Fazendo as pazes com a linda mulher
Silvia Britto
Há alguns
dias comentei haver finalmente feito as pazes com a minha menininha, minha
pequenininha querida, a que mora dentro de mim. Estávamos estremecidas por um
lamentável descuido meu, pelo qual já pedi milhões de perdões. À época,
comentei que ainda faltava fazer as pazes com a linda mulher que também é parte
desta pluralidade de personagens que se resumem em mim.
Essa foi
infinitamente mais difícil de reconquistar. Magoou-se bastante com o descaso
com que lhe tratei e com as lágrimas que a fiz verter ao anulá-la dentro de mim
após uma grande decepção. Decepcionada com minha atitude derrotista, ela me
virou as costas e não me deixava mais mirar-lhe os lindos olhos nem tocar sua
pele, sempre quente e receptiva aos meus afagos.
Porém, ao
perceber minha insistência em recuperar seu amor, resolveu dar-me mais uma
chance e marcamos um encontro. Mas não poderia ser um encontro qualquer. Exigiu
de mim nada menos do que o meu melhor. E assim o fiz.
Aproveitando
uma ocasião em que me encontrava sozinha em casa, aprontei-me para ela. Coloquei
uma garrafa de champanhe no gelo, bebida essa que me havia sido ofertada por
ocasião do meu aniversário para que eu celebrasse, justamente, o amor. Enfeitei
a casa com flores, acendi umas velas e coloquei um vestido preto e longo. Caprichei na maquiagem e prendi os cabelos no
alto da cabeça. Coloquei um lindo disco de boleros, seguido de Louis Armstrong
e Frank Sinatra. Enchi a sala de espelhos e ali fiquei, esperando que a linda
mulher decidisse, por fim, vir ao meu encontro.
E lá pela terceira
taça de champanhe e pela segunda dança à voz do Sinatra, ela surgiu. Estava
linda, de vestido também preto e longo, e exalava um perfume embriagante de
champanhe misturado com flores. Em uma virada de cabeça, encontrei-a no
espelho. Aos poucos fomos nos aproximando e ela me tirou para dançar. Senti-me
envolta por seu corpo sensual e quente e, aos poucos, nos entregamos àquele abraço.
Ao final do
disco, chorávamos suavemente nos braços uma da outra, encantadas com nosso
reencontro. Mas ela queria mais. Foi até os discos e escolheu a música que
seria nosso tema de reencontro, uma linda melodia italiana, Noi Due Per Sempre.
E nesse momento despimo-nos de todas as mágoas, decepções e tristezas que se
haviam, cruelmente, colocado entre nós. Estávamos nuas, dançando ao som dos
acordes da linda música que nos guiava os movimentos.
E a entrega
aconteceu. Nos possuímos como há muito tempo não éramos capazes de nos dar.
Ficamos ofegantes, os cabelos em desalinho e os corpos suados pela paixão. Ainda
tomamos uma última taça de champanhe e ali mesmo, no chão, adormecemos, nos
braços uma da outra.
Ao amanhecer,
eu não queria acordar. Estava com medo de encontrar-me novamente só e desprezada
pela linda mulher. Relutantemente, fui abrindo os olhos e qual não foi a minha
alegria ao encontrar os belos olhos no espelho, sorrindo para mim e perguntando:
“Quer café, meu amor?”... E nos amamos mais uma vez, antes de encerrarmos
aquele reencontro com um delicioso beijo com gosto de café.
Juramos amor
eterno eu, a pequenininha e a linda mulher. Fizemos um pacto de que, daqui pra frente, não aceitaremos nada menos do que TUDO. Não buscamos mais nada, pois já encontramos o que buscávamos do amor. Entretanto, SE houver mais do que um "tudo" nesta vida, ele que a nós se apresente e não meça esforços em nos conquistar. Se isso não for possível, nos bastaremos e seremos muito felizes ao nosso modo. E assim seguiremos, unidas e únicas, até o
fim dos meus dias... E mais um ano.
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