quarta-feira, 31 de julho de 2013

Decepção


Decepção
Silvia Britto

"Não é preciso mostrar beleza aos cegos e nem dizer a verdade aos surdos, basta não mentir para quem te escuta, nem decepcionar os olhos de quem te vê". 

Essa frase caiu no meu colo hoje de manhã. Parece que alguma força desconhecida quer me alertar, afinal.

A vida insiste em me mostrar que só posso confiar em mim mesma. E eu teimo em não aceitar. Em minha infantilidade ingênua, ainda acredito que há pessoas que nem eu por aí. O mundo é muito grande para eu ser a única a me entregar de verdade e ser sincera com meus sentimentos, fazendo-os coincidirem com minhas atitudes.
A humanidade é sórdida e aproveitadora. As pessoas tendem a pensar em seu bem estar acima de tudo e tentam angariar tudo que podem, independente da boa fé dos que os circundam.Serei eu a errada? Deveria eu também estar me comportando de maneira diferente em um mundo de consumismo espiritual e sem escrúpulos, em que homens passam por cima de tudo para conseguir de tudo muito? 
Se for eu a errada, melhor parar o mundo que eu quero descer. Não sei brincar assim. E que na próxima encarnação, se é que isso existe mesmo, eu venha transformada em cadela. Os cães sim, são amantes e amigos fiéis. Para eles, o amor é incondicional e não se sustenta em mentiras.
Começo a pensar que vivo uma vida falsa. Minha casa não é minha, muitos amigos me abandonam, amores não me são leais, minha riqueza é virtual. Talvez por isso as redes sociais façam tanto sucesso! Para suprir essa carência imensa dos que não sabem ser felizes na "vida real".
Também eu, sou assídua usuária de redes sociais. Mas segundo a minha filha, não sei usá-las corretamente. Exponho-me por completo, faço amigos "de verdade", encontro amores "reais", comporto-me como se ali, tudo fosse verdade. E insisto que é verdade sim! Quando as pessoas conversam, trocam agressividades e afetos, fazem sexo virtual, isso nada mais é do que expor suas vontades de maneira que não conseguiriam de outra forma. Um pouco como o efeito do álcool. Não acredito que alguém consiga criar um personagem e o encenar 100 por cento das vezes.
E por isso estou triste... 
Não me venham querer separar o virtual do real. O virtual são nossos desejos, nossos sonhos. O real é a maneira que encontramos para transformar o virtual em real. Apenas os corajosos conseguem algum êxito. O mundo é dos corajosos. E é por isso mesmo que vou continuar minha vida de forma verdadeira e transparente. Coragem não me falta, apesar de muitos me verem como uma criança gordinha, burrinha, cega e crente. Eu sou ótima observadora, exatamente porque não faço da minha vida uma encenação. Quando você está em outro plano, consegue ver o amadorismo dos que não conseguem amar de verdade.
Essa crítica não vai direcionada a ninguém em especial mas àqueles em quem a carapuça couber, peço apenas que reflitam sobre isso e tentem parar de sugar a boa vontade dos que não vieram ao mundo para brincar. Um dia a casa cai, e só os que sabem voar serão felizes de verdade.
Agora, diz que fui por aí...



terça-feira, 30 de julho de 2013

Cachorro! Cadela!



Cachorro! Cadela!
Silvia Britto
Voltando de um baile de Carnaval de rua, por sinal maravilhoso, resolvo passar em uma lanchonete para refrescar-me com um sorvete.
Estava saboreando idilicamente minha delícia de baunilha, quando meu ouvido, costumaz enxerido,  captou a seguinte conversa de um casal, vinda da mesa de trás:
- Cachorro!
-Cadela!
-Cafetão!
-Vadia!
-Gigolô!
-Puta!
-Corno!
-Messalina!
Olho para trás assustada, pensando em logo discar para a delegacia de mulheres.
Para meu espanto, o que vejo é um casal apaixonado trocando um lindo beijo de amor!
Ele de Flamengo e ela de Botafogo. Obviamente pertenciam-se.
...
Moral da história: as palavras têm o peso que lhes damos. 
Daí a minha revolta com o tal do "Politicamente Correto"!
Portanto, queridos, podem chamar-me de "neguinha" à vontade.
Mas cabe a mim o direito de pular-lhes no pescoço ou derreter-me a seus pés.
Sacaram?

domingo, 28 de julho de 2013

Vade in pace, Papa populi


Vade in pace, Papa populi
Silvia Britto

Essa pessoinha simpática e bonachona chegou de mansinho e me conquistou com sua simplicidade.
Isso não fará com que eu deixe de ser ateia mas me faz crer que no mundo, tudo é possível se formos liderados por pessoas de boa vontade e com justiça no coração.
Que as sementes que o Chiquinho plantou, cresçam e floresçam no coração de nossos governantes.
Sei que isso é apenas um sonho bom.
Mas pessoas como Francisco nos permitem sonhar.
Cabe a nós fazer com que esses sonhos tornem-se realidade.
Obrigada, meu lindo!
Siga em paz na sua fé linda e contagiante.
Tenho certeza de que o Brasil jamais se esquecerá do seu coração.

Silvio-me e Heleno-me


Silvio-me e Heleno-me
Silvia Britto

Silviar é não ter medo de errar.
É entregar a alma, a mente e o que mais o coração mandar.
É chorar de alegria e de tristeza cantar.
Silviar é comer sanduíche de mortadela e  fartar-se de caviar.
É saber-se única e finita e que não há tempo a perder para ser e amar.
É escrever sem medo de errar e na escrita sua alma buscar.
Silviar é não ter vergonha de do seu nome um verbo criar.
Podem achar ousadia, mas hei!! Isso é silviar!
Silviar é ser verdadeira, ser amiga, ser ingênua, sem a inteligência abandonar.

Helenar é o nome da rainha roubar.
É ser forte e com coragem guerrear.
É desde muito pequenina aprender a helenar.
Ter que aprender a  sobreviver em um mundo que chamam lar
E, sozinha, seu mundo criar.
Helenar é tirar sempre as melhores notas e ser aluna exemplar.
É ter responsabilidade inata e nunca a seus compromissos faltar.
Helenar é ser profissional, estudiosa, guerreira, sem os sonhos abandonar.

Por isso é que silvio-me e heleno-me todos os dias, sem jamais perder minha essência de menina e minha força de guerreira. Batalhas se perdem, mas a vida é muito mais do que isso. Acredito no meu coração e na minha boa vontade. Por isso ouso, correndo o risco de ser chamada de vaidosa e iludida. Da ilusão do meu mundo, eu que cuide. Que tenha sempre forças e discernimento para escolher aqueles que me farão sorrir e os que me farão sofrer.
E agora vou sair por aí...
Preciso silviar e helenar.
Bom dia!

sábado, 27 de julho de 2013

Uma bolinha de sabão contra o preconceito


Uma bolinha de sabão contra o preconceito
Silvia Britto

Não é porque você é branco, que o negro não possa respirar.
Não é porque você é jovem, que o velho não possa brincar.
Não é porque você é magro, que o gordo não possa dançar.
Não é porque você é rico, que o pobre não possa sonhar.
Não é porque você é cristão, que o judeu não possa rezar.
Não é porque você é hétero, que o homo não possa amar.
Não é porque você é Botafogo, que o Vasco não possa ganhar.
Você não precisa aceitar mas há de respeitar.
O mundo é dos loucos e dos que ousam ser felizes, todos sabem.
Mas não é porque você é retrógado, conservador e "normal" que o mundo também não seja seu.

Enfim, a palavra de ordem nem é "aceitação"...
É TOLERÂNCIA!

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Mais Gordo é quem me diz!


Mais gordo é quem me diz!
Silvia Britto

Sinceramente, já está cansando a minha beleza ser chamada, anonimamente, aqui no blog, de gorda.
Não entendo o que realmente a tal "anônima" quer comigo.
Sim! Porque isso é coisa de fêmea frustrada e mal amada!
Nenhum homem, em sã consciência, faria tal acusação venenosa e infantil.
Se o intuito era me machucar, querida anônima, saiba que conseguiu. Feriu minha vaidade.
Mas parou por aí!
Sua inveja e recalque não chegaram nem perto da minha autoestima e dos meus valores.
Gorda é minha felicidade, minha meninice brejeira, meu alto astral e até mesmo meu rebolado, que é mais que um poema.
Gordo também é o seu preconceito, a sua inveja e seu olho grande.
Não vai colar. Sou protegida por um exército de anjos do qual me orgulho haver conquistado.
E são essas pessoas que importam em minha vida.
Gente que acrescenta! Gente que me quer feliz!
Não venho com isto, fazer uma apologia à gordura.
Por motivos de saúde, e até mesmo estéticos, sei que devo emagrecer.
Mas nunca emagrecerei o meu espírito.
Esse é obeso de honestidade e alegria de viver.
Sem falsa modéstia, sei que ilumino os lugares por onde passo.
Não por vaidade, mas por simplicidade. Quem tem luz própria, costuma ofuscar quem está no escuro.
Se me permite mais um comentário, caguei e andei para sua "magreza de espírito"!
Cada um é feliz como pode. Se fazer a infelicidade dos outros é o que lhe traz  felicidade, apenas lamento.
Um beijo e um queijo, daqueles tipo ricota, sem sal e sem sabor, para não pesar na sua inveja esbelta!


terça-feira, 23 de julho de 2013

A jornada jovem de Francisco


A jornada jovem de Francisco
Silvia Britto

Sempre senti uma aversão profunda à religião e sou absolutamente contra qualquer tipo de fanatismo, menos pelo Botafogo, é claro, rsrs. Confesso que estava profundamente incomodada e mesmo preconceituosa com a invasão do Rio por uma multidão de pessoas unidas em torno da fé. Porém, como não sou intolerante, calei-me e abstive-me de emitir qualquer opinião pessoal sobre o assunto.
Também não é de meu feitio ser uma pessoa engessada e prisioneira de minhas opiniões. Estou sempre aberta a mudanças de opinião. E é isso que venho aqui, ora admitir. Tive que ir ao Centro do Rio resolver umas pendências e o que vi me encantou. A Rio Branco está em festa! Milhares de grupos de jovens, do mundo todo, passam pra lá e pra cá, entoando canções e levando bandeiras de seus países, com orgulho e alegria estampados nos rostos. Os rostos corados e os olhos brilhantes, deixam bem clara a sua juventude e alegria. Confesso até mesmo uma certa inveja de não estar fazendo parte daquela bagunça sadia! Adoro uma molecagem do bem.
Todos vieram saudar o novo Papa, Francisco. Esse, por sua vez, como quem não quer nada, também cultivou-me a simpatia com seus olhos sorridentes e evidente carisma. Adoro os que sorriem pelos olhos. Tudo bem que não chega a ser exatamente um Chiquinho de Assis, esse sim, um grande exemplo de homem para mim. Mas se não me cativou pela sua religiosidade, o fez pela sua extravagante bondade e inteligência. Sim, pois só pessoas inteligentes conseguem emanar a aura de adoração dos fiéis, pelas ruas do Rio, em carro aberto e lado a lado com o povo, como ele fez.
Francisco disse:  “a juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo”.  E eu digo, bem vindo Chiquinho! A festa em sua homenagem está linda, como deve ser a vida, irradiando sua simplicidade e alegria. Aproveite e tente transmitir a nossos políticos os ensinamentos de Francisco de Assis. Quem sabe assim eles não se tocam que a verdadeira riqueza é aquela que é compartilhada? Assim seja. 



segunda-feira, 22 de julho de 2013

O Deus das Pequenas Coisas


O Deus das Pequenas Coisas 
 Silvia Britto


Começo este texto plagiando o título de um livro encantador que li já há alguns anos, de uma escritora indiana, Arundhati Roy. Foi seu primeiro livro e é de uma delicadeza nada menos do que recomendável a todos que apreciam a beleza das coisas simples. Mas, eu disse plagiando? Não! Plagiar é roubar. E não é isso o que faço aqui. Só estou pegando emprestado algo que me pareceu perfeito para a ocasião. Encanta-me a qualidade que algumas pessoas têm de traduzir tudo numa só frase. Que inveja! Obrigada, Arundhati.

Pois bem. 
Saindo da Índia e voltando ao Brasil.

Sou uma pessoa que cresceu sem religião. Atéia e à toa. 
Nunca vi sentido algum em adorar coisas impalpáveis.
Minhas experiências com religião foram, para não falar pejorativamente, no mínimo "sofríveis".

A primeira vez que ouvi falar de Deus, foi por intermédio de minha mãe. Sinceramente, não ia com a cara dessa pessoa, esse tal de Deus/Jesus. Ele fazia minha mãe sofrer, chorar e lamentar-se da sina que lhe havia sido dada de cuidar de uma filha "doentinha mental". "Doentinha” era palavra da minha mãe. Sempre achei minha irmã muito saudável e, de alguma forma, lá do seu jeito, feliz. De qualquer maneira, era classificada como a "cruz" da minha mãe. Com certeza, se entendesse um pouco mais das coisas, não gostaria da etiqueta que lhe fora dada.

Desse Deus tirano, que fazia as mães dos outros sofrerem, passei à adolescência testemunhando um fato bizarro e inexplicável. Minha melhor amiga, virava e mexia, recebia umas entidades espirituais que me deixavam ao mesmo tempo perplexa e encantada. Ora era uma criança; ora era um preto velho; ora era um velho caboclo. Mas o que mais me encantava era a pombagira. Uma mulher do mundo. Minha amiga incorporava um gestual e uma linguagem pra lá de sensuais. Colocava uma rosa entre os dentes, vestia uma saia rodada, fumava, bebia e conquistava a todos com seu jeito faceiro. Eu ficava hipnotizada com a transformação. E aquilo me encafifava e me desnorteava da minha tão consagrada lógica. Como poderia estar ela fingindo aquilo tudo? Como poderia ser tão boa atriz? Afinal, nas peças escolares que apresentávamos na escola, ela era totalmente artificial e atrapalhada! Nunca tive uma resposta para isso. Mais uma dessas coisas que passam na vida e não têm explicação.

Aí me apaixonei. 
Por um cético de Deus igualzinho a mim. 
E juntos embarcamos, para desespero de minha mãe que não largava a sua cruz, nessa viagem sem Deus, agnóstica e atéia, que se estendeu por trinta anos. Nem pensava mais nisso. E veio a separação. E como a palavra já diz tudo, não preciso repetir que fiquei sozinha. Oops! Acho que precisei repetir, não é mesmo? Fui invadida por um sentimento de solidão interna que sempre estivera a minha espera. Espreitava-me e rondava-me  de longe. E de vez em quando, créu! Pegava-me de jeito! Só que o de-vez-em-quando, transformou-se em de-vez-em-muito. E isso me fazia pensar. E quanto mais pensava, mais invejava os que tinham alguma crença. Sempre ouvira dizer que os que criam em Deus, nunca estavam sozinhos.

Eis que mais uma vez a vida, essa coisa mágica e fantástica que nos acontece sempre que nosso coração respira, me enviou um presente. Daqueles que nem MASTERCARD pode comprar. Ganhei de presente um amigo de vida. Desses que só acontecem raramente e que não podem ser perdidos nunca, jamais. Um professor de vida e de Deus. Pela primeira vez me deparei com alguém que não se lamentava, não representava e não seguia nenhum rito dominical para encontrar seu Deus. Um homem discreto. A princípio de poucos sorrisos. Muito competente. Avesso a coisas medíocres e equilibradas. E muito, mas muito charmoso e apaixonante. É... Eu sei garotas. Mas nem adianta se descabelarem e ficarem histéricas. Ele é comprometido. E se não fosse, já estou na fila! Cheguei primeiro!

Ele me disse que eu não fazia sentido. Que o meu jeito de ser e me relacionar com o mundo e com as pessoas, não combinava com o discurso de uma pessoa que não crê em Deus. Isso me fez parar e pensar. Será? Será que lá no fundo eu teria alguma chance de também não seguir sozinha o meu caminho?


E foi movida por essa curiosidade e coragem de mudança que resolvi ir à missa ontem. Decidi ir à missa das seis da tarde, na pequena igreja do bairro onde já moro há dez anos e nunca havia sequer tido a curiosidade de ver como era por dentro. 

Antes que me esqueça, gostaria de destacar a beleza poética da tarde. 
A caminho da igreja ia pensando no privilégio que era morar num dos lugares mais lindos da já linda cidade do Rio de Janeiro. Moro na Urca. Preciso explicar mais? A tarde estava linda. O Redentor continuava lá, no alto do seu morro. Braços ainda abertos sobre uma Guanabara de um azul indescritível. O vento morno me aquecia o coração. Namorados trocavam mentiras sinceras na mureta. Pais orgulhosos passeavam com seus bebês. Adolescentes jogavam vôlei na praia. E lá ia eu. Sorvendo cada centímetro daquele quadro vivo e prestes a perder mais uma virgindade na vida.


Cheguei a tal igrejinha. 
Um mimo de singeleza. Pequena, sem ostentações. 
Pensei cá comigo: não é por nada que meu rei, RC, resolveu ser desta paróquia! Sentei em um dos últimos bancos. Não podia chegar pela primeira vez e já ir sentando na janelinha. E fiquei ali, quieta e compenetrada, esperando tudo começar.

E veio a primeira grande emoção da tarde. Ás seis horas em ponto, os sinos da capela começaram a badalar anunciando o início do rito. Junto com os sinos, a igreja foi invadida pelo som comovente da Ave Maria de Schubert. Queria paralisar aquele momento e deixá-lo ali, flutuando eternamente. Mas não consegui.Guardei-o na prateleira das coisas especiais do meu coração e chorei. Transbordei. E à medida que as lágrimas iam saindo, a emoção ia encontrando espaço para entrar. De repente, me vi ali, agradecendo. Não sei bem a quem agradecia. Achei ser à vida.

E começou o ritual da missa. 
Foi como se a mágica e a delicadeza do momento se quebrassem.
Todas aquelas pessoas ali, rezando juntas, coletando dinheiro dos fiéis, cumprimentando-se sem nem saber os nomes uns dos outros, me incomodaram. Elas interromperam o meu momento. Não consegui alcançar o que se seguiu. Parecia-me algo que beirava o fanatismo, palavra da qual tenho muito medo. Mas respeitei. Fiquei quieta. De pé. Ajoelhada. Sentada. Doida para que tudo acabasse e eu fosse liberada para ir tomar meu vinho de começo de noite. Houve um momento em que o padre invocou apenas os preparados para receberem o corpo de Cristo. Fiquei indignada. Preparados para quê?! Já fui colocada, certa vez, no grupo das "preparadas"! Mas por alguma certeza que não sei explicar, sei que ele não se referia a mim. E fiquei lá sentada, emburrada, esperando o final da cerimônia.

Até que algo mais aconteceu. Voltei a transbordar.
Fiquei feliz pelo meu toc de nunca sair do cinema antes de as letrinhas dos créditos terminarem de passar na tela. Ao final da missa, o padre chamou um casal de senhores que estava ali por um motivo muito especial. Comemoravam suas bodas de ouro. Nada menos do que cinquenta anos de casados. Estavam ali para renovar seus votos de amor e fidelidade. Mas o que me fez chorar de verdade, foi a senhorinha. Quando chegou a sua vez de repetir as palavras do padre, não conseguia parar de chorar. E quando ela disse "até o final dos meus dias", entre soluços, foi a gota d'água. Soluçamos juntas, as duas. Chorei tanto a ponto de as pessoas em volta me olharem com aquela expressão interrogativa, tipo: "será louca ou parente?"

E terminei minha experiência como comecei, aos prantos.

Saí da igreja e alguém me perguntou: "viu a luz?" A resposta imediata foi: não! Mas essa resposta não me convenceu.
Algo diferente acontecera ali. O que me fizera sorrir a caminho da igreja? O que me fizera chorar de dar dó enquanto estava lá dentro? E a resposta veio se desenhando aos poucos na minha mente, enquanto finalmente saboreava meu vinho. Caiu a ficha!

Eu havia encontrado Deus, sim! O “meu” Deus. 
O Deus das Pequenas Coisas. 
Aquele que me faz sorrir ao ver pais brincando com seus bebês.
Que me faz chorar por prazer, de emoção e pela neve fugidia.
Que faz com que eu me emocione ao ouvir mentiras sinceras.
Que faz meu coração pular de alegria e quase parar quando encontro alguém especial.
Que me invade de plenitude quando escrevo.

Que me torna eternamente criança quando danço.

E meu coração ficou leve. 
Parece que tirei um peso enorme das minhas costas.
Ele existe! E é meu também! Finalmente nos encontramos. 
Não sou atéia. Creio Nele. No MEU Deus.
O Deus das Pequenas Coisas.

sábado, 20 de julho de 2013

Quimera e "Quendera"



Quimera e "Quendera"
Silvia Britto

Quimera e quendera...
Irmãos eternos.

Parecem iguais
Mas sutil diferença se faz.

Quimera é sonho, é falta de limite.
Quendera é lamento, eterno convite.

Quimera ergue castelos.
Quendera teme perdê-los.

Quimera fica.
Quendera passa.

Vez por outra, quendera é possível.
Já quimera é quase intangível.

Quendera é ineficaz, de repente.
Quimera, fulgaz eternamente.

Ah!
Quem dera quimera fosse quendera
E quendera não fosse quimera.

Só assim os sonhos seriam possíveis.



Silvia Intensa Helena



Silvia Intensa Helena
Silvia Britto

Intensa? Eu? Não...
Sensível por esperar demais? Bobeira...
Amo demais, espero demais, choro demais.
Imagino que possa incomodar e juro, já tentei me policiar.
Mas não sei ficar inerte às emoções e elas sempre me escapam pelos olhos, 
traindo-me e entregando a minha alma de bandeja.
Muitas vezes sou classificada como "carente", "insegura"... 
Mas eu pergunto, e quem não é?
Minha única e fundamental diferença é que não sou hipócrita e não sei esconder o que sinto.
Minhas atitudes me traem o tempo todo.
Busco da vida, tudo que possa mexer com a minha emoção. 
Tanto para chorar quanto para rir.
Desmorono com a mesma capacidade com que posso me reconstruir.
Mas não se iludam! Também sei ser forte. Sou guerreira!
Sou maranhense, mulher, sem teto e sem rumo.
Meu rumo eu faço um pouco a cada dia, quando acordo.
Não sei para onde vou mas sei de onde vim. 
Isso deve me bastar para prosseguir.
Aprendi a me abraçar e a me dar a mão.
E por aí vou. De mãos dadas comigo, deixando o caminho marcado por lágrimas
e sorrisos barulhentos por onde ando. Não passo "batido".
Desculpem-me se incomodo. Eu só tento ser eu mesma.
Um beijo para os que gostam, pela certeza de saber-me no caminho certo.
Dois beijos para os que não gostam, pois lhes devo a vontade de ser cada vez melhor.
Fui!


Um Zé Qualquer

Um Zé Qualquer
Silvia Britto

Ele me chegou do nada, porém muito me falou.
Falou-me de infância, luares, lugares.
Falou-me de amigos, amores e dores.
Ele me chegou de mansinho e devagarinho ficou.
Fez com que eu chorasse de rir e de prazer.
Mandou-me embora. Implorou-me de volta.
Confessou-me a alma autista e a mente egoísta.
Arrancou-me do peito o mais doído pranto.
Encantou-me a alma com o mais terno acalanto.
Beijou-me. Possuiu-me. Roubou-me de minha solidão.
Ele me chegou do nada, porém muito perguntou.
E muito, também eu, falei.
Entreguei-lhe minha vida boêmia e meu corpo profano.
Chorei, ri, chorei, dancei, chorei, cantei e chorei. E chorei.
Ele me chegou do nada, porém logo se instalou.
E ganhou-me para sempre, ao sussurrar-me ao ouvido,
Sem o menor esforço ou imposição,
Sua primeira confissão de amor,
"Eu te amo, peste!".
Também eu te amo, Zé Qualquer.
Um Zé Qualquer que não é qualquer Zé.
É meu. É seu. É nosso. É Zé.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

A Hora da Ostra



A Hora da Ostra
Silvia Britto

Momento introspectivo em que tento fazer com que minha alma, normalmente partidária e fanfarrona, submeta-se a um momento de isenção.
Há momentos em que as coisas, as pessoas e os objetivos atropelam-se e que, inevitavelmente, nos deparamos com escolhas.
Porcaria de menina carente que quer tudo ao mesmo tempo!
Saio sempre de casa vestida com meu melhor sorriso e com os braços abertos para o mundo.
Normalmente sou fartamente recompensada.
Mas nada é tão fácil assim.
Muito menos a felicidade.
Perder para ganhar...
Quem inventou essa regra chata?
O pior, é que não posso me dar ao luxo da inércia.
As coisas resolver-se-iam à sua maneira e eu não teria depois a quem culpar.
De modo que, pense menina.
Reflita e decida já sabendo de antemão que qualquer caminho pelo qual seguir será, inevitavelmente, o errado e o certo.
Tente trazer um pouco de tranquilidade para essa alma inquieta, moleca, carente, atirada e petulante.
Respire, mergulhe ou voe... Tanto faz.


terça-feira, 16 de julho de 2013

Mc Silvelena



Mc Silvelena
Silvia Britto

- Olha, você tem todas as coisas, que um dia eu sonhei pra mim. A cabeça cheia de problemas... Não importa, eu gosto mesmo assim...
- Você quer ser minha namorada? Ahhhh! Que linda namorada você poderia ser...
- Eu só quero saber em qual rua minha vida vai encostar na tua! KKKKKKKK!
- Onde você mora? Onde você foi morar?
- Moro num país tropical. E é lá onde moro, que eu me sinto bem, hehehe.
- O seu balançado é mais que um poema...
- Hoje eu acordei com saudade de você. Beijei aquela foto que você me ofertou...
- Minha namoradinha é você! Vou pedir um café pra nós dois.
-E te beijo com a boca de café!
- Delícia! Assim você me mata! Ah se eu te pego!
-Deixa isso de café pra lá! Vem pra cá! O que é que tem? Eu não tô fazendo nada, você também...
-E fazer amor de madrugada? Com gosto de virada?
- Hummmmm... Vem deitar as coxas entre as minhas coxas e me arranhar com a barba mal feita...
- Espere por mim, Morena. Espere que eu chego já!
- Fico rindo à toa, sem saber por quê. E vem a saudade de sonhar de novo e te encontrar. Foi tudo tão de repente... Quase disse não...
-Ah se tu soubesses como sou tão carinhoso e muito muito que te quero... Tu não fugirias mais de mim. Vem matar essa paixão que me devora o coração.
-Meu bem, você me dá água na boca, rsrsrs. Nada melhor do que não fazer nada, só pra deitar e rolar com você...
-Então vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus. Só assim serei feliz... Bem feliz!
-Tô indo! Vou te abraçar agora, parar o tempo nessa hora e nunca mais deixar você partir...
- Você é linda! Mais que demais! Morena dos olhos d’água... Esse seu olhar, quando encontra o meu...  
-Te amo! Eternamente, te amo! Você tem um jeito manso que é só seu...
- Tô com saudades de você debaixo do meu cobertor. De te arrancar suspiros, fazer amor.
- Lindo! Eu me sinto enfeitiçada... Correndo perigo. Teu olhar é simplesmente lindo.
-Então vem, morena! Ouvir comigo essa cantiga! Sair por essa vida aventureira!
-Vou! Me espera que eu tô chegando! E te beijo com a boca de paixão!

PS:  I loveyou! 

Essa não é mais uma carta de amor
São pensamentos soltos
traduzidos em palavras
pra que você possa entender
o que eu também não entendo.
(Jota Quest)