segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

E o tempo passa...


 E o tempo passa...

 

Silvia Britto

Fevereiro 2023

 

Em 1963, a pequena bebê escorregava do ventre materno para o mundo. Era uma quarta-feira-de-cinzas, 4 horas da manhã, bem a tempo de ouvir a última música do último baile de Carnaval. Provavelmente, Bandeira Branca, pois é a cor da bandeira que carrega ao longo da estrada desde então. Sem entender muito o que acontecia ao seu redor, ela chorava... E ria.

Em 1973, a menina estudiosa seguia rumo à escola, antes até do sol nascer, para, com isso, conquistar o primeiro lugar na fila de alunos que seguiriam à sala de aula. Recém-chegada do Maranhão, tentava fazer parte daquele tal de Rio de Janeiro, enfrentando seus primeiros preconceitos pelo fato de ser nordestina, mas marcando seu lugar como melhor aluna da turma e, com a barriga vazia de café da manhã e o coração cheio de medos. Sem entender muito o que acontecia ao seu redor, ela chorava... E ria.

Em 1983, a jovem deslumbrava-se com o encontro do primeiro amor. Achava que não poderia ser mais feliz. Cursava a faculdade de Odontologia, embora gostasse mesmo era das Letras. O mundo parecia muito atraente, pedindo para ser desbravado. Continuavam os preconceitos pela origem mais humilde, pela falta de religião, pela mistura de raças na sua pele. Mas ela seguia, com toda a sua coragem e vontade de ser feliz, em uma eterna busca pela tão falada felicidade. O universo era totalmente desconhecido e ela só sabia que tinha que correr atrás, sabe-se lá do quê! Sem entender muito o que acontecia ao seu redor, ela chorava... E ria.

Em 1993, a jovem mulher havia ganhado o mundo. Morava na Inglaterra. Passeava pela História do mundo. Desbravava uma nova cultura e sentia-se muito perdida quanto à profissão. Difícil ganhar dinheiro com o que se gosta! Já havia perdido a ilusão da independência financeira que planejara alcançar aos 25 anos. E, num baile de máscaras, encantava os ingleses com sua alegria e seu rebolado, ao completar seus 30 anos. Sem entender muito o que acontecia ao seu redor, ela chorava... E ria.

Em 2003, rompera os limites do segundo milênio! Tornara-se mãe de outra menina e nunca mais estaria só. O casamento, de quase 30 anos, mostrava sinais de cansaço. A tal felicidade não era para sempre, percebeu. A paixão dava lugar a um sentimento de amizade, que não justificava mais dividir uma vida e sonhos de futuro. A profissão também não engrenava. Sem entender muito o que acontecia ao seu redor, ela chorava... E ria.

Em 2013, a jovem dera lugar à mulher madura, já divorciada e em busca, novamente da tal felicidade. Estava no fim de mais um relacionamento, já aceitando que a felicidade se dá em momentos e não dura para sempre. O bacana de tudo era o caminho que se trilha em busca desses pequenos momentos de prazer. Seguia mais leve, mais segura, mas ainda perdida financeiramente, o que tentava resolver dedicando-se aos concursos públicos. A vida tem ciclos e só precisamos aprender a hora de pular para o próximo. Sem entender muito o que acontecia ao seu redor, ela chorava... E ria.

Hoje, em 2023, a jovem senhora não corre mais atrás de sonhos irreais, preferindo realizar as coisas possíveis. Tornou-se estável financeiramente. Não busca mais uma felicidade paradisíaca, mas uma certa paz, especialmente consigo mesma, para conseguir também espalhar um pouco de esperança por onde anda. A vida amornou. Mas ela até acha agradável essa desaceleração. Há que se poupar energia para as coisas que realmente são importantes na vida: saúde, justiça e honestidade. Já entende um pouco mais do que acontece ao seu redor, mas ainda chora... E ri.

Nunca teve problemas com a idade: se os 60 são os novos 50, os 50 são os novos 40, e assim por diante, então, está completando os novos 20, que combinam mais com sua idade mental e disponibilidade para amar. E segue por aí, talvez voltando de 5 em 5 anos, pois de 10 em 10 tá ficando um pouco puxado, para continuar documentando esses ciclos, rsrs. Espera estar por aqui em 2033 e com muita sorte e sabedoria, quem sabe até em 2043! E, com certeza, continuará chorando... E rindo!


domingo, 17 de maio de 2020

Rotina de Energia



Rotina de Energia
Silvia Britto

Outro dia, indagada por uma amiga do grupo de escola, Joyce, sobre nossa rotina nesses dias tão difíceis contra um vírus, inimigo invisível, pus-me a pensar na minha...

Não vou falar dos finais de semana. Até porque não sei o que farei nesses dias... Deixo que a vida me surpreenda. Amo surpresas!

Vamos falar da rotina, do dia-a-dia.

Durante a semana, acordo cedo, por volta das 7 horas da manhã.
Estou trabalhando de casa, assim como muitos outros que tiveram essa sorte.

Vou direto para a sala e sigo uma rotina de exercícios, criada por mim, depois de anos e anos de atividade física e academia.
Termino com alongamento e uns poucos movimentos de yoga, saudando o Sol e o Deus que habita em mim.

Segue-se a hora do banho, onde mentalizo que todas as coisas ruins são lavadas do meu corpo.
Termino sempre com uma ducha de água fria, como se para "selar" a energia e trazer-me de volta ao dia que tenho pela frente.

E vem a hora do sol! Uma das minhas favoritas!
Sento-me ao sol, em minha varanda, sempre agradecida por ter esse cantinho sagrado.
Coloco uma música para alegrar minha alma e entrego-me ao deleite de ter minha melanina e minha imunidade reforçadas pelo Deus Sol.
Sou movida por ele. Aonde tenha sol, é pra lá que eu vou.
Tenho alma de girassol.
E fico lá, entregue a esse prazer por uns 30 minutos.

Daí, tomo café e sigo para o computador.
É hora do que eu, gaiatamente chamo de "Hommer Office".

E começo o trabalho.
Não está nada fácil trabalhar de casa, longe dos colegas queridos de trabalho e do ambiente delicioso que tenho, graças a Deus, o dom de criar por onde passo.
Os desafios são imensos. Ainda mais pra mim, quase uma anta cibernética.
Que me perdoem as antas, pois elas são brilhantes no que precisam ser para bem viver.
Elas não precisam entender de software, onedrive e links-urgentes-pra-ontem.
Há dias em que choro, não nego, por sentir-me incapaz de absorver melhor os novos comandos através de uma tela de computador...
Mas, ao final do dia, desligo o computador agradecida por ter vencido mais uma batalha e matado meus dragões diários.

Ao longo do dia, há pausas estratégicas para brincar nos grupos de amigos de escola, de trabalho, carregando sempre a certeza de ser eu mesma, em minha eterna missão de tornar as coisas mais leves e trazer sorrisos a quem deles precise. Sou uma eterna Poliana.

Por volta das 19 horas, os amigos de escola se unem em oração, pedindo forças para passar por esses tempos difíceis. Hà muita fé e vibração nesses momentos. arrepiante mesmo.
Mas, confesso que apareço pouco por lá, nessa hora.
Prefiro ter essas conversas com Deus, sozinha.

Converso, principalmente, com o Deus que habita em mim.
Aquele Deus que se alimenta das coisas simples da vida, de flores, de cores, de sorrisos, de verdades e de compaixão. O meu Deus das Pequenas Coisas.
Peço forças para manter minha luz e que eu sempre possa dar a mão ao Deus que habita em cada pessoa que cruzar o meu caminho e que dela precisar.
Também dou a mão aos deuses interiores daqueles que, por acaso, se me apresentem nessa hora.
Damo-nos as mãos para brincar de roda, fazer festa e nos nutrir de alegria.
Tenho uma enorme sorte de ter um exército de anjos ao meu redor.

Pouco saí nesse dois meses.

Fui dar umas duas voltas de carro pela orla, para ver o mar, outro elemento essencial à minha existência.
Sou sereia! Já contei? Mas esse é outro papo, pra outra hora.
Só de respirar o ar do mar, já o sinto penetrando e correndo em mim, fortificando meu sangue e meu coração.

As outras poucas vezes, fui ao mercado.
Não se vive só de bons pensamentos.

Tenho me alimentado bem, melhor do que quando comia na rua.
A comida caseira, feita por nossas próprias mãos, tem um sabor de vida, que em nenhuma outra encontramos.
Nem nos melhores restaurantes.
O que ingerimos quando vamos a bons restaurantes é prazer.
Em casa, o que ingerimos, é vida. É o essencial.

E o dia termina.

Mais uma vez agradeço, dessa vez à Lua, por me embalar em seu colo sereno e me ajudar a repor as energias para um novo dia que se iniciará em algumas horas...


... Outro dia, indagada por uma amiga do grupo de escola, Joyce, sobre nossa rotina nesses dias tão difíceis contra um vírus, inimigo invisível, pus-me a pensar na minha...




terça-feira, 7 de abril de 2020

Quarentena Dreaming



Quarentena Dreaming
Silvia Britto


Hoje estava sentindo-me um tanto quanto solitária.
Efeitos da quarentena forçada.
Peguei uma cerveja e fui para a varanda do décimo andar olhar o céu. 
De repente, peguei-me a pensar se a vida não seria um sonho. 
Um conjunto de lembranças que poderiam nem ter acontecido.
E se eu nunca houvesse saído do maranhão e aportado no Rio?
E se eu não tivesse pedido para voltar um ano na escola nova?
E se tivesse mantido meu desejo inicial de cursar Medicina?
E se?

Teria eu casado? 
Que parceiros teria eu encontrado no meu caminho?
Teria eu tido filhos, separações, os mesmos amigos, as mesmas decepções, as mesmas alegrias?
Que músicas embalariam minhas lembranças e quais seriam elas?
A vida é mesmo muito engraçada, feita de escolhas que determinam todo o resto de emoções com as quais temos que lidar.
Mas vejam só, não estou reclamando das minhas escolhas, elas me tornam quem sou.
Mas me faz pensar que tudo é um sonho. 
Que o aqui e agora nunca se fez tão presente. 
Que a vida passa rápido demais!

A cerveja está quase acabando. 
Já tomei mais da metade da garrafa. 
E as lembranças? 
Ah, as lembranças... Essas não acabarão jamais. 
Pelo menos, não as que escolhi ter nessa vida.
Cabe a mim, ou a nós, escolhermos as lembranças que teremos daqui pra frente.
E assim eu vou vivendo, de lembrança em lembrança, de escolha em escolha, enquanto eu puder beber.

Silvia Britto.
Abril 2020.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

É do inferno que se vê o paraíso


É do inferno que se vê o paraíso
Silvia Britto 

Os conceitos de paraíso e inferno são  antagônicos e complexos. Não cabe aqui um aprofundamento filosófico sobre eles, tarefa árdua e impossível para poucas linhas. O objetivo é tentar perceber sua função no nosso mundo contemporâneo e o controle que exercem sobre o nosso comportamento.  
Sempre mais desejado, o paraíso é um espaço atraente e virtuoso, repleto de flores, lagos azuis, crianças sorrindo e amantes se abraçando. Com um pouco de boa vontade percebe-se que o paraíso é aqui, é agora. A ele não é dado o seu devido valor e, quase sempre, tende a passar despercebido na correria caótica do nosso dia a dia.  
Por outro lado, o inferno é um lugar temido, de trevas infinitas, de doenças, de sofrimento e de competição desenfreada. Não é difícil perceber-se: o inferno também é aqui! É de onde se lamenta as oportunidades perdidas e a falta de coragem de enfrentar os medos antes que esses se transformassem em dragões invencíveis. É a privação completa das dádivas do paraíso. 
É exatamente no meio dessa privação que se dá valor ao que perdemos ou ao que não obtemos. A não ser que esse paraíso seja perdido, ele quase nunca é valorizado. É então que se chega a uma das maiores razões da ideia de inferno: é de lá que se vê o paraíso. Ou, pelo menos, é de lá que deveria vir o agradecimento pela nossa existência sem privações, a valorização do nosso paraíso, por vezes tão menosprezado.

O encontro



O encontro
Silvia Britto

Essa noite eu tive um sonho. Ou terá sido uma visão? Agora não sei, tão nítidas eram as imagens e acontecimentos.
Eu vinha andando, não sei bem de onde, mas de algum lugar bem distante, a julgar pelo pesar em meu corpo e em minha mente. O cansaço impossibilitava-me de seguir em frente e, por conta disso, sentei-me em um banco, à beira da estrada de terra.
Entretida estava em meus devaneios, quando passa por mim uma criança, trazida pelas mãos da mãe, uma mulher jovem e de olhar profundo.
A criança me olha e posso ver a alegria e encantamento que seus grandes olhos verdes e sorriso pleno transmitiam. Era uma menina.
Quando dou por mim, estou sentada no chão de terra batida, observando a menina que se esbaldava em um lindo e colorido parque que a ela se desvendou.
Ela corria solta, sempre observada pelos olhos atentos da mulher que dela não desviavam.
Descia pelo escorrega e caía na terra gargalhando. Balançava tão alto no balanço que quase foi abduzida pelo sol. Cantava músicas de roda a plenos pulmões.
Enquanto eu balbuciava baixinho as minhas angústias, ela gritava: YUPIIIEEEE!
Enquanto eu sentia o gosto salgado das minhas lágrimas, ela saboreava um maravilhoso e refrescante Chicabom.
Enquanto minhas pernas pareciam paralizadas pelo cansaço, ela parecia flutuar entre os cavalinhos do carrossel.
E assim passaram-se horas. Talvez dias. Até que a mulher decidiu que era hora de partir e chamou a menina que, correndo, jogou-se em seus braços.
As duas passaram por mim e eu pude sentir o perfume da liberdade emanando da criança.
De repente, a menina  virou-se em minha direção, correu e me abraçou, dizendo em meus ouvidos: “Um dia, eu vou crescer e serei você!” E se afastou correndo ao encontro da mulher. Foi quando pude observar que a criança usava sapatos de salto alto.
Sem saber o que dizer, levei as mãos à cabeça e percebi que eu estava de “Maria-Chiquinha” com um lindo laço amarelo a esvoaçar nos meus cabelos. Foi quando alguma coisa tomou força dentro de mim e fez com que eu gritasse para a menina:
“Não!! Deixe que EU volte a ser como você!!!!”

E saí correndo em sua direção, dando-lhe a mão enquanto, o agora trio, sumia no caminho de volta pela estrada que eu havia percorrido.

Angra me diz adeus


Angra me diz adeus
Silvia Britto
Dois anos se passaram. É hora de voltar pra casa. Estou feliz, pois era tudo que eu queria. Então, por que as lágrimas insistem em rolar pelo meu rosto? Porque não é fácil deixar para trás mais uma família.
Tive o imenso privilégio, quando decidi trocar os caninos e molares pelos Inquéritos e ofícios, de ser guiada por dois profissionais de ouro. Um, deVéras corajoso e didático e outro de uma e capacidade de gerenciamento/ planejamento e pragmatismo absurdamente nipônicos. Ambos, pessoas incríveis e muito generosas.
Convivi com uma variedade de pessoas fantásticas, sempre dispostas a oferecer um sorriso e uma mão amiga. Uma profusão de Leonardos, Carolinas, Isas e Rafas. Bonequinhas chinesas e árabes. Pombos correios. Magos das telas. Bruxas quânticas sulistas, de longas pernas e coloridas flores, contrastando com a brejeirice miúda de sotaque mineiro-bahiano das Januárias do mundo.
Vi pais e mães nascerem, famílias crescerem.
À frente, nossos agentes ao melhor estilo 007 e, na retaguarda, policiais capazes e muito brabos (só que não!).
A turma de cima. A turma da frente. Os que já foram. E a equipe quase totalmente Alvinegra das lindas e queridas meninas da psico (de onde mais poderiam ser para me acompanharem na doce loucura de torcer pelo Fogão?)
As moças da limpeza, que não falhavam em suas encheções de saco diárias, levando com elas as provas de nossos erros e inseguranças, além de fornecerem a cafeína quente e indispensável para os dias de trabalho pesado. (aliás, vou processar quem me disse que servidor público tem uma vida mansa!).
Também tem a ala internacional de Johnies, Jeffs e Angels. Meus meninos de ouro! Vai ser difícil viver sem poder extravasar o bullying nosso de cada dia.
Os momentos gourmet, com bolos de maçã, caldinhos de abóbora com camarão, bolinhos de chuva... Graças a eles vou embora de Angra rolando! Afff!
Indispensável dizer que vou levar muitas saudades . Mas o que mais me orgulha, é que sei que também vou deixar muitas saudades. Meu jeito franco, direto e moleque serviu para, de alguma forma, provocar algumas gargalhadas e trouxe a leveza necessária para um ambiente de amizade e ajuda mútua. O trabalho duro ficou marcado pelas incontáveis horas extras que se espalham em meu registro de ponto, usadas para transformar e organizar as prateleiras por onde andei. Também vou deixar minha marca nas carimbadas que lancei, às vezes sorrindo, às vezes chorando.
Portanto, gostaria de agradecer a todos pela oportunidade que me deram de poder deixar saudades. Vocês agora fazem parte da colcha de retalhos que é a minha vida. Retalhos acumulados pelos lugares por onde eu passo.
Despeço-me com apenas mais duas palavras: a Deus!
Amo vocês, bandibocós queridos!

Rivais, sempre. Inimigos, nunca!


Rivais, sempre. Inimigos, nunca!
Silvia Britto

Há muito que não escrevo mas senti uma vontade muito grande de vir aqui desabafar. Tudo por causa do suporte que dei ao Flamengo, contra os argentinos, na taça Libertadores.
As críticas, obviamente, vêm dos torcedores dos demais times do Rio, principalmente do meu tão amado Botafogo. Acho que sou a única Botafoguense que conheço que torceu para o Flamengo. Fui, inclusive, chamada de “torcedora Nutella”, por esse suporte que dei ao rubro negro.
Em primeiro lugar, Nutella é a puta que os pariu, com toda minha peculiar meiguice. Nutella, para mim, é quem adere a essa moda de fazer parte de facção e não de torcida. É quem apoia essa desunião bélica em que se transformou nosso futebol. É quem fala mal do time sem se dar ao menor trabalho de tirar a bunda do sofá e ir a um jogo no Niltão.
Eu, senhores, sou torcedora raiz, que sofro in loco, que vou a quase cem por cento dos jogos, que sou sócia torcedora e amo incondicionalmente minha Estrela Solitária. Raiz, é aquele torcedor que, como eu, lamenta, com saudade, a perda daquela rivalidade sadia entre torcidas, descendo juntas a rampa do Maraca, cantando seus hinos, e trocando telefones para futuras paqueras. Quantos amores entre times rivais eu vi nascer! Éramos felizes e aproveitamos como ninguém aqueles domingos que começavam na praia e terminavam na alegria que era ver nossas bandeiras tremulando nas arquibancadas do Maracanã. Que espetáculo lindo quando as bandeiras se cruzavam no meio tempo, para ficar do lado onde estavam seus corações. Nutella, senhores, são vocês, que seguem a infeliz modinha de participar de facções e não torcidas.
Também sou muito atacada por ser fã de carteirinha do Zico, um dos jogadores mais brilhantes e inteligentes que já vi jogar. Também admiro muito  Leandro,  Reinaldo,  Fred,  Rivelino, Júnior, protagonistas que faziam meus olhos brilharem assistindo ao esporte que tanto amo. Além deles, também amo de paixão o Marinho Chagas, que me fez ser escolhida pela Estrela, Jairzinho, Nilton Santos, Mendonça, Garrincha, Heleno e tantos outros a quem tenho a honra de chamar de ídolos Gloriosos. Aí, vêm os críticos dizendo: “Ah, mas o Zico não ganhou Copa do Mundo!”, “é jogador de time”... Pra quem não sabe, Zico não ganhou Copa do Mundo, mas foi campeão do mundo! E é amado e idolatrado até hoje e até o fim de seus dias.
Por fim, quero dizer que há muito que sigo o meu coração. E esse, meus caros, é de paz e não de guerra. Infelizmente, por conta dessa guerra que se tornou o futebol, meus sentimentos pelos Flamenguistas não é dos melhores. Sei também que é por culpa de uma pequena parcela de meliantes arrogantes que não perdem tempo em fazer ataques, às vezes mortais, aos seus oponentes. Por ser maioria, tornou-se a torcida com mais arrogantes que conheço. Mas também há, entre eles, muitos torcedores raiz, assim como eu. E a esses últimos eu remeto meus parabéns pelo trabalho bem feito e merecimento. Não gostei que o triunfo veio através de um jogador que, para mim, é símbolo desse “nutelismo”, que pratica o anti futebol e que não deveria, nem de longe, subir em um pedestal que Zico já ocupou. Mas, o mundo está de cabeça pra baixo e isso sim, eu tive que engolir a seco. Mil vezes as honras fossem ao Arrascaeta!
Por fim, devo dizer que, para o Mundial, continuarei a seguir meu coração. Morei na Inglaterra por nove anos. Meu time por lá, passou a ser o Liverpool, desde minha chegada na terra da Rainha, no ano de 1988. Sei lá porquê! Talvez por causa dos Fab 4. Fato é, que meu coração, na final do Mundial, será vermelho, doa a quem doer. Essa sou eu, com minhas incongruências, mas sempre seguindo meu coração raiz. GO YOU REDS!!