quinta-feira, 29 de maio de 2014

Fazendo as pazes com a linda mulher


Fazendo as pazes com a linda mulher
Silvia Britto

Há alguns dias comentei haver finalmente feito as pazes com a minha menininha, minha pequenininha querida, a que mora dentro de mim. Estávamos estremecidas por um lamentável descuido meu, pelo qual já pedi milhões de perdões. À época, comentei que ainda faltava fazer as pazes com a linda mulher que também é parte desta pluralidade de personagens que se resumem em mim.
Essa foi infinitamente mais difícil de reconquistar. Magoou-se bastante com o descaso com que lhe tratei e com as lágrimas que a fiz verter ao anulá-la dentro de mim após uma grande decepção. Decepcionada com minha atitude derrotista, ela me virou as costas e não me deixava mais mirar-lhe os lindos olhos nem tocar sua pele, sempre quente e receptiva aos meus afagos.
Porém, ao perceber minha insistência em recuperar seu amor, resolveu dar-me mais uma chance e marcamos um encontro. Mas não poderia ser um encontro qualquer. Exigiu de mim nada menos do que o meu melhor. E assim o fiz.
Aproveitando uma ocasião em que me encontrava sozinha em casa, aprontei-me para ela. Coloquei uma garrafa de champanhe no gelo, bebida essa que me havia sido ofertada por ocasião do meu aniversário para que eu celebrasse, justamente, o amor. Enfeitei a casa com flores, acendi umas velas e coloquei um vestido preto e longo.  Caprichei na maquiagem e prendi os cabelos no alto da cabeça. Coloquei um lindo disco de boleros, seguido de Louis Armstrong e Frank Sinatra. Enchi a sala de espelhos e ali fiquei, esperando que a linda mulher decidisse, por fim, vir ao meu encontro.
E lá pela terceira taça de champanhe e pela segunda dança à voz do Sinatra, ela surgiu. Estava linda, de vestido também preto e longo, e exalava um perfume embriagante de champanhe misturado com flores. Em uma virada de cabeça, encontrei-a no espelho. Aos poucos fomos nos aproximando e ela me tirou para dançar. Senti-me envolta por seu corpo sensual e quente  e, aos poucos, nos entregamos àquele abraço.
Ao final do disco, chorávamos suavemente nos braços uma da outra, encantadas com nosso reencontro. Mas ela queria mais. Foi até os discos e escolheu a música que seria nosso tema de reencontro, uma linda melodia italiana, Noi Due Per Sempre. E nesse momento despimo-nos de todas as mágoas, decepções e tristezas que se haviam, cruelmente, colocado entre nós. Estávamos nuas, dançando ao som dos acordes da linda música que nos guiava os movimentos.
E a entrega aconteceu. Nos possuímos como há muito tempo não éramos capazes de nos dar. Ficamos ofegantes, os cabelos em desalinho e os corpos suados pela paixão. Ainda tomamos uma última taça de champanhe e ali mesmo, no chão, adormecemos, nos braços uma da outra.
Ao amanhecer, eu não queria acordar. Estava com medo de encontrar-me novamente só e desprezada pela linda mulher. Relutantemente, fui abrindo os olhos e qual não foi a minha alegria ao encontrar os belos olhos no espelho, sorrindo para mim e perguntando: “Quer café, meu amor?”... E nos amamos mais uma vez, antes de encerrarmos aquele reencontro com um delicioso beijo com gosto de café.

Juramos amor eterno eu, a pequenininha e a linda mulher. Fizemos um pacto de que, daqui pra frente, não aceitaremos nada menos do que TUDO. Não buscamos mais nada, pois já encontramos o que buscávamos do amor.  Entretanto, SE houver mais do que um "tudo" nesta vida, ele que a nós se apresente e não meça esforços em nos conquistar. Se isso não for possível, nos bastaremos e seremos muito felizes ao nosso modo.  E assim seguiremos, unidas e únicas, até o fim dos meus dias... E mais um ano.


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