Escrever, escrever, escrever...
Silvia Britto
Vontade de
escrever, escrever, escrever... E não mais parar. Talvez pela sensação de vida
que a escrita me traz. Ao final de tudo, quando leio o que meus dedos
transcreveram da minha alma, parece que me torno real. Fora da escrita, tenho
me sentido invisível e pequena, quase um grão de areia, que sequer tem onde
pousar.
Procuro
caminhos através de meus textos que sei muito bem aqui não estarem. Não há
caminhos para uma alma que se sente só. Há apenas a vida que insiste em que eu
não pare e que siga, cabeça erguida, até o fim dessa viagem com que me brindou.
Estou com
esta compulsão de começar e não parar... Hoje pela manhã, andei sem rumo da
porta da minha casa em Botafogo até, de repente, me dar conta que estava na
Lagoa Rodrigo de Freitas, olhando o céu e imaginando quanto tempo andei até ali
chegar. Acho que caminhei algo em torno de duas horas seguidas. Parei apenas
quando meus pés deram sinais de que algo não estava certo.
E assim eu
tenho andado ultimamente. Sem rumo e sem chão. Vazio na alma. Coração
humilhado. Sensação de ser um item descartável, qual aqueles brinquedos
desejados em noites de Natal mas que, passado o encanto, são jogados em um
canto qualquer da vida.
Solidão é
minha eterna companheira. Foi com ela que desembarquei, aos 5 anos de idade no
aeroporto do Rio de Janeiro com minha mãe e meus irmãos, vinda de São Luis do
Maranhão. A cidade pareceu-me tão grande que engoliu por inteiro minha infância
e meninice, que passei, sozinha, brincando com bonequinhas de papel.
Em meus
sonhos de criança, sempre imaginei que cresceria e seria, um dia, importante
para alguém. Felizmente, a vida brindou-me com um casamento maravilhoso que me
completou por 30 anos. Mas acabou. E com ele, todas as minhas chances de ser
novamente importante para alguém.
Não adianta.
Não dou sorte no amor. Os pés na bunda superam covardemente os momentos de
felicidade. Sempre escuto o mesmo discurso... “Você é maravilhosa, MAS...”.
Minhas relações são povoadas por essa palavra má... “MAS”. Maravilhosa MAS sou
um autista emocional... Maravilhosa MAS não posso lhe fazer feliz...
Maravilhosa MAS não te mereço... Maravilhosa MAS há coisas mais importantes do
que nós.
Nesse
intervalo, em que me iludia com promessas equivocadas e irresponsáveis, que nunca
poderiam ser cumpridas, perdi-me de mim mesma. Perdi minha vontade de brincar e
meu desejo de gozar. De tanto que lutei, fiz as pazes com minha menina, que
ainda não quer brincar mas que já me permite colocá-la pra dormir em meu colo.
Problema
maior está sendo recuperar a mulher. Aquela que sonhava em um dia ser
importante para alguém, perdeu-se totalmente de mim. Não tenho mais ilusões.
Acho que nunca mais conseguirei confiar no amor de um homem. Minha inocência
foi roubada de mim.
Mas pelo
menos não perdi a capacidade de amar. É. Acho que é isso. Nunca vou perder
minha capacidade de amar, pois essa nasceu comigo. O que sinto estar
irremediavelmente perdida é a crença de acreditar-me amada. Infelizmente, sinto que as sequelas do
desamor tiraram-me para sempre uma das asas.
Só posso
pensar que é algo em mim que desperta isso. Saio de uma relação doente, em que
era acintosamente ignorada, para outra, em que terminei abandonada, depois de
me ter sido prometido o mundo. Como acreditar novamente no amor? Não posso
mais.
Vou tentar, heroicamente, recuperar minha autoestima e usar minha capacidade de amar a meu favor. Preciso, desesperadamente voltar a me amar. Enquanto isso, eu escrevo, e escrevo, e escrevo, e escrevo...
Vou tentar, heroicamente, recuperar minha autoestima e usar minha capacidade de amar a meu favor. Preciso, desesperadamente voltar a me amar. Enquanto isso, eu escrevo, e escrevo, e escrevo, e escrevo...
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