e guarde! Fogão até morrer!
- Quem está falando? Marianinha?
- Não... Aqui é a Silvinha, serve? Rsrsrsrs.
- KKKKKKKKK! Desculpe! Pensei estar falando com a minha namorada!
- Não peça desculpas... Faz tempo que não recebo uma declaração de amor tão linda.
- KKKKKKKKK! Você é dez, sabia? E com esse senso de humor e essa beleza, duvido que não receba ou vá receber muitas declarações muito em breve. Além de tudo, você é linda!
-E como sabe que sou linda, seu mulambinho? Estamos ao telefone! Ou você trabalha para o Obama?
- KKKKKK! Sua beleza não precisa de olhos para ser vista. Você é linda e disso eu tenho certeza.
- Obrigada, querido. Foi muito bom falar com você. A vida sempre me dá esses presentes maravilhosos. Agora ligue para a sua Marianinha, que já deve estar sentindo muito a sua falta.
- Vou ligar. Ela nem vai acreditar que falei com um anjo tentando encontrá-la. Beijo, anja linda! Siga em Paz e obrigado por falar comigo e me brindar com sua linda energia.
- Beijo beijo!
- Beijo.

...




segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A Paixão Não Escolhe Raça

A Paixão Não Escolhe Raça
Silvia Britto


Há momentos em que a vida, essa sacana, resolve fazer das suas. 
Estava quieta em meu canto, brincando e flertando qual lagarta recém-transformada em borboleta, quando me deparo com duas espécies totalmente diferentes que chegaram para "zunzunear" meu voo: um gato e um cachorro. 
Sempre preferi cachorros a gatos. Leais, previsíveis, dóceis, carinhosos. Já gatos me passam uma ideia de liberdade arrogante, senhores do pedaço e uma segurança quase debochante. 
A vida, em um de seus eternos testes, presenteou-me com um cão e com um gato encantadores. 
O gato prendeu-me pela sua extrema sensualidade, seus poemas suas palavras, sua inteligência crítica e cruel. 
O cão encanta-me pela sua docilidade, sua brincadeira moleca, sua música, sua meiguice descompromissada.
O gato é egoísta demais. Vem quando quer, fica o quanto quer e só demonstra seu carinho em pequenas doses, que sorvo como se fosse a última vez que receberei tal atenção. Me ama mas não me quer. 
O cão chega assim que assovio. Enche-me de carinhos e mimos. Trata-me como se para ele, fosse a última vez. Mas está sempre pronto se o assovio ecoar de algum outro chamado. Me quer mas não me ama. 
Pensando bem, chego à conclusão de que cão e gato não são inimigos. Eles são opostos concretos e absolutos. Completam-se. 
E eu, coitada, no meio, tendo que decidir se me deixo arrebatar pela sexualidade magnética do felino ou pela fidelidade infantil do cão. 
Como decidir? Como seguir sem violentar minha essência? A vida, repito, essa sacana, bem sabe que sou a felina mais canina que há. Adoro brincar com o cão, mas quando canso, quero deitar-me ao sol com o gato. 
E tanto se completam essas duas paixões, que vejam quanta ironia: meu cão tem um gato e meu gato tem um cão! 
E eu, a essa altura só consigo pensar, MELECA!


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Mulher Maravilha do metrô

Mulher Maravilha do metrô
Silvia Britto

Adoro andar naquelas calçadas rolantes da estação de metrô da Cardeal Arcoverde, em Copacabana.
Vou andando e pensando:

- Perturbadores da Paz e da Ordem, aqui vou eu! RÁ!!!!!!!!

Sinto-me a própria Mulher Maravilha!
Hoje mesmo tive essa sensação, de ser uma heroína superpoderosa.
Enquanto eu ia, com meus desvaneios de poder, em direção contrária vinha uma menininha de lá seus sete aninhos.
Ela me fitava de longe.
Quando cruzamos, ela sorriu, cúmplice.
Certamente, ela também é uma garota superpoderosa!

- RÁÁÁÁÁÁÁ!!!!!!!!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sobre Túneis


Sobre Túneis
Silvia Britto


Tenho algo a te contar sobre túneis.
Sou praticamente uma especialista neles.
Desde pequena que os tenho atravessado com uma certa constância.

O primeiro deles foi quando eu era bem pequenina, seis aninhos, ainda em São Luis.

Certo dia, meus pais chegaram com a seguinte bomba:

- Vamos mudar para o Rio!

Lembro claramente que desabei a chorar. 
Minha primeira reação foi:

- Mas eu não sei nadar!

Todos riam quando esse meu pavor lhes era revelado.
Eu me sentia profundamente ferida e irritada com aquela reação adulta e insensível.
Então não percebiam que, para uma criança, morar em um "rio" era muito perigoso?
E os jacarés? As piranhas? As cobras de rio? 
Até hoje tenho pavor de jacarés.

Chegou o dia. E lá fui eu, lágrimas saltando-me dos olhos, obrigada a cruzar esse túnel enorme que me levaria 
da pequena Rua de São Pantaleão, em São Luis, ao desconhecido Rio de Janeiro. 
Lembro-me de ir pensando por que não poderia, pelo menos, ser o Rio de Fevereiro, meu mês preferido, do meu aniversário...
Havia muita coisa mal explicada.

Quando o avião levantou voo, meu coração acelerou, meu queixo caiu e os pequenos olhos arregalaram-se.
Senti uma sensação de liberdade inigualável. Até então, não sabia que podia voar!
E quando cheguei ao tal de Rio...
Bem, não preciso descrever o Rio. 
Não é por acaso que esta cidade recebe a alcunha de Maravilhosa!

A partir daí, perdi o medo de túneis.
Pelo contrário, eles me excitam. 
Fico a procurá-los por onde quer que eu vá.
Aprendi que, na verdade, são facilitadores de caminhos. 
Já imaginaste ter que chegar a Copacabana passando por cima de uma montanha? Até desanima...
Túneis são atalhos. São diretos.
Poupam-nos de ter que perder um tempo enorme de vida procurando maneiras de chegar.

Outra característica muito importante: eles sempre têm uma saída! 
Ou nunca reparaste na luz que fica do outro lado?
Também não há bifurcações em túneis! Olha que demais!

Túneis me fascinam. Significam mudanças rápidas.

Reparaste como, por muitas vezes, também nos servem de abrigo?
Com certeza já te aconteceu de estares dirigindo, em meio a uma chuva torrencial, 
de furar cucuruto de menino (como dizia minha avó), 
e sentir-te totalmente aliviado ao entrar em um túnel. 
São abrigos fantásticos.
E quando não desejamos ser encontrados? Não há esconderijo mais perfeito. 
É só entrar em um de nossos inúmeros túneis e SHAZAM!
Resguardamo-nos de tudo até estarmos prontos para retornar.
Muitas vezes, é só o que queremos. Abrigo e esconderijo.

Não tenhas medo de teus túneis! 
Se quiseres, posso até te dar a mão e te ajudar a atravessar muitos deles.
Adorarei! 
Verás como são fascinantes e excitantes.
Se alguma vez achares que o caminho está muito escuro, sorri! 
Deixa que esse teu sorriso lindo se encarregue de iluminar teu caminho.

Espero ter te ajudado a entender um pouquinho mais sobre esses atalhos da vida.
Objetividade, franqueza, honestidade, coragem, determinação, amor. 
São atalhos de vida. 
Túneis nossos de cada dia.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O Amor


O Amor
Silvia Britto
Escrevi o título deste texto que agora leem e fiquei longos momentos olhando para ele, tentando entender minha ousadia ao querer falar de algo já tão bem falado, escrito e cantado por este mundo afora. Mas enchi-me de coragem e resolvi seguir em frente, afinal, o amor não se limita aos Drummonds e aos Buarque de Holanda. Nós, reles mortais, também padecemos desse mal.
Eu disse mal? É. Disse. Minha história não é uma de vitórias. É mais uma, dentre milhões, que terminam em lágrimas e tristeza. O amor encanta, hipnotiza e nos faz parecer eternos enquanto dura. Mas cobra caro por tal encantamento. E deixa um rastro de dores quando termina.
Eu disse termina? É. Disse. O amor é uma das poucas coisas que não acaba quando termina. E esse é o meu caso. Não acabou, mas terminou. Nunca acabará. Será parte eterna de meu baú de riquezas, como tantas outras emoções lindas que vivi e que carrego como joias raras, encrustadas em meu viver.
Infelizmente, o amor tem dois inimigos mortais que o fazem terminar: a desconfiança e a teimosia. E foram exatamente esses dois vilões que invadiram a minha felicidade. Mentiras que geraram inseguranças e histórias de vida que geraram teimosia. Quando esses dois se encontram, o resultado é fatal.
Eu disse fatal? É. Disse. A fatalidade não é uma palavra apenas negativa. Foi ela que o trouxe a mim e também ela que o levou embora. A vida é feita de encontros e desencontros. A fatalidade é aquela que gerencia esses encontros. É brejeira. Intempestiva.
Por isso, eu digo adeus a esse amor. Adeus, querido. Você nunca acabará. Deixo um pedaço de mim, tatuado em teu peito. Pequeno, para não ocupar-te os espaços. Levo-te também em meu seio e terei-te comigo nas noites frias do inverno que se aproxima, para que as lembranças acalentem-me a alma. Minha desconfiança e tua teimosia, terminam esta contra-dança.
Eu disse terminam? É. Disse. Terminou.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Minha linda Farofa

Minha linda Farofa
Silvia Britto

O dia, nove de setembro. O ano, 1983. Há exatos 30 anos nascia a menina. E eu, com meus então vinte anos de idade, fui visitar a mais nova princesa. O “rimão” esperava Isabela. Mas foi o avô quem definiu: Flavia! Flavinha para todos. Farofinha, só para mim.
E a minha menina cresceu. Passei de Meiena a Molena. De Morena a Tia Mô.
A vida nos separou quando a menina tinha cinco aninhos e eu, vinte e cinco. Mas nada separou nossos corações. A menina foi visitar-me, vim visitar-lhe. Mas nada separou nossas almas. Voltei e a menina foi. Conheceu outra língua mas sempre soube traduzir o que sentíamos em beautiful feelings.
Ficou geniosa, a menina. Para uns, passou das medidas. Para mim, só estava explodindo em vida, que teve que aprender a controlar. A menina chorou, a menina caiu, a menina lutou e, finalmente, renasceu. Renasceu em sua vontade de ser feliz e acreditou, finalmente, na sua grande beleza.
A pequena, que um dia quis “entlar na máquina, né?”, que, sapeca, tomou o calmante da avó, que encontrou pelo chão, que se acabava de rir quando dizia “bunda” em uma música de escabrosos palavrões que cantava com a doçura de um anjo, finalmente cresceu.
Cresceu na idade e na sua autoconfiança. Nas suas decisões. Na sua autonomia. Nunca em seu coração. Ou no meu! Casou, a menina! E hoje, segue linda e reconhecida por seu talento de ensinar. E eu, aqui, apenas observando e exultante de ser testemunha dessa vida que desabrochou.
Hoje, mais uma vez não estou contigo em matéria, minha menina. Mas meu coração, jamais te abandonará. Somos família de coração. Somos muito mais do que tia e sobrinha. Somos cúmplices de vida!
Amo você, minha Farofinha linda. E tenho a certeza de que você também me ama. Sigamos vivendo. Nem sempre sorrindo e nem sempre cantando. A vida não é apenas uma brincadeira para os que tem coragem de voar. Mas também, quando ganhamos altura, temos a visão do paraíso! Continue voando lindo e sempre que olhar para o lado, eu lá estarei.
Antes de terminar, e como de praxe, um beijo à que pariu tão precioso pássaro.

Agora me dê a mão e cantemos juntas:  “Os plesos leunidos na cadeia centlal...”!

domingo, 8 de setembro de 2013

Vestígios

Vestígios
Silvia Britto

Por mais que eu tente, volte às palavras passadas e aos momentos vividos em busca de vestígios de cumplicidade de um amor, só encontro mais e mais certezas de que fui apenas mais uma a preencher um tempo no espaço. A preencher o efêmero desejo de quem não se entrega ao amor.
Pelo menos, eu acreditei naquele sentimento e pude transbordar o que trazia dentro de mim. Amar, e amar muito, já é quase cem por cento do caminho. A completude depende apenas daqueles fatídicos 2 por cento que vêm do outro: um por cento de verdade e um por cento de cumplicidade.
Busquei o resgate dessa paixão por achar que havia possibilidade de totalizar cem por cento. Por isso mexo e remexo nesse baú de textos e memórias. Infelizmente, só encontro desamor e falta de carinho com a minha entrega.
Não queria que assim fosse. Nunca ficamos felizes com a falta de reciprocidade. Mas por mais que estivesse entregue, estava sozinha. Estava renegada a ser fonte de comentários maldosos de amantes possessivas e ciumentas. Era objeto de deboche por amar tanto e acreditar no amor. Estava sendo mal cuidada por quem julguei me amar.
Não lamento. Aprendo. Aprendo? Acho que não. A vida não me ensinou a dosar a minha entrega e o meu amor. Tanto melhor. Saio no lucro de ter vivido um sentimento puro e bonito, embora não recíproco.
Por quem não soube entender-me e aproveitar-me, sinto carinho. Não me entendam mal. Não sou nenhuma idiota, mal amada, santa ou deprimida. Sinto carinho porque essa é a minha natureza. Carinho pelos meus doadores e pelos meus usurpadores. Espero de coração que consigam ver sua imagem no espelho empoeirado de suas almas e que ainda dê tempo de resgatar esse sentimento tão maravilhoso chamado coragem.
E eu? Ah! Eu sigo por aí com mais uma linda decepção nas costas para enriquecer a minha estrada. Quem não tem medo de voar, nunca terá medo de cair.
E vamos à praia, que o sol está morto de desejo de me abraçar e o mar de me lamber!

Convite de xurrascu

Convite de xurrascu
Silvia Britto

A data num tá escorreta!
Foi burrice da mossa  que digetou pra mim!
Essas pessoa são muito dolentes, preguiçoza mermo.
Tem que tu fazer tu mermo pra sair bom!

Sem istresses, tio!

Intão! Tu não respondeu do convite.
Será que tu ia querer vim num xurrasco na laji,
Cum várias pessoa amiga,
No meio dia dum dia de verão de 40 grau,
cum aza de frango e torresminho,
Cuma impada di galo di acompanhante,
cerveja fresquinha, temperatura natural, tirada do isopor,
ao som do Belo e do Wando?
Diliça!

Eu fico feliz em qualquer geito!
Disso não tenho, a menor mínima dúvida...
Só depende da companhia que fica com agente.
E com vc, tchutchuco, como até doce de jaca(Eca!!!!) de sobrimesa.
(acho que umas das únicas coisas que não guento nem o cheiro, essa coisa é jaca!!!)

Marcamo quando?
Na sua laje ou na minha?
Seje rápido e responda logo.
To ancioza!

Segue em anexado uma foto tirada no ultimo dia que fiz um xurrasco ca turma.
Dessa vez vai ter menas gente pra ficar tipo assim mais intimidade, formô?