terça-feira, 7 de abril de 2020

Quarentena Dreaming



Quarentena Dreaming
Silvia Britto


Hoje estava sentindo-me um tanto quanto solitária.
Efeitos da quarentena forçada.
Peguei uma cerveja e fui para a varanda do décimo andar olhar o céu. 
De repente, peguei-me a pensar se a vida não seria um sonho. 
Um conjunto de lembranças que poderiam nem ter acontecido.
E se eu nunca houvesse saído do maranhão e aportado no Rio?
E se eu não tivesse pedido para voltar um ano na escola nova?
E se tivesse mantido meu desejo inicial de cursar Medicina?
E se?

Teria eu casado? 
Que parceiros teria eu encontrado no meu caminho?
Teria eu tido filhos, separações, os mesmos amigos, as mesmas decepções, as mesmas alegrias?
Que músicas embalariam minhas lembranças e quais seriam elas?
A vida é mesmo muito engraçada, feita de escolhas que determinam todo o resto de emoções com as quais temos que lidar.
Mas vejam só, não estou reclamando das minhas escolhas, elas me tornam quem sou.
Mas me faz pensar que tudo é um sonho. 
Que o aqui e agora nunca se fez tão presente. 
Que a vida passa rápido demais!

A cerveja está quase acabando. 
Já tomei mais da metade da garrafa. 
E as lembranças? 
Ah, as lembranças... Essas não acabarão jamais. 
Pelo menos, não as que escolhi ter nessa vida.
Cabe a mim, ou a nós, escolhermos as lembranças que teremos daqui pra frente.
E assim eu vou vivendo, de lembrança em lembrança, de escolha em escolha, enquanto eu puder beber.

Silvia Britto.
Abril 2020.