sexta-feira, 9 de maio de 2014

O avesso do mundo


O avesso do mundo
Silvia Britto

Ficar em silêncio, diminui o risco, mas não permite a possibilidade de avanço.
Nunca serei a moça comportada, que se cala, se comporta e esconde o que sente.
Não sei ser metade. Amo de verdade, sofro de verdade, sorrio de verdade.
Não é fácil. É difícil. É praticamente impossível.
Mas gosto do impossível. É lá que se escondem os diamantes mais bonitos.
Por isso tenho sempre esta sensação de estar no avesso do mundo.
Às vezes encontro um doido, voando na contramão do que a vida estipulou.
Mas logo me vejo novamente só, pois o tal doido não se permite viver na plenitude dos seus desejos..
E assim eu vou, seguindo o caminho dos destemidos, que é a tal solidão.
Hoje, já sinto que alguém mais me faz companhia nessa estrada. Alguém a quem resolvi dar o nome de Deus, por sua capacidade de me fazer renascer a cada dia. Renascer é presente divino.
Nem sempre são dias fáceis. Mas são dias meus. São dias que nunca mais se repetirão.
E é nessa certeza, de que tenho que fazer o que acho certo e que não posso me calar a um destino que não me pertence, que choro, grito, sofro, esperneio e não me conformo.
Torno-me uma pequenininha teimosa, uma gigante em otimismo e determinação.
Sei que, em algum momento nesta metade de túnel que ainda me resta percorrer, sentir-me-ei plenamente abraçada pelo amor e pela paixão, da maneira que mereço.
Não posso deixar que o tempo acabe com meu amor verdadeiro e com minha felicidade.
Meu corpo agora descansa. Não quer reconhecer o meu toque. Minha imagem no espelho foge de mim. Mas do alto do meu otimismo inato e inabalável, sinto que, ao deixar mais esta pele para trás, serei amparada por asas ainda mais lindas e poderosas, que seguirão junto comigo, pelo avesso da vida, correndo, cantando, voando e fazendo amor.
 Até o fim dos meus dias... E mais um ano.


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