sábado, 31 de maio de 2014

Com que roupa?


Com que roupa?
Silvia Britto

Com que roupa eu iria ao samba que não fui?
Não fui ao samba.
Não fui ao samba porque não tinha roupa para vestir.
Não tinha roupa porque, atualmente, só ando nua.
Desnuda, pois nada mais me cai bem, 
que não sejam os braços do verdadeiro amor.
Desculpe-me garboso cavalheiro que me tirou para dançar.
Perdoe-me por não o poder acompanhar.
O samba exige dois corpos presentes e o meu, não mais me pertence.
Não consegui transpor essa porta que me levaria à voz dos grandes poetas.
Não porque essa porta esteja trancada...
Não! Ela está escancarada!
E queres prisão maior do que não conseguir transpor uma porta escancarada?
Nada a ver contigo, ou com as rosas que me tentaste ofertar.
Apenas, meu coração não quer que eu seja de mais ninguém.
Quem eu quero não me quer e quem me quer, mandei embora.
Mas aí já muda o ritmo da dança...
Outro dia eu falo do Waldick.
Melhor será continuar no samba e terminar cantando:

Meu coração tem mania de amor, e amor não é fácil de achar.

Desculpe-me, galante cavalheiro, mas não tive roupa para ir ao samba que você me convidou.

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