segunda-feira, 19 de maio de 2014

Escrever, escrever, escrever...




Escrever, escrever, escrever...
Silvia Britto

Vontade de escrever, escrever, escrever... E não mais parar. Talvez pela sensação de vida que a escrita me traz. Ao final de tudo, quando leio o que meus dedos transcreveram da minha alma, parece que me torno real. Fora da escrita, tenho me sentido invisível e pequena, quase um grão de areia, que sequer tem onde pousar.
Procuro caminhos através de meus textos que sei muito bem aqui não estarem. Não há caminhos para uma alma que se sente só. Há apenas a vida que insiste em que eu não pare e que siga, cabeça erguida, até o fim dessa viagem com que me brindou.
Estou com esta compulsão de começar e não parar... Hoje pela manhã, andei sem rumo da porta da minha casa em Botafogo até, de repente, me dar conta que estava na Lagoa Rodrigo de Freitas, olhando o céu e imaginando quanto tempo andei até ali chegar. Acho que caminhei algo em torno de duas horas seguidas. Parei apenas quando meus pés deram sinais de que algo não estava certo.
E assim eu tenho andado ultimamente. Sem rumo e sem chão. Vazio na alma. Coração humilhado. Sensação de ser um item descartável, qual aqueles brinquedos desejados em noites de Natal mas que, passado o encanto, são jogados em um canto qualquer da vida.
Solidão é minha eterna companheira. Foi com ela que desembarquei, aos 5 anos de idade no aeroporto do Rio de Janeiro com minha mãe e meus irmãos, vinda de São Luis do Maranhão. A cidade pareceu-me tão grande que engoliu por inteiro minha infância e meninice, que passei, sozinha, brincando com bonequinhas de papel.
Em meus sonhos de criança, sempre imaginei que cresceria e seria, um dia, importante para alguém. Felizmente, a vida brindou-me com um casamento maravilhoso que me completou por 30 anos. Mas acabou. E com ele, todas as minhas chances de ser novamente importante para alguém.
Não adianta. Não dou sorte no amor. Os pés na bunda superam covardemente os momentos de felicidade. Sempre escuto o mesmo discurso... “Você é maravilhosa, MAS...”. Minhas relações são povoadas por essa palavra má... “MAS”. Maravilhosa MAS sou um autista emocional... Maravilhosa MAS não posso lhe fazer feliz... Maravilhosa MAS não te mereço... Maravilhosa MAS há coisas mais importantes do que nós.
Nesse intervalo, em que me iludia com promessas equivocadas e irresponsáveis, que nunca poderiam ser cumpridas, perdi-me de mim mesma. Perdi minha vontade de brincar e meu desejo de gozar. De tanto que lutei, fiz as pazes com minha menina, que ainda não quer brincar mas que já me permite colocá-la pra dormir em meu colo.
Problema maior está sendo recuperar a mulher. Aquela que sonhava em um dia ser importante para alguém, perdeu-se totalmente de mim. Não tenho mais ilusões. Acho que nunca mais conseguirei confiar no amor de um homem. Minha inocência foi roubada de mim.
Mas pelo menos não perdi a capacidade de amar. É. Acho que é isso. Nunca vou perder minha capacidade de amar, pois essa nasceu comigo. O que sinto estar irremediavelmente perdida é a crença de acreditar-me amada.  Infelizmente, sinto que as sequelas do desamor tiraram-me para sempre uma das asas.
Só posso pensar que é algo em mim que desperta isso. Saio de uma relação doente, em que era acintosamente ignorada, para outra, em que terminei abandonada, depois de me ter sido prometido o mundo. Como acreditar novamente no amor? Não posso mais.
Vou tentar, heroicamente, recuperar minha autoestima e usar minha capacidade de amar a meu favor. Preciso, desesperadamente voltar a me amar. Enquanto isso, eu escrevo, e escrevo, e escrevo, e escrevo...

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