quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Nascer e morrer


Nascer e morrer
Silvia Britto

Mais uma dessas madrugadas...
Dizem que as madrugadas não foram feita para descansar e sim para pensar.
Verdade.
Mais uma vez estou eu aqui, falando sozinha, sem encontrar eco para as minhas palavras.
Falo sozinha. Para as paredes. Mas se quiser ser um pouquinho mais romântica, falo para a Lua, linda lá fora, ainda tentando dar-me um pouquinho da sua atenção.
De que adianta falar se as palavras não encontram um porto seguro onde repousar?
De repente, dei-me conta de que nascemos sozinhos e é exatamente assim que morreremos.
Sós nas nossas verdades, inalcançáveis aos que não nos querem ouvir por estarem embriagados por suas próprias verdades. Por aqueles que preferem o acalanto do sono às angústias e dúvidas que a realidade tem a lhes oferecer.
Realidade. Nada mais é do que um pesadelo que faz parte da vida dos que não querem ou não podem amar. Dos que não conseguem agarrar-se à linda viagem de sonhos que é a vida.
Nasci com esse dom, de saber amar. Com isso, sofro, sou mal interpretada e mal acreditada.
Nascemos sozinhos, vivemos nossas verdades sozinhos e, raramente, encontramos alguém que nos consiga ouvir.
A vida, quase que integralmente, segue fácil e tranquila quando optamos por viver apenas para nós mesmos.
Não é fácil e fico aqui, nesta madrugada, a pensar. Por que tudo tem que ser tão complicado? Por que a tendência universal é que sejamos tomados de acordo com a vivência de outrem, que insistem em não dialogar conosco e se mantém fiéis e reféns das suas crenças?
Como pode o mundo evoluir, o amor crescer e a vida tornar-se fácil e tranquila quando dependemos tanto da credulidade alheia?
Estou cansada de falar sem ser ouvida, de ver minhas belas palavras desacreditadas na sua veracidade.
Quisera fosse diferente. Mas qual! Vejo-me constantemente questionada na verdade de ser quem sou.
Que interesse teria eu de mentir? Já passei da metade do meu túnel. Já estou com idade suficiente para colher frutos e não para semear o meu futuro.
Por isso passei tantos anos descrente do destino. Não é dito que aqui se faz, aqui se paga?
Nada do que fiz foi com o intuito de cobrar. Mas questiono o motivo de nunca ser recompensada pelo imenso trabalho de ser quem sou.
Pelo jeito, é assim que tem que ser... Nascer, viver e morrer sozinhos, sem rascunho e sem borracha.

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