sábado, 31 de agosto de 2013

Choro sorridente



Choro sorridente
Silvia Britto

Sorrio toda hora, para todo mundo.
Isso foi uma opção que fiz na vida. 
Sorrir traz à tona a ingenuidade e pureza das pessoas, um de seus bens mais preciosos. 
Não gosto de coisa pouca. 
Diferentemente de mentiras sinceras, meios sorrisos não me interessam.  
Quando as pessoas sorriem, mostram-me seus corações e suas almas.
E isso é lindo de morrer. Ficam plenas. Por isso você ficam tão lindas quando sorriem.
E, posso falar? Sou frequentemente brindada com sorrisos! 
Por isso me apaixono facilmente.
É ou não é um dom??

Exagero dizer que faço isso o tempo todo! 
Posso  confessar? Choro quase todos os dias. 
Sempre que não consigo conter a emoção dentro do peito, como agora.
Ou quando entro em contato com a solidão que mora dentro de mim. 
Dessa não consigo me livrar. 
Ela me acompanha desde que soube o que significava essa palavra tão intensa. 
Antes disso, era apenas um sentimento não identificado. 
Mas é um choro sorridente, de quem não tem medo de experimentar todos os temperos da vida.
E rindo e chorando, vou dançando a minha ciranda.

Um beijo muito molhado, na verdade soluçante, e emocionado.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A burocratização do namoro



A burocratização do namoro
Silvia Britto

Quando converso com a garotada mais da minha idade, os jovens há mais tempo, a opinião é sempre unânime de que, antigamente, as coisas eram muito mais difíceis. Eram necessárias três sessões de cinema, quatro sacos de pipoca e dois sundaes de chocolate até que surgisse o primeiro beijo. E ainda dos inocentes! Sem língua, que era uma maneira de "dar" da época.
Dizem que hoje em dia as coisas estão mais fáceis do que beber Coca-Cola, que, segundo a minha mãe, também não era fácil beber à época dela... Com que facilidade nos habituamos a coisas ruins... Mas aí é outra história... Voltemos ao beijo comprado com sundae.
Pois eu, como petulante e questionadora que sou, tenho que discordar. Tudo bem que, hoje em dia, beijar parece ser a segunda coisa mais fácil em um relacionamento, perdendo exatamente para o "dar". Mas discordo que as "coisas" estejam mais fáceis.
Explico-me.
Outro dia, conversando com minha filha adolescente, consegui atualizar-me e entender a modernidade dos relacionamentos. Ao vê-la toda feliz chegando de uma festa, perguntei-lhe se a festa havia sido boa. Ela sorriu feliz e me contou que havia beijado um "carinha". Toda emocionada e quase à beira das lágrimas por constatar o crescimento de meu bebê, falei; "Que lindo! Meu bebê está namorando!" O que veio em seguida fez com que me sentisse a mais jurássica das criaturas do mundo. Ela, indignada, virou-se para mim e disse: "Ai, mãããããeeeeeeee! Claro que não, néééé?!".
Fiquei confusa. Então não fora ela própria que acabara de dizer-me que havia beijado um "carinha"?
E veio a explicação mais do que lógica. Pasmem! Beijar, hoje em dia não quer dizer que estamos namorando! Pelo que entendi, o que se faz hoje em dia é "ficar". Um tipo de noivado para namorar, "sacaram"? Você fica uma, duas, três vezes, até perceber se quer realmente namorar aquela pessoa. É um tipo de teste para ver se o outro merece a alcunha de namorado... Mais uma vez pergunto: sacaram?
Pois é. Isso facilita a coisa chata que era ter-se que terminar com alguém quando a química não rolava. Pelo que pude entender, da segunda vez, você simplesmente "chega junto"... Se rolar, rolou! SACARAM? Se rolar mais do que três vezes, aí sim, um dos dois, para variar o menino (Atenção! Isso não mudou!) deve se encher de coragem e finalmente fazer a pergunta que vai mudar tudo: "Quer me namorar?" Aí sim! Se a menina aceitar, é o êxtase total! Só então são permitidos os passeios de mãos dadas e as idas ao cinema.
E vocês acham que tudo está mais fácil... Qual nada!

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Te amo Fogo!

Te amo Fogo!
Silvia Britto

Bom dia amigos. Acordei com o coração apertado pelo que estão fazendo com o meu grande amor.
Nunca irei parar de amá-lo, pois esse amor é incondicional.
O que morre é a alegria e a vibração de vê-lo em campo, orgulhoso e altaneiro, encantando nossos corações.
Até acredito que faremos bonito neste campeonato, pois temos elenco de sobra, se não o venderem todo antes de partirem.
É uma pena ter que ver a minha Gloriosa Estrela submetendo-se aos mandos e desmandos daqueles que, provavelmente, não sabem nem o que é uma bola.
Nunca conheceram a alegria de estar em campo, com milhares de pessoas clamando por seus nomes.
E o futebol, assim como o samba e os grandes prazeres gratuitos da vida, segue perdendo o seu sabor e tornando-se apenas mais uma S/A.
TE AMO FOGO!


domingo, 25 de agosto de 2013

Próximo!!!

Próximo!!!
Silvia Britto

Já estou CHEIA de me sentir VAZIA de paixão correspondida.

Tive um "encontro" ontem à noite que putz!

Fui a uma festa de aniversário dançante (festa sem dança, pra mim, não é festa... É reunião para troca de abobrinha.) de um amigo de um cara com quem andava trocando alguns olhares promissores e sorrisos marotos. Dancei muito, conversei com todos, enfim, fui eu mesma.
Ao final da noite, o abestado disse que eu tenho muita energia e luz e que chamo muita atenção. Disse que ficou impressionado com meu "talento comunicativo". Por isso ele não sabe se "dá conta"! Nessa hora, a bola, que já estava meio murcha, esvaziou de vez.
Falou meio que brincando. Mas as brincadeiras trazem as maiores verdades, não acham? Perguntou-me se meu ex-marido não sentia ciúmes de mim.
Poxa! Será que eu espanto os homens por gostar de rir e brincar? Não tenho culpa se gentileza e simpatia atraem as pessoas! Vou ter que andar de mordaça pra encontrar quem me queira?? Virar muçulmana e andar de burca? Também vou ter que usar óculos escuros pois já me falaram que meus olhos parecem dois sapinhos verdes e sorridentes, mesmo quando tento controlar o sorriso nos lábios.( Essa cantada que ganhei foi no mínimo diferente e criativa, não acham?)
Depois, a figura ainda me veio com: "tenho a sensação que te conheço há muito tempo, de algum lugar...". ALMAS GÊMEAS? Pra cima de moi? Fala sério!!! Por pouco não perguntei se ele era "O Astro"! Criatividade medíocre. Uma das poucas coisas que não consigo engolir é mediocridade! Morro de preguiça. Ainda por cima, o beijo tinha gosto de empada sem recheio, palito sem picolé, oco, vazio...Eu tinha que provar, né?
Quanto a minha simpatia excessiva "!", é,  o jeito é nascer de novo.Se não posso ser aceita como sou, nessa vida, tenho mais é que seguí-la sozinha e esquecer que beijos e abraços um dia fizeram parte do meu "menu". Há muitas outras coisas que me dão prazer. Um exemplo? Espalhar sorrisos por onde passo.
Sorrindo, as pessoas sempre me oferecem um pouquinho de suas almas e se tornam crianças, livres pra brincar. Isso nem Mastercard compra. Quem sabe na próxima vida não nasço antipática e com isso recebo a glória de poder ter meu amor correspondido?
Já estou CHEIA de me sentir VAZIA de paixão correspondida.
Beijo com sabor de ressaca de desapontamento...

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Carta ao Toy

Carta ao Toy
Silvia Britto

Toyzinho, meu pequeno grande amor,

Antes de mais nada, gostaria de desculpar-me pela maneira abrupta com que te deixei. Nem consegui despedir-me de você como merece. Mas sei que você me entende. O trem da vida não espera, e eu já estava deveras atrasada para embarcar.
Nosso encontro foi especial desde o primeiro dia. Foi um amor fulminante e retribuído em sua total intensidade. Como você, também tenho uma alma cadela. Mas a minha é vira-lata. Daquelas que se entregam totalmente às aventuras e ao amor, pois sabem que tudo que a vida puder nos dar é lucro. E você conseguiu cheirar isso.
Nos adotamos mutuamente e surgiu uma linda cumplicidade. Vou ser eternamente agradecida pela sua devoção e pela sua companhia, no sofá, quando, solitária, eu tomava uma taça de vinho. Sentirei falta de você, ao meu lado, na cozinha enquanto eu preparava o almoço. Sua proteção, ao rosnar a todos que ousavam de mim aproximar-se, foi um dos presentes mais lindos que a vida poderia me dar. E eu boba, achando que a vida às vezes se esquece de mim... Nunca mais poderei ver um carrinho de supermercado ou uma moto sem lembrar-me de você, sistemático nas suas rabugices gostosas.
Mas agora tenho que deixá-lo, meu amor. Não! Eu não disse abandonar, pois nunca abandonamos quem amamos. Apenas tenho que partir. Infelizmente, além de cadela vira-lata, sou também humana. Nós, humanos, temos um pouco mais de dificuldade para amar. Não conseguimos retribuir o amor tão incondicionalmente como vocês, cães de raça e coração puro. E olhe que eu até tento! Mas chega um momento em que uma coisa chamada amor próprio tem que imperar. Amor próprio é quando temos que gostar de nós mesmos para sermos capazes de amar alguém. As pessoas que não o possuem, ou o tem em excesso, não sabem amar. Por isso agora te deixo. Por amor a mim mesma.
Não deixe de reclamar para que eliminem suas pulgas e carrapatos e insista para que limpem seus olhinhos. Eu sei, meu anjo... Ninguém os limpará com tanto jeitinho e cuidado como eu... Mas a vida segue seu curso.
Se tudo correr como o esperado, você partirá antes de mim e, provavelmente, não mais nos encontraremos por aqui. Mas para onde você for, guarde um lugarzinho ao lado de sua caminha para mim que um dia eu chego. E quando sentir meu cheiro, vá logo deitando com as patinhas para cima, me oferecendo sua barriguinha, como sempre fez. E vamos sair para passear, nesse novo mundo em que as coleiras não existem e o amor é pra valer.
Fique em paz, meu anjo. E eu, ateia que sou, ouso dizer que São Chiquinho cuidará de você, pois ele é o santo da humildade, coisa que só os cães entendem.
Te amo para sempre, meu Toy.

Vem! Pode chegar!


Vem! Pode chegar!
SilviaBritto  

Um dos meus lemas de vida é: "Vem! Pode chegar!"
Há pessoas que, quando perdem alguém, acham que esse alguém nunca deveria ter entrado em suas vidas.
Não acredito nisso. 
Todos e tudo que vêm, vêm bem. 
Vão trazer-nos alguma lição valiosa.
Só se dá valor a momentos felizes por causa dos infelizes. 
Há sempre uma conta a ser fechada, um cafezinho a ser terminado. 
Eu quero tudo que a vida quiser e tiver a me oferecer. 
Utopia acreditar em eterna felicidade. 
A tristeza, assim como os dias de chuva, também tem o seu valor. 
Além do mais, o mais gostoso de tudo é o caminho que escolhemos para a tal felicidade. 
Essa, é fugaz e escorregadia. 
Felicidade é um agora sem pressa alguma de chegar.
Não quero ser feliz. 
Eu quero é a alegria de poder ser eu mesma.
Vem! Pode chegar!

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

"Você é esquisita. Você é estranha. Você está amarela!"

"Você é esquisita. Você é estranha. Você está amarela!"

Este e-mail foi importantíssimo para que eu tivesse coragem de começar
a me expor.
Foi a primeira pessoa que me disse que eu sabia escrever.
Veio de um amigo que amo muito, um professor de sala de aula e de vida.
Sempre questionou meu ateísmo e conversamos muito sobre Deus.
Considero esta, uma das mais lindas mensagens que já recebi na vida.
Não é à toa que eu amo esse homem.
Um abraço bem apertado em seu coração. Beijo beijo!
... 

"Tenho dois conselhos: 
Escreva! E...
Ore/reze/medite/dance/agradeça/encontre DEUS! Não necessariamente
nessa ordem...

Leio muito, inclusive textos de alunos que pedem minha opinião: sempre
pouco sincera e muito mais didática: não posso desmotivá-los!!!! Não
combina com minha profissão dizer para eles: continue estudando e
guarde para você  essas  bobagens que escreve. Jamais! E não me julgue
por isso. Eu não tenho compromisso com a "verdade". Meu compromisso é
com a felicidade. "Mentiras sinceras me interessam"...

Mas por que disse isso? Porque você me impressiona com sua escrita.
Seus textos têm naturalidade, tem sabor e simplicidade. Amo a poesia
da simplicidade. Quem gosta de luxo é pobre. Quem gosta de pobreza é
intelectual. Eu gosto de felicidade. E quando vem escrita??? Aí me faz
sorrir ou chorar ou achar uma belezice. Você  tem essa belezice. A
beleza da esquisitice. Meus alunos fingem que não gostam quando eu
digo que eles são estranhos... E repetem isso entre si: "Você é
estranho!!" Ou então digo que eles estão amarelos. E eles repetem
entre si: "Você está amarelo!" E você também, na condição de aluna,
será vitimada com os mesmos comentários: "Você é esquisita. Você é
estranha. Você está amarela!" E o coração de todos eles, ou de todos
vocês, certamente consegue traduzir o que os ouvidos não percebem:
"Você é especial!"

Portanto, use essa belezice que você  possui a seu favor: ESCREVA!
Você vai encantar muitas pessoas. Eu me encanto.  Mostre aos ateus que
DEUS está na beleza dessas palavras. Porque resistir aos "fracassos"
pertence a Deus. Não creio  num Deus para fracassados. Para
conformados. Todos nós temos limites. Felicidade é conseguir
verdadeiramente sorrir dentro do que é possível.

Vá, moça, ser poeta de Deus na vida. É a sua missão!


Beijo  beijo."

Lindo ou o quê?

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A bieleta

A bieleta
Silvia Britto

Esta metida que vos escreve, meteu-se, ontem, pela primeira vez, em uma trilha lamacenta e divertidíssima para jipes 4 x 4. E olhem que só há pouco tempo que descobri que isso quer dizer “tração nas quatro rodas”! Mas pouco importa! Em pouco tempo, provarei que tornar-me-ei uma asno volante... Oops! Quer dizer, ás no volante!
E assim, petulante que sou, assumi meu lugar de navegadora e lá me fui para o meio do mato e da lama. Obviamente, como não sou lá muito obediente, fui tomando uma bela de uma cervejinha gelada, que não sou besta!
Foi  tudo maravilhoso, mas também era necessário algum aprendizado mecânico. E ontem foi a vez da bieleta. Aprendi que tanto faz o tamanho da bieleta, desde que ela seja eficiente e rígida. Não devemos ficar trocando toda hora de bieleta, pois em time que está ganhando, não se mexe. Há bieletas para todos os gostos: pequenas, grandes, grossas, finas. Mas isso não importa, desde que ela saiba o que tem que fazer e o faça bem. Bieletas apenas tem que encaixar  gostoso, para que o motor adquira um balançado gostoso e cadenciado. Ou seja, sabendo usar a sua bieleta, ela vai te recompensar, sacaram?

domingo, 18 de agosto de 2013

Coração iluminado

Coração iluminado
Silvia Britto

Depois de um longo período de peito apertado pela falta de cumplicidade, pela entrega não retribuida e pela displicência dos que pensam que um coração conquistado deve ser colocado de lado, no canto da estante, meu coração respira, iluminado.
Já não mais me lembrava do que é ser tratada com cuidado e ternura. Peguei-me sorrindo para mim mesma, no espelho de água que a chuva deixava na noite molhada. O vinho ruim, alimentou-me a alma, e pareceu-me um néctar dos deuses, a aquecer minha solidão, dividida, até aquele momento, entre a acomodação conformista e o vácuo da incerteza..
Na penumbra do quarto, meu corpo foi redescoberto e minha energia capturada em forma de números "sete" e cores verdes. Minha essência irradiou-se em brincadeiras e jogos da verdade excitantes e deliciosos por terem suas regras obedecidas de forma sincera e sensual. Encanta-me entregar a alma em  ondas de gozos infantis.
A manhã chegou com cheiro de café e pão quente com manteiga. Com reencontro de amigos de infância. Com a delícia de fazer novos amigos e viver novas emoções. Na simplicidade do cheiro de esterco e lama. Na sintonia com os cães, a natureza e o mato.
E a cada toque que eu dava, sentia a reciprocidade na pele de quem sabe sentir. Sabem aquela sensação de ter as mãos acariciadas de volta a cada afago que fazem? Pois é. Que delícia ser vista, chamada de linda, e ter minhas palavras ouvidas e transformadas em músicas de Tim Maia.
Será que é amor? Definitivamente sim! Aonde vai dar esse amor? Pouco me importa! E mesmo que esse novo amor transforme-se apenas em amizade, já cumpriu a sua função de iluminar meu coração.
E te beijo com a boca de coração iluminado.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Um beijo e um abraço

Um beijo e um abraço
Silvia Britto

Acabo de chegar a minha casa, vinda de uma situação pra lá de humilhante, onde a culpa foi única e exclusivamente minha, por esperar mais das pessoas do que elas podem me dar. Já havia passado pela mesma humilhação por duas vezes anteriores e não tenho vergonha de colocar minha cara à tapa e assumir minha ingenuidade. Já falei antes, sou ingênua por opção, por querer acreditar sempre no melhor das pessoas, por não ter medo de acreditar no amor.
Chorava muito no ônibus que me trazia de volta à minha verdade, enquanto flashes desse ano que passou atropelavam minha mente. Fui acusada de sofrer de baixa autoestima, com o que discordo categoricamente. Meu amor próprio é tão grande, que acreditei ser capaz de contaminar àqueles que são limitados na arte de amar.
Mais uma vez a vida me provou estar errada. Não se contagia um coração fechado ao amor. Por outro lado, a vida também me provou estar certa em sempre acreditar e entregar-me toda e sem pudor. Apenas assim, sou capaz de entender, com verdade e honestidade, o mundo e as pessoas que me rodeiam,
Pois bem. Chorei e chorei e chorei. E solucei no ônibus sem o menor constrangimento de ser eu mesma. As pessoas me olhavam e deviam pensar: "Coitada! Deve ter perdido alguém muito querido ou é doida de pedra...".
E é mais ou menos isso. Perdi alguém a quem muito amei e também sou louca de pedra. Mas na verdade, ao parar e colocar meus sentimentos em ordem, vi que não fui eu quem perdeu. Eu fui perdida, na voz passiva mesmo. Na passividade de quem passou a vida sem conseguir ser verdadeiro e leal até mesmo com os próprios sentimentos. Como poderia eu esperar lealdade com os meus?
Agradeço muito à minha intensidade e vontade de ser feliz e honesta com o mundo. Nesse choro convulsivo, foi-se toda a minha dor. Entendi, de uma vez por todas, que não se pode esperar de ninguém nada além do que nos possa ser dado. Há pessoas que nasceram autocentradas e vaidosas. Verdadeiros Narcisos. Que não abrem nenhuma brecha aos que os rodeiam e que fazem da solidão sua melhor cúmplice. Essas não são para mim. Eu sou mais do que isso. Eu quero mais. Eu quero dar, mas também acho que mereço receber, se não no mesmo nível em que me dou, pelo menos de forma honesta e assumida.
Acabei de ver que fui excluída dessa vida só. Pena. Já havia conquistado todo o entorno dessa tristeza. Fiz amigos, despertei amores, ganhei pessoas que até posso agora perder em nome de uma lealdade para mim incompreensível. Mas tenho certeza de que as pessoas a quem realmente toquei, não me abandonarão e que seguiremos felizes nossa estrada de amizade e cumplicidade.
Desci do ônibus, com literalmente duas trouxas de roupa, qual retirante de uma situação de aridez e sêca emocional. Resolvi fazer o caminho da Praia de Botafogo à Urca de taxi. Meu coração já estava mais leve, pois minha dor, deixei-a toda no ônibus, com o salgado de minhas lágrimas.
O motorista do taxi, mostrou-se ser mais um daqueles anjos que a vida me presenteia, sempre que deles preciso. Começamos uma conversa leve e verdadeira, como só se tem com velhos amigos. Ele poderia até estar interessado em me "cantar", mas mostrou-se educado e gentil até nosso destino final. Rimos muito e ele me disse que não pareço ter os meus já bem vividos 50 anos. Que a alegria e juventude da minha alma passavam pelo viço do meu olhar. E querem saber? Acreditei. Essa sou eu mesmo. Uma moleca de 50 anos. Uma mulher que se conhece e sabe que tudo que faz é por amor e vontade de facilitar a existência de seus parceiros de jornada. Sigo só de alguém que até conseguiu me ver mas não soube me valorizar da forma que mereço. Chega de tentativas vãs. E sigo sem mágoas, palavra que meu coração desconhece.
E lá vou eu, estrada afora, com meu rebolado, que é bem mais que um poema.
Um beijo e um abraço.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Pessoas especiais


Pessoas especiais
Silvia Britto

Pessoas especiais, são aquelas que têm a habilidade de dividir suas vidas com os outros.
Elas são honestas nas atitudes, são sinceras e compassivas.
Sempre dão por certo que o "amor" é parte de tudo. 
São aquelas que têm a habilidade de se doar aos outros.
Lidam bem com as mudanças que surgem em seus caminhos. 
Elas não têm medo de serem vulneráveis.
Acreditam que são únicas e têm orgulho de ser quem são.
Pessoas especiais, são aquelas que se permitem o prazer de estar próximas aos outros.
Importam-se com a felicidade de seus companheiros de vida.
Elas vieram para entender que o amor é o que faz a diferença na vida.
Pessoas especiais, são aquelas que realmente tornam a vida cada vez mais bela.
Todos somos especias, desde que acreditemos nisso.
Um beijo e um dia muito especial a todos!

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Sou esquisita.

Sou esquisita
Silvia Britto

Estou longe de ser normal.
Sou esquisita. 

Já percebo minha esquisitice desde criança. 
No começo, lutava muito contra ela e tentava muito me enquadrar no mundo normal. 
Tarefa difícil para um espírito inquieto e questionador.
Passava muito tempo sentindo-me inadequada.
Porém, o tempo resolveu ser meu amigo e aos poucos fui liberando meu espírito. 
Obviamente, comecei a ouvir coisas do tipo "você não é muito normal". 
Ao invés de me preocupar, isso só me dá uma imensa alegria. 
Mostra que achei o caminho da minha liberdade, da liberdade de ser eu mesma. 
O mais interessante é que comecei a atrair pessoas lindas, que têm tudo a ver comigo. 
A vida ficou plena de emoções e finalmente quebrei o vidro que me separava da brincadeira. 
Aliás, esse vidro era a metáfora que usava nas minhas sessões de análise, ao descrever essa distância que me separava do mundo real, dos que tinham direito a brincar

Assumo: sou anormal e esquisita sim! Com muita honra! 


Gentileza gera decepção

Gentileza gera decepção
Silvia Britto

Estava eu, sentada sozinha em um restaurante, coisa comum com os digamos assim, avulsos, quando deparo-me com um olhar que me hipnotizou. Sabe daqueles que você acaba por perde-se de tão profundo?
Não é nem que eu goste de homens altos, morenos, olhos profundos, barba por fazer, expressão de "cuida-de-mim" no rosto, boca carnuda e um cheiro enebriante que atravessa o salão. Não!
E nesse olha pra lá e olha pra cá, percebi que ele também estava me olhando.
O coração acelerou e tive que engoli-lo com o copo de água à minha frente.
De repente, o Apolo fez um movimento de levantar-se, fitando-me descaradamente.
Tive que controlar meu corpo pra que ele mantivesse a pose de não tô nem aí.
Mas a cabeça começou a disparar, essa sacana incontrolável!
Comecei a imaginar que ele pediria para sentar-se comigo, pediríamos uma garrafa de vinho, ficaríamos levemente embriagados, riríamos da vida e que, no fim, ele me levaria para sua casa e não mais me deixaria partir dos seus lençóis de algodão egípcio.
Ele veio, passo firme, determinado e começou a se abaixar ao meu lado.
Pensei e quase falei: "Não precisa ajoelhar-se meu lindo! Pode sentar!".
Ainda bem que sou meio lerdinha para algumas coisas...
Apolo levantou-se com minha bolsa na mão e disse: "A senhora deixou sua bolsa cair".
Quase morri de decepção, mas consegui balbuciar um trêmulo agradecimnto.
Mas quer saber? Ele não fazia mesmo o meu tipo!
Meu rebolado, que é mais que um poema, pede algo com mais pegada!
Sacudi e sorri.
E só mais uma coisa, ô Apolo afrescalhado...
Senhora" é a sua vó!
E tenho dito!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Namoro virtual

Namoro virtual
Silvia Britto

Sempre achei esquisito esse negócio de namoro virtual. Porém, resolvi me render aos avanços tecnológicos e aos apelos do amor cibernético.
Certa feita, comecei a conversar com um homem muito interessante, que conheci em um chat de futebol. Conversa vai, conversa vem, começamos a trocar informações pessoais, fotos (sempre as mais bonitas, é claro), falar de sonhos, filhos, vida. Quando vimos, estávamos totalmente envolvidos e a conversa acabou na cama, ou melhor, #nacama#, na linguagem internáutica.
Depois disso, era um grude só. Ele curtia todas as minhas fotos, comentava dizendo doces delícias, fazia poemas e poesias. Eu, cada vez encantava-me mais com aquele homem gentil e romântico que  Santa Internet colocou em minha tela.
O borogodó foi se intensificando até chegarmos ao ponto de nos encontrarmos pessoalmente. Eu, sempre atirada e destemida, fui ao encontro daquele que parecia ter sido feito para mim. E não me desapontei, acreditem! Começamos a namorar também na boa e velha realidade.
Continuamos nos vendo e era sempre muito bom. Acontece que, virtualmente, a coisa começou a murchar de tal forma que comecei a sentir que algo me faltava. Onde estavam aquelas poesias lindas de começo de "teclação"? As fotos, eu as postava e mereciam apenas um "curtir" e olhe lá! Estaria tudo bem se as poesias não continuassem brotando, talvez direcionadas a diferentes perfis. As fotos das amigas, favoritas ou apenas conhecidas, não apenas eram curtidas como recebiam comentários do tipo: "AFF!"... "GATONA!"... "MORRI!"... E eu lá, com minhas fotinhas, antes tão elogiadas, agora totalmente ignoradas. :(  Havia tornado-me uma amiga restrita.
Aquilo doeu fundo no meu orgulho internáutico e cheguei a reclamar com o dito cujo. Sabem o que ele me disse? "Ahhhhhh!! Mas você é minha namorada!". Quase não acreditei em tamanha sensibilidade! Tal e qual uma patada de elefante! Segundo o cara de pau, namoradas reais não mereciam carinhos virtuais.
Resultado, deixei o sacripanta para lá, com suas fãs virtuais e tratei eu também de iniciar o meu fã clube virtual! Ora faça-me o favor!!

Vida de cadela

Vida de cadela
Silvia Britto

Bom dia!

Aos que não me conhecem ainda, sou a Ritinha. Uma vira-lata de raça, segundo todos que me conhecem pois, sem falsa modéstia, sou uma tchutchuquinha, vide foto. Meu pelo é pretinho e brilhoso com uma estrela branca no peito, bem a calhar, pois sou botafoguense de corpo e alma.
Fui abandonada na rua e levada para um lar provisório, onde fui adotada, aos três meses de idade, pela Mommy e pela Momô, minha vó. Elas são duas cadelas lindas, que andam em duas patas e não têm rabo. Bem... Momô até que não desaponta nesse quesito de rabo, hehehe. Agradeço todos os dias a São Chiquinho por ter me dado um lar tão perfeito. As duas me incorporaram como a caçula da família e me enchem de mimos e afagos, apesar da minha habitual sapequice.
Acabo de chegar de um passeio com a Momô, que batizei de “circuito paquera”. Descemos a ladeira da São Sebastião na Urca e paramos no portão de um lindo cachorrinho, desses de madame, orelhudos, que fica louco quando me vê. Eu vou lá, dou uma cheiradinha de leve nele e sigo com meu rebolado. Chegamos à mureta e eu sempre subo para sentir o cheirinho do mar. Adoro o mar! Daí entramos em uma rua onde há um vira-lata dourado que mexe com meu coração. Ele fica por detrás de um portão verde, tadinho, e pulamos muito mas não conseguimos atravessar o obstáculo.
Do portão verde seguimos para a pracinha, onde sempre encontramos o Flash, outro vira-lata preto, mais peludinho que eu. Esse é uma farra! Momô e seu dono ficam de papo enquanto nós pulamos, cheiramos, nos abraçamos, nos jogamos! Adoro brincar com o Flash!
Já no caminho de volta, paramos no portão dos doberman! Dois monstros enormes e mal educados que se pudessem, pulariam na minha goela. Mas o portão não deixa! Bem feito! E eu fico do lado de cá, provoquenta que só eu, sob a proteção da Momô, que morre de rir e adora a bagunça que faço. Ah, essa Momô! Tão moleca quanto eu.
Às vezes ainda encontramos com a Belinha, uma labrador linda. Mas é metida, a Belinha. Nunca me dá bola. Mas adora se abrir toda para os afagos da Momô! Aliás, a cachorrada toda adora a Momô. Acho que ela tem cheiro de bifinho!

E chegamos à nossa casa, onde corro direto para o meu potinho de água, que a Momô faz questão de deixar bem fresquinha para mim. Descanso um pouco no chão geladinho da área e sigo pra sala, em busca do meu pedacinho de sol que entra pela janela até a Mommy chegar da escola. 
Agora me digam:  sou ou não sou uma cadelinha de sorte e feliz?

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Meu bom Mau

Meu bom Mau
Silvia Britto

Bom talvez não seja
O adjetivo do meu Mau.
Mau é bom sendo um  mal.
Mal necessário, o meu Mau.

Mau foi meu bem
Agora , é meu mal.
Mal de saudade.
Saudade do Mau.

Dizer que o Mau faz bem
Seria um enorme clichê.
Meu Mau não faz bem
Pois o bom é mal fazer.

Mal para a acomodação
Mal para a dormência
Mau, minha benção
Mau, sem clemência.

Sem mal, bem, bom ou Mau,
Estou só de ti
Mas de assilviar em tua window
Nunca irei desistir

Uma saudade, meu bem
Uma canção, meu mal.
Uma esperança, que bom!
Um beijo em ti, meu Mau.

Gata vira-lata

Gata vira-lata
Silvia Britto

Mulheres normais ficam sempre à espera do homem ideal.
Será que o "homem ideal" saberia o que fazer com essa gatinha?
Duvido!
Felicidade é poder se entragar sem culpa ou medo de ser chamado de marginal. 
Os verdadeiros e mais gostosos prazeres da vida são deixados de lado pelas ditas "pessoas ideais". 
Elas jogam fora momentos e prazeres inigualáveis com a úica intensão de não sujar as mãos, de não desestruturarem o que acham ter construído pra si. 
Aí, nós, os vira-latas e marginais dessa estabilidade, estamos aqui, para nos deleitarmos com esses "restos" que, na verdade, são a parte mais gostosa da vida.
Só os vira-latas sabem o real significado da felicidade: a liberdade de ser.

E te beijo com a boca de ... Sei lá...Imagine o que você quiser...

Miau!!!!


sábado, 10 de agosto de 2013

Dia dos Pais



Dia dos Pais
Silvia Britto

Queridos amigos papais,

Na verdade, pai é pai todo dia, né?
Mas espero que neste domingo vocês sintam um quê diferente.
Um orgulho merecido por todo amor e dedicação incondicional dados até hoje.
Tenham a clareza absoluta de que essa relação será especial para sempre.
Lembram-se de como foi emocionante escutar "papai" pela primeira vez?
E é isso que vocês serão eternamente, mesmo que esse termo tão gostoso seja muitas vezes substituído
por "cara", "coroa", "velho", ou simplesmente "pai".
Tenho certeza de que lá dentro da partezinha criança do  coração deles vocês serão para sempre "PAPAI".

"A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final."
Luís Fernando VeríssimoParabéns.
Um beijo bem grande,
Com amor,

Silvia Helena.

Sobre "eu te amo"

Sobre "eu te amo"
Silvia Britto

Os homens utilizam-se de nosso corpo como objeto de desejo e esquecem-se de quê, sem nossas almas, esse prazer em breve tornar-se-á estéril.
Mas que eu não seja injusta, há algumas raridades por aí. Eu mesma já tive a oportunidade de ouvir um "eu te amo" sincero por anos e anos de minha vida.
Os outros?
Alguns peço para serem ditos, pois não me são ditos espontâneamente.
Outros me são ditos como quem diz que está com fome.
Outros me chegam como, "tome-lá-sua-mulherzice" !
"Eu te amos" vazios de sinceridade e de compromisso são aceitos por caridade a quem os cospem em nossos ouvidos. Vômitos de solidão ou de egoísmo.  Tristeza pelos que não os sabem sentir de verdade.
E a avalanche de "eu te amos" descartáveis parece multiplicar-se, tal qual o amor que deriva da solidão das almas, que de tanto introspectarem seus carinhos, desaprendem o amor ao próximo.
Em todos finjo acreditar e sigo minha estrada, sabendo que a pessoa de quem mais me interessa ouvir esse "eu te amo" é de mim mesma, infelizmente.
Amar-se faz toda a diferença na hora de perceber quando um "eu te amo" é dito com o coração.
Meus ouvidos foram treinados a esse.
Quem sabe não tiro a sorte grande mais uma vez?
No amor, tudo é possível.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Solidão florida

Solidão florida
Silvia Britto

Acordei hoje, às quatro da manhã, sentindo-me solitária.
É uma solidão interna, já velha conhecida minha. Ameaça deixar-me, pede o divórcio, mas não consegue me largar. Andamos juntas desde que me entendo por gente, na época em que eu andava cedo, pelas ruas escuras, a caminho da escola, com a alma vazia de café da manhã e cuidados.
Se pensarmos bem, todos somos solitários em nosso interior. Ninguém nos conhece tanto como nós mesmos. A tendência é passarmos a mão sobre nossas cabeças e abafarmos nossos erros.
Contudo, não saberia viver assim. Parece-me um mundo fantasioso, em que posaria de princesa inalcançável numa torre alta e intransponível. Daí a opção por viver na transparência. Sei que posso estar tomando apenas o meu partido, vez ou outra, e não suportaria viver cometendo tal injustiça.
Por isso me exponho. Ando nua em meio à multidão. Quero o aval do mundo para as minhas atitudes. Quero seguir com passos firmes e de muito pouco me arrepender.
Meu senso de justiça é aguçado e implacável, o que por vezes faz com que até me cobre em excesso. Não tenho medo das críticas negativas. Delas, absorvo sabedoria e força de mudança. Das positivas, obtenho autoestima, reconhecimento verdadeiro por ser quem sou e a certeza da minha estrada, cada vez mais florida  e frequentada por anjos e amigos leais.
Dessa forma, acredito ter largado um caminho de solidão completa lá atrás e ter descoberto outro, mais bonito e florido, em que a verdade e o senso de justiça são soberanos.
Uma flor, um beijo e um abraço.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Turcodescendente


Turcodescendente
Silvia Britto

Outro dia - inadvertidamente, diga-se de passagem - chamei um amigo de turco.
Ele não gostou e, muito carinhosamente, disse que turco era o meu buraquinho póstero-inferior.
Aparentemente, turco é palavrão para os turcos!
Mais uma para a lista dos politicamente corretos.
Agora só o chamo de TURCODESCENDENTE!
Amuei e chorei.
Nossa Senhora das Línguas Inquietas, dai-me noção!

Saudades da escola

Saudades da escola
Silvia Britto

Saudades dos tempos de colégio...
Acho que esse movimento de volta às aulas, sempre mexe com meu subconsciente. Menina quieta e tímida, era na escola que eu parecia fazer alguma diferença no mundo. Sempre aluna exemplar e conhecida de todos pelas excelentes notas, humildade e doçura no comportamento.
Cheguei ao Rio em abril de 1969, com o ano letivo já começado. Minha mãe, com tantas coisas a organizar e um lar a refazer, achou por bem que eu fosse alfabetizada por uma professora particular, também maranhense emigrada, em sua casa: Tia Yara.
No começo de 1970 fui fazer uma prova numa escola pública, na Glória, para ver em que série me incluiriam. Tirei 95 na prova, apenas porque a quadrúpede da examinadora, deu como errada minha resposta ao escrever "sombrinha", assim, com dígrafo e tudo, ao invés de "barraca". Ainda tentei argumentar, aos meus 7 aninhos, que no Maranhão se dizia sombrinha de praia e não barraca, mas a insensível apenas me disse que estava errado porque no Rio se dizia barraca. Foi a primeira vez que me deparei com a arrogância dos que acham ter o poder. E ali, na escola 1.1. III Deodoro, na Glória, passei alguns anos da minha infância, sempre sendo das primeiras alunas da turma, até a oitava série.
Quando cheguei ao final do antigo Ginásio, meus pais acharam por bem colocar-me numa escola privada, mais forte, já que em breve teria que prestar o Vestibular. Foi assim que cheguei ao novo colégio, Santo Antônio Maria Zaccaria, no Catete. Antes escola só para meninos, já aceitava meninas há alguns anos.
Achei o ensino muito pesado e resolvi pedir ao reitor para cursar novamente a sétima série, fato inédito no colégio, ainda mais partindo de mim, uma menina de apenas 13 anos. Mas assim foi feito, e foi uma das decisões mais sábias da minha vida, felizmente apoiada por meus pais. E no Zaccaria tornei-me adolescente, sempre tímida, por mais que quem me conheça hoje duvide muito disso.
Saudades do meu querido professor de Português, Sérgio Regina, a quem devo muito a minha eterna paixão pela língua. O cara era um gênio! Professores Sylvio Neves e Lavos, que o destino recolocou na minha vida como pacientes e amigos. Professor Tadeu, de Química, eterna comédia... Ainda lembro dele perguntando: "Mas é indeto de cobre ou cupreto de índio?", e a turma caía na gargalhada! Professor Pardal, Gilda, de Inglês, e muitos outros que não esqueço jamais. Meu número na chamada era 44, sempre das últimas por causa do "s" do nome, o que muito me irritava e me fazia ter vontade de chamar-me "Ada", boboca eu!
Os amigos também me ficaram guardadinhos no coração. Luís André, o Dedé, por quem tive uma paixonite aguda. Fez Odonto e consertou o sorriso de minha filha. Mário Wilson e Amaury, esses, paixões mais fortes e platônicas mas que, com a coragem que sempre me acompanhou, consegui revelar-lhes no último mês de escola, antes de partir. Mônica Gabriela, a gatinha da turma. Patrícia Siqueira, a Pathy. José Carlos Santoro, o Batata. Mangelli, sempre com as melhores notas. Mônicas, Sabóia e Menezes. Mas de todos eles, se há um que eu gostaria de resgatar e que me foi perdido numa esquina da vida, é o Ricardo Senna. Costumava chamá-lo de Ricardo Fragonar, pois ele tinha um iate e, à época, estava passando a novela "Água Viva". Esse era um amigo que não me largava. Todo recreio vinha à minha procura em minha sala e ficávamos juntos durante todo o tempo. Nunca entendi o que ele vira em mim, pois não era coisa de paixão. Era coisa de irmão! Amor de alma não se explica. Se alguém teve a paciência de ler este texto até aqui e conhece algum Ricardo Senna que estudou no Zaccaria e saiu no ano de 1980, por favor, me diga.
Daí passei, como era de se esperar, para uma universidade pública, a UFF, e fui cursar Odontologia. Mas aí é outra história que um dia talvez eu conte. Agora vou guardar este texto na minha caixinha de tesouros. Mais um capítulo da minha vida que se fechou.

Autobiografia

Autobiografia
Silvia Britto

A gente tenta ser um livro aberto.
Uns nos leem aos poucos e vão abandonando.
Outros usam leitura dinâmica e acham que nos conhecem.
Alguns vão descobrindo o prazer de nos lerem pouco a pouco.
Sempre haverá os que estão muito ocupados para nos ler, pois incansavelmente leem a própria biografia.
Uns leem-nos com marca texto em punho, para marcar passagens e usá-las contra nós, mais tarde.
Outros nos leem apenas porque alguém lhes apresentou.
Alguns desistem por achar a leitura muito densa e contraditória.
Há ainda os que leem e releem-nos, mas nada conseguem entender.
Os seguidores de modinha, decoram-nos e pedem-nos autógrafos.
Muitos nos leem e nos guardam na prateleira de livros favoritos, revisitando-nos vez ou outra.
Mas sempre haverá os que escrevem-nos junto conosco.
E a esses últimos, eu dedico estes sinceros agradecimentos.

sábado, 3 de agosto de 2013

Numa esquina da vida

Numa esquina da vida
Silvia Britto

Nunca se sabe o que se vai encontrar ao dobrar uma esquina.
Por isso é tão importante não abandonar a marcha.
A vida surpreende. Tira para poder dar.
Por isso, não parem.
Andem, manquem, engatinhem, arrastem-se, mas não parem.
Mesmo achando que suas esquinas são desertas, acreditem na vida.
Tudo pode estar a sua espreita...
A lambida de um cão, um sorriso de uma criança. uma flor saindo do concreto da parede.
"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena".

Cicatrizes fortalecem

Cicatrizes fortalecem
Silvia Britto

Pois é queridos.
Esta sem noção que vos escreve não parece saber a diferença entre oito e oitenta.
Depois de passar uma madrugada e uma manhã no hospital, parece que já consigo voltar, aos poucos, ao meu normal.
Aliás, está me parecendo que para curar meu coração só mesmo de forma trágica.
O bichinho é danado de resiliente e teima em não aceitar partir-se, dando todas as chances de ser curado. Mas há momentos na vida que só mesmo um bom sacolejo para fazer a dor abrandar-se.
Segundo os médicos, o vômito e diarreia que tive foram de fundo emocional, já que nada foi constatado em outros exames que fizeram.
Catarse emocional aguda, diria eu. A única maneira que esta pessoa encontrou de livrar-se, literalmente, da merda que tinha que engolir em forma de mentiras e vomitar, também literalmente, o que lhe fazia tanto mal por palavras não ditas.
Não sobrou muita coisa. Mas ainda tenho minha eterna força vital, que me colocou em um táxi, levou-me até o hospital e cuidou de mim, já que não tenho a mordomia de ter alguém para fazer isso por mim.
O tempo no soro fez com que eu pensasse no que estava fazendo com a minha vida e muitas arrumações se farão necessárias. Aos poucos, porque é coisa muita.
E o soro realimentou-me os sonhos e a vontade de encontrar, se não a tal felicidade, pelo menos a paz.
Já dizia minha avó, o que não mata fortalece. Mais uma cicatriz nesse coração forte e corajoso, que não tem medo de pancada.
E assim sigo, com meu rebolado que é mais que um poema, ainda meio titubeante pela fraqueza nas pernas, mas com a promessa de brilhar em mais um verão tropical.



quinta-feira, 1 de agosto de 2013

De castigo



 De castigo
 Silvia Britto

Estou de castigo.
Estou de castigo para pensar.
Estou de castigo para pensar e tentar entender.
Estou de castigo para pensar e tentar entender  que sonhos e realidade são coisas distintas.

Ninguém está proibido de sonhar. 
Sonhos são permitidos e até necessários.
Porém, tenho que entender que alguns deles nunca deixarão esse espaço mágico da imaginação.
Alguns sonhos podem nunca acontecer. 
Na verdade, a maioria deles não acontece!
Não dependem apenas de nós para virar a esquina da realidade.
E não adianta espernear, insistir e se bater até doer.
São, e sempre serão, apenas sonhos. 

Tenho um pouco de dificuldade em aceitar esse impedimento. 
Muitas vezes insisto em tornar sonhos reais, até ser parada pelo sofrimento. 
Dói. Choro. Lamento. Quebro.
Mas tenho que me conformar.
Queria ter esse conceito de realidade versus sonho mais claro. 
Tempo e sofrimento me seriam poupados. 
Mas não tomo jeito! 
Quero ser personagem ativa, determinante. 
Imperadora de meus sonhos. 
Quero controlá-los a meu bel-prazer.

Por outro lado, há sonhos inteiramente possíveis de realizarem-se.
Basta um esforço um pouquinho maior para que eles cruzem a barreira entre imaginário e realidade.
A esses, muitas vezes, não damos a menor bola. 
Como achamos serem possíveis, os vamos deixando para depois.
Até chegar  o dia em que veremos que eles passaram.
Seu tempo, também, se foi. 
E deixamos de viver os sonhos possíveis, enquanto corríamos atrás dos impossíveis.

Preciso equilibrar os meus sonhos.
É com muita dor no coração que serei obrigada a desistir de alguns.
Dos que não dependem apenas do meu desejo.
Já insisti demais. Desejei, busquei, cutuquei, me entreguei, me expus. 
Devo correr atrás de outros, que já se encontram em estado de negligência terminal.

Contudo, como é difícil!
Normalmente os mais difíceis são também os mais bonitos.
Não quero abandoná-los. 
Não quero acordar.
Mas está ficando triste. 
Estou sonhando sozinha.
Está começando a doer.

Estou de castigo.

Preciso pensar.