sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Parece que foi ontem...




Parece que foi ontem...
Silvia Britto


Parece que foi ontem que nascia, no último dia de fevereiro, às quatro da manhã, na última música da orquestra, do último dia de Carnaval, em São Luis do Maranhão, uma menina.
Já nasceu em ritmo de folia, a tal menina. 
Talvez a música tenha sido Bandeira Branca, pois é a cor de sua bandeira.
Parece que foi ontem que a menina sonambulava pela casa da vó Laíde e ia à janela, de olhos fechados, esperar pelos convidados da festa de seu décimo aniversário. A vó resgatou-lhe e colocou-a de volta na rede.
Parece que foi ontem que ela soltava papagaio com Pedro, Paulo e Raimundinho, em cima dos telhados de São Luís.
Parece que foi ontem que a vó Dedé comprava-lhe um Guaraná Jesus para acompanhar o caranguejo, na praia do Olho d'Água.
Parece que foi ontem que a menina foi surpreendida pela mãe quando experimentava seu primeiro beijo na escada do Fialho na Glória.
E a menina continuou dançando, pelas discotecas da vida, estudou, ganhou diploma e perdidamente se apaixonou.
Correu mundo, foi morar no estrangeiro dos Beatles. Conheceu o mar da Grécia e a torre de Paris.
A menina virou mãe e recebeu em seus braços o mais lindo presente que a vida poderia dar-lhe: outra menina.
E cresceram juntas, as duas meninas. Uma aprendia com a outra.
Até que um dia, achando que podia, a menina tomou coragem e voou. 
Se esborrachou e quebrou o sorriso. Teve que reinventar-se em mulher.
Renasceu forte guerreira e hoje caminha lado a lado com a menina, que teima em ser feliz.
De mãos dadas elas vão. De mãos dadas elas se perderão.
A mulher menina e a menina mulher são inseparáveis.
Parece que foi ontem mas já faz cinquenta e um anos.
Parece que foi ontem mas já é hoje. Já é amanhã... E depois de amanhã.. .E depois...
E assim será pelos próximos cinquenta, cem anos, pois, como ouvi certa feita,
só morremos quando não mais somos lembrados.
Segue asSILVIAndo e levando a sua linda bandeira.
A bandeira? 
Ainda é branca.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Poema sussurrado



Poema sussurrado
Silvia Britto

Segue abaixo um poema do qual, infelizmente, desconheço a autoria. Mas quem o escreveu sabia que seria sussurrado aos meus ouvidos e que teria o impacto que teve.
Obrigada ao autor, por mim desconhecido, e obrigada ao que o recitou, tão intensamente, tatuando-o em minha alma.

" Ao te perder, tu e eu perdemos
Eu, porque tu eras quem mais amava
Tu, porque era quem te amava mais
No entanto, de nós dois
Tu perdeste mais que eu
Porque eu poderei amar a outra
Como amava a ti
Mas a ti, não te amarão
Como te amava eu.

Lindo ou what?



quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Ai, que saudade!


Ai, que saudade!
Silvia Britto


Ai, que saudade que eu estava de um amor!
Alguém em quem eu pudesse apoiar a cabeça...
Que me comprasse picolé de limão...
Me pagasse um café...
Limpasse os meus lábios quando estivessem sujos de solidão...
Acariciasse minhas mãos...
Me fizesse uma massagem gostosa nós pés, enquanto esperava sua vez de ser acariciado...
Que me mandasse mensagens amorosas, dizendo sentir a minha falta...
Alguém que tivesse sede dos meus beijos e fome das minhas carícias mais ousadas...
Que depois do sexo, dormisse, ou tentasse dormir, abraçadinho comigo,
Fazendo-me sentir a mais plena das criaturas...
Estava com saudade de uma respiração quente e entrecortada de prazer na minha nuca...
De alguém que fosse o meu cobertor nas noites frias
E meu sopro de felicidade nas noites de verão...
Alguém que me dissesse: não saia daí, volto logo...
Que me dissesse: percebeu que o sol já vem raiando?
Alguém que sentisse que não há nada melhor no mundo do que ficar engarrafado no trânsito
Só por estar em minha companhia...
Alguém com quem dividir alguns copos de cerveja até que o efeito do álcool nos fizesse rir como crianças...
Travessas...
Descompromissadas...
Perdidas no tempo...
Mergulhadas nas delícias de um abraço...
Ai que saudade que eu estava de um bem...
Alguém com quem pudesse fazer planos para daqui a uma hora...
E promessas para daqui a cem anos...
De sentir-me acolhida em braços que me abarcassem a alma...
Alguém que enxugasse minhas lágrimas com um beijo carinhoso...
Que me fizesse sentir eterna...
Infinita...
Que falta eu sentia de um amor...
O amor tem pressa.
Sossega paixão! Sossega tesão!
Ai que saudade... De você, meu amor!

De menina mulher a mulher menina



De menina mulher a mulher menina
Silvia Britto

Daqui a alguns dias completarei 51 anos de idade. O número da "Boa ideia". Uma boa ideia para dar início a uma nova fase em minha vida. Uma fase em que a menina mulher consegue, finalmente, crescer e começa a ficar dependente.
Não. Não escrevi errado. É DEPENDENTE mesmo. Dependente, no momento em que descubro que, realmente, preciso dos outros para me ajudarem a achar o rumo e o prumo certos na minha estrada.
Desde muito pequena, imprensada entre uma irmã especial e um irmão idolatrado, tive que ser independente. O que mais escutava era: "Sua irmã é especial e seu irmão é muito pequeno. Você tem que ser independente! Faça sozinha sua mala, seja uma boa aluna e cumpra sempre com seus compromissos!".
E assim fiz. Fui excelente aluna, cumpria com minhas obrigações e passei a vida inteira fazendo, sozinha, a minha mala. As escolhas que fazia sobre o que "levar" e do que não era importante, nem sempre foram corretas. Mas só dependia de mim para resolver o que fazer.
Até bem pouco tempo assumi esse papel. Supria, ou tentava suprir, meu coração, tapando os buracos do jeito que achava ser o único, o mais correto, chegando, às vezes, até mesmo a prostituir minha alma.
E assim fui levando, já que não fazia mal a ninguém senão a mim mesma, já "macaca velha" na arte de suprir-me com pouco e com vulgaridades. Mas sempre sentindo um imenso vazio dentro de mim, vazio esse que já expus, aqui, inúmeras vezes.
De repente, a vida resolveu gritar: BASTA!! É hora de crescer e preencher de uma vez por todas esse vazio! Não machucava ninguém mas destruía-me, aos poucos, a certeza de que era capaz de ser mais do que aquilo.
Infelizmente, por ironia da tinhosa vida, tive que descobrir isso machucando alguém. O único alguém que entrou com força na minha vida e decidido a também cuidar de mim, invadindo meu coração desencantado.
Vejam bem, não falo de alegria, otimismo e vontade de viver, que isso sempre tive de sobra. Falo desse buraco negro na alma por onde sempre tive que caminhar, sozinha, tomando decisões feito a "cabra-cega" das festinhas infantis.
Acho que além deste ser um texto libertador, é também um texto de agradecimento. Agradecimento a uma pessoa muito intensa e com uma "pegada" de vida maravilhosa, que me mostrou que posso acender a luz desse túnel e ter ajuda de placas, carregadas por anjos, todos dispostos a me ajudar.
Infelizmente (já estou cansada dessa palavra!), esse anjo quebrou as asas para me dizer isso. Mas vai curá-las. Também ele é muito mais do que se permite viver. A vida sempre retribui.
E assim vou seguindo a estrada do 51. A da boa ideia. Já começo a ver as placas de luz. Quem sabe, se eu for realmente merecedora, a vida não recoloque esse anjo em minha estrada para que eu o ajude a curar as asas que quebrou por mim? Para que possamos seguir, voando juntos, esse resto de caminho que ainda nos resta descobrir? Afinal, eu com 51 e ele com quase 59, já passamos da metade do caminho. Mas ainda há muita coisa para viver, muitos orgasmos a vivenciar.
E assim sigo eu, DEPENDENTE, finalmente.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Belinha

Belinha
Silvia Britto

Esta é a Belinha.
Golden Retriever, linda, moradora da Urca, minha ex-vizinha. Dizem que é braba. Não sei. Comigo, sempre me lambe as mãos da forma mais melada possível aos cães. Talvez em retribução aos afagos gostosos que faço em seu pelo, às vezes por momentos infindáveis.
Ela está triste assim por ter acabado de ser afastada de seu último filhote, de uma ninhada de oito! Brava guerreira e brava mãe, a Belinha. Seu último bebê foi embora, só agora, aos já 6 meses de idade! Era tão lindo passar por seu jardim e ver mãe e filho brincando juntos. Já haviam se tornado cúmplices e companheiros inseparáveis. Mas ele se foi. E deixou em seu rastro uma imensa melancolia para minha bela amiga.Hoje, parei em seu portão e ela só me olhou, com um olhar que atravessou minha alma. Entendi sua dor de imediato. Choramos juntas por longos momentos.
E eu fiquei ali, a refletir, tentando entender as razões do bicho homem para fazer tal crueldade. Não cheguei à conclusão alguma... Lá se foram seus bebês, qual tráfico de escravos. Revoltou-me a ideia desse tráfico de animais, que aceitamos como comum, bem nas nossas fuças. Se a ela seria negada a maternidade, para quê fazê-la procriar? Por algumas centenas de reais? E a realeza do espírito, onde fica? Não concordo com isso. Não há quem me convença.
Voltei para casa pensando em minha Ritinha, vira-lata que adotei por ter sido abandonada na rua. Não seria capaz de comprar um amigo... Isso é covardia!
Um beijo em seu coração, Belinha! Esperarei ao teu lado até que a dor se dilua e você volte a surgir alegre, abanando seu lindo rabo quando sentir o rebolado do meu se aproximando. Somos mais gente que muito "homem" querida! Amo você!

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Um dia muito especial



Um dia muito especial
Silvia Britto

Um dia muito especial. Esse é sempre um dos temas mais populares nas primeiras aulas de redação no ensino Primário, hoje chamado de Fundamental. Lembro-me de, à época, haver escrito coisas do tipo ir à praia com papai e mamãe, comer galeto no português da esquina e terminar o dia assistindo a um filme na Sessão Coca-cola do antigo drive-in da Lagoa, com o Cristo Redentor ao fundo. Fiquei imaginando se tivesse que escrever essa redação hoje, já "adulta", e ficou mais ou menos assim:

Sem sombra de dúvidas, esse dia teria que ser no verão. Um dia de muito calor. A cidade, nada menos do que a Maravilhosa, com suas curvas de mulata faceira, representada por suas montanhas sensuais e seu litoral com cheiro de sal e areia.
Se eu pudesse escolher, todos os meus dias especiais começariam com muitos beijos apaixonados, fazendo amor e jurando amor eterno. Obviamente, música é requisito fundamental. Talvez uma Bossa Nova, Tom Jobim, na voz quente e suave de uma mulher.
No dia especial, não poderia faltar um jogo do Fogão. Poderia até ser uma peladinha mequetrefe, com meu Glorioso perdendo, num calor de rachar o crânio, quase desmaiar no estádio por causa da revolta e do calor... Nada disso abalaria o meu dia, pois estaria ao lado de um príncipe encantado, Botafoguense também, é claro!
Depois disso, pararíamos em alguma pracinha do subúrbio carioca para comer aquele churrasquinho de gato com farofa, que só são encontrados em lugares muito especiais. Encontrar amigos de fé. Ser apresentada com orgulho para a rapaziada como "namorada" de alguém muito especial. Sentar num boteco de esquina. Tomar uma breja geladinha enquanto relembraríamos sambas-enredo clássicos e lindos dos Carnavais de outrora.
Ainda na vibração do samba, voltar pra casa, à noitinha, não sem antes parar numa outra pracinha, talvez já na Zona Sul, para ouvir mais um pouquinho de samba, numa rodinha com direito a instrumentos, microfones e cantores. Subir no banco da praça e dar mais uma sambadinha básica, imaginando-me ser uma daquelas lindas mulheres que vão como destaque, em cima de carros, na Sapucaí.
Finalmente chegar à minha casa, exausta, suada, feliz e dormir como um passarinho que redescobriu a beleza que é voar.
Só que meu dia especial não acaba com o sono. Como sou abusada, estendería-o até a manhã seguinte, quando seria acordada com um: "Levante, meu amor! Vamos dar um "tchibum" no mar! O dia está lindo, o sol está te chamando e eu te amo demais!". Aí sim, poderia terminar esse maravilhoso dia. Entregue nos braços de um amor, depois de uma bela chuveirada e de... Bem... Melhor parar por aqui que esse texto não é para ser um conto erótico.
E assim seria um dia muito especial na minha vida. Quem dera fosse. Felizmente, dizem que sonhos, se desejarmos com muita vontade, podem tornar-se realidade. Será?

sábado, 8 de fevereiro de 2014

O amor é plural





O amor é plural
Silvia Britto

Certa feita, conversando com uma amiga querida sobre minhas peripécias amorosas, ela me disse uma frase que não saiu da minha cabeça até vir parar neste texto:

- Zoião verde, o amor é plural!

Isso ficou remoendo meus pensamentos, brincando com minhas certezas, desafiando meus princípios éticos e morais e tomando forma de verdade. E não falo aqui de amor fraternal, entre amigos ou por animais. Falo do romântico. Aquele do beijo na boca.
Impossível que num mundão enorme e cheio de pessoas maravilhosas como este consigamos amar  apenas uma pessoa.  Cada um desses seres especiais que cruzam nossa estrada, tem algo lindo e irresitível com o qual nos provocar.
Há diferenças nessas provocações, é claro. Há pouco, escrevi sobre os cinco requisitos para arrebatar de vez o meu coração: amizade, cumplicidade, otimismo, coragem e sexo.  Não raro, encontro pessoas com três ou quatro desses requisitos reunidos, por quem não consigo deixar de apaixonar-me, na medida do nosso encontro.
Há o amor platônico, em que apenas eu consigo ver essas qualidades no outro. Bem doloridinho e frustrante esse daí. 
O amor de química, em que o sexo é o grande protagonista. 
O amor poesia, aquele que encanta, arrebata e faz sonhar mas, por determinação do destino, não consegue concretizar-se. 
O amor submisso, aquele em que submeto-me a situações completamente diversas ao meu requisito fundamental da cumplicidade, apenas por tratar-se de pessoa generosa e simples nas suas atitudes.
Mas há um tipo de amor que me entorta a cabeça e as entranhas. Tira meu chão e minha respiração. Faz com que eu nem queira respirar para que a mágica não se desfaça. Faz com que eu ria sozinha pelo meio da rua. Vem acompanhado de uma paixão adolescente e arrebatadora. A esse, chamo de amor NIRVANA. Reúne os cinco requisitos e ainda me tráz alguns mais, de surpresa, como flores delicadas, lambidas no suvaco, picolés de limão e balinhas de hortelã.
E todos os amores, bandidos ou não, correspondidos ou não, desejados ou não, emaranham-se e fazem de mim essa colcha de retalhos ambulante que sou. Amante, acima de tudo, de mim mesma e, tendo a certeza de que, só por ser capaz de amar-me, respeitar-me e aceitar-me nas minhas incongruências, é que a vida me presenteia com tão lindas e especiais pessoas.
Um beijo em cada um dos meus queridos amores! Uns na boca, outros na bochecha, alguns nos olhos e, naquele, no tal do Nirvana, um beijo no... Não... O pouco de sanidade que ainda me resta, impede-me fortemente de dizer onde é esse beijo, rsrsrs.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Reflexões

Reflexões
Silvia Britto


Ando meio cansada desse papo de solidão. Gosto muito da minha companhia mas é muito difícil beijar-ME a boca. Também não dá para ter uma sensação nova e surpreendente quando EU mesma toco a minha pele...

Por instantes acreditei ter encontrado uma nova luz para iluminar meus dias, meu sorriso. Penso que me equivoquei. Chegamos a uma altura da vida em que, quando queremos alguma coisa, já temos experiência bastante para tentar realizar nossos sonhos. Ou não!!! E esse "ou não" é o que me mata!

Sempre entendi que na vida temos a opção de sermos alegres ou tristes. Como bem dizia o poetinha: " É melhor ser alegre que ser triste...". Fiz a opção de ser alegre. Mas como é difícil. Muitas vezes faço um esforço supremo, invisível aos outros, para seguir nesse caminho.

De tanto treinar, às vezes, a alegria me vem até como se fosse algo muito natural. Porém, em diversas ocasiões, é uma briga intensa e cansativa a que se trava dentro de mim. A tristeza tem garras poderosas e de tanto lutar com elas, saio toda ferida, arranhada, cansada.

Há momentos em que sinto uma solidão interna tão grande que tenho medo de perder-me no buraco negro da existência. Por mais que busque e receba a companhia de meus queridos, não consigo me livrar desse túnel escuro que também tem sua morada cativa dentro de mim.

Acho que é exatamente nessas horas que os crentes em Deus exalam uma grande confiança e possuem uma vantagem sobre os que não O tem como verdade absoluta. Imagino que quem O traz dentro de si, eterno e infinito, nunca se sente só. Terá sempre Sua companhia.Infelizmente, desde muito pequena, nunca consegui conceber a existência de Deus como verdade. Talvez tenha sido Ele quem nunca notou minha presença e nunca me convidou para brincar...

Minha visão de mundo é mais pragmática. Acredito que estamos aqui com a mesma função de uma formiga ou de uma samambaia. Assim como elas, temos que tirar o melhor proveito de nossa existência e viver da melhor forma possível. Isso inclui a relação com o universo ao nosso redor.

O homem foi dotado de duas poderosas armas: a consciência e a autonomia. Como é difícil administrá-las! Os pensamentos são livres, independentes. Levam-nos a lugares inimagináveis. Nem sempre prazerosos. Por essa razão temos que ter o discernimento de seguir nosso desejo. Ou não. Olha o "ou não" aí de novo! Que difícil tarefa separar sonhos de realidade. Impossível saber o que se passa nas cabeças de outrem. Isso, pelo menos para mim, é muitas vezes angustiante.

Como é sofrida essa necessidade de ser amada! Acho que é uma forma que encontramos para acreditar que tudo em volta é real: amam-me, logo existo.Tenho sentido-me um pouco flutuante sobre esse universo. Estou com saudade de sentir os meus pés no chão.

Torno-me desejo. Torno-me sonho. Torno-me saudade.

Só queria poder ouvir: " Eu te amo." Para que eu pudesse responder  alto e bom som:

" Também te amo, meu amor! "

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Vai dormir, Silvia Helena!



Vai dormir, Silvia Helena!
Silvia Britto

São três e meia de manhã e eu aqui, acordada, tentando entender o que aconteceu com meu tão valioso sono, aquele pelo qual sempre me gabei dizendo adorar-me e, por isso mesmo, pela adoração que Morfeu tem por mim, ser uma mulher muito boa de cama.
De repente, pareceu-me escutar a voz de minha mãe gritando: "Vai dormir, Silvia Helena!". E pela primeira vez, desde que ela nos deixou em março passado, sinto este imenso nó no peito, por sentir que a vida passa e que nada segura o tempo.
Por isso tenho tanta sede de presente. Tenho a real percepção de que o passado não voltará e de que o futuro, a alguém pertence, mas ainda não o conquistei. Ainda não é meu e pode, até, nunca ser.
Havia muito tempo que não me via assim, perdida no meu próprio presente. Não estou entendendo muito bem o que a vida quer de mim. Como quer que me comporte? Que ritmo quer dançar?
Sempre tivemos uma cumplicidade muito forte, a vida e eu. Mas a sensação que dá é que ela está com um pouco de ciúme de mim, talvez por essa perda de conexão com ela, por conta de tantas indecisões e dúvidas que se colocaram em meu caminho. Deixei a vida um pouco de lado para me grudar com a inércia. E a vida, amante implacável, está revolta, cobrando caro, tirando-me meu tão querido e amado sono.
Sempre gostei muito de dormir. É no sono que minha alma vagueia prostituta, entregando-se aos sonhos. É nos sonhos que encontro meus desejos mais íntimos e tenho pistas de como trazê-los para a realidade. E é tendo a coragem de realizar esses desejos que gozo, literalmente, com a vida. O sono é meu alimento para viver de forma corajosa e verdadeira.. E os sonhos, ah, os sonhos! São o meu instrumento para atingir meus mais loucos orgasmos.
Mas, no momento, não estou conseguindo fazer nada disso. Não sei que ritmo dançar. Parar e tomar chá de cadeira? Nem pensar! Por isso estou aqui, escrevendo a esta hora da madrugada, tentando descobrir por onde seguir.
E escuto a voz da minha mãe, de novo, gritando lá de longe: "Já falei pra dormir, menina!"
Já vou, mãe... Já vou.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Os cinco requisitos



Os cinco requisitos
Silvia Britto

Estava almoçando com um amigo e a conversa descambou para o tópico “relacionamentos”. Ele me fez parar e refletir sobre o que procuro realmente em uma pessoa para poder chamar de meu amor. Pensei e cheguei a uma conclusão. São apenas  5 requisitos que, necessariamente, precisam caminhar juntos para que eu entregue-me e apaixone-me perdidamente.
O primeiro requisito fundamental é a amizade. Nada melhor do que ter em seu amor, também o seu melhor amigo. Por isso que, sempre que termino um relacionamento, continuo amiga dos meus antigos amantes. Acaba a paixão mas a amizade não acaba jamais.
Depois vem a cumplicidade. Nesse, aglutinam-se a honestidade e a confiança. Não sei viver em duvida, com desconfiança. Cumplicidade pode até não existir em uma relação cordial, entre conhecidos. Mas nunca pode faltar entre amantes. Em geral, muitas pessoas não conhecem nem o significado dessa palavra.
  vem a coragem. Talvez o mais difícil dos quesitos. Amar não é fácil. Dói muito. Há que se ter muita coragem para embarcar nessa viagem maravilhosa. É como pular num poço escuro de mãos dadas. E é aqui que eu sempre me estrepo. Ninguém tem culpa de eu ser uma destemida, desmiolada,doida de pedra. Atiro-me de cabeça em despenhadeiros desconhecidos. Em alguns, alço lindos voos. Em outros sento a fuça no chão. Muitos me criticam por isso, mas não sei ser diferente.
O quarto é o otimismo. A vida é muito curta para se ver problemas em tudo. A vida não é um grande problema. É uma grande brincadeira, que, verdade seja dita, às vezes faz sofrer. Porém, se seguirmos pela estrada, absorvendo suas cores e sabores, sorrindo, achando que tudo dará certo, pasmem! Tudo dará realmente muito certo!
Por último, mas não menos importante, vem o sexo, o desejo, o tesão. Sem esse, é amizade apenas. Só com ele, é tão somente um prazer momentâneo mas nem por isso um sentimento menor. Agora, quando vem acompanhado dos outros quatro, é o Nirvana total.
Refletindo sobre isso, cheguei à conclusão de que encontrar as cinco coisas em uma só pessoa, é quase tão difícil quanto ganhar na mega sena. Mas não desisto. Sou corajosa. Já caí muito e tenho muitas cicatrizes. Mas, um dia, tenho certeza de que encontrarei alguém disposto a beijá-las uma a uma e me chamar de amor.
Por enquanto, é bola pra frente, muitos risos, poucos sizos e muita coragem.