terça-feira, 20 de maio de 2014

Desistir é a melhor saída


Desistir é a melhor saída
Silvia Britto

Começo este texto citando um dos meus poetas maiores, Mr Bob Marley:

"Difícil não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que se mais ama. Eu desisti. Mas não pense que foi por não ter coragem de lutar, e sim por não ter mais condições de sofrer."

Pois é. Tomei a difícil decisão de desistir. Não é fácil desistir de sonhos ou de amores verdadeiros quando os encontramos. Porém, há momentos em que a melhor saída é parar de insistir.
Não foi fácil, pois minha natureza é guerreira e inconformada. Não consigo desistir antes de chegar no fundo do poço. Mas, finalmente, cheguei lá. Foram muitos dias de rejeição. Muitas atitudes insistindo em me mostrar que eu estava no lugar errado e na hora errada. E eu, presa a promessas, confessamente irresponsáveis, de amor e felicidade.
Porém, os dias foram passando, o sentimento de rejeição tomando conta de mim, fazendo com que minha autoestima, sempre tão alta e sorridente, se abalasse para a vida. Minha criança perdeu-se dentro de mim. A mulher abusada e irreverente, que é minha marca registrada, virou-me as costas. E assim eu seguia, movida pela cabocla guerreira que tomou as rédeas da situação de dor em que me encontrava.
Mas ontem, algo clicou dentro de mim. Vi que não posso insistir em algo que não pode ser meu. Entendi que desistir é o caminho mais corajoso a ser seguido. Encarei de frente o fato de haver sido preterida e de não ter a importância que julgava ter. Entendi que não passei de um lindo sonho que, se serviu para recuperar a autoestima de alguém, já fez o seu papel.
Mas não pensem que sou uma mulher ingênua que faz isso sempre que vislumbra a possibilidade de ser amada. Não sou. Fiz o que fiz por ter absoluta certeza de meus sentimentos e saber que o que sentia era amor verdadeiro. Era não... É! Porque amor não acaba nunca. Mas histórias de amor sim. Essas tem que acabar quando não são correspondidas ou quando um ama mais do que o outro. Nesse caso, a corda sempre arrebenta do lado de quem ama mais, de quem tem mais coragem de ser feliz.
Dessa vez, quem se esborrachou fui eu. Aliás, esse parece ser um marco nas minhas histórias de amor. Sempre acabo me esborrachando por dar mais do que podem me ofertar. Não tenho limites na minha entrega, se achar que vale a pena fazê-lo.
Mas sinto um grande alívio de dizer, alto e bom tom, que EU DESISTO. Desisto de sofrer por algo que nunca foi meu de verdade. Desisto de chorar por quem me rejeita com atitudes que não deixam dúvidas de que não sou prioridade em sua vida. Desisto de esperar por alguém que me deixa só e sem esperanças de me fazer feliz. Eu e minha estranha mania de achar que fariam por mim o que eu faria por outrem.
Por um tempo achei que não conseguiria sair do lugar e que ficaria esperando, pelo resto da minha vida, ser resgatada da minha dor e rejeição. Mais uma vez, mudo de ideia. Não vou mais esperar, mesmo sabendo que o amor, quando é verdadeiro, não acaba jamais. Sigo amando para sempre e mais um ano. Mas não vou mais olhar para trás. Sigo meu caminho livre da obrigação de esperar pelo que nunca foi meu.
A lição aprendida é que não posso e não vou mais me contentar com migalhas vindas de outrem e, principalmente, vindas de mim mesma. Não vou sair por aí tentando substituir um amor para o qual não há substituição. Prefiro seguir só do que me sujeitar a amar menos do que sou capaz. Esse tipo de encontro é raro, mas serve para mostrar que o amor existe e que ele é lindo.
Não posso esperar por algo que não mais existe. Se existisse, da maneira que mereço, seria meu. Levo comigo apenas a beleza do meu sentimento. Isso é o combustível que alimenta a minha alma.
Ao passar a tarde de ontem inteira refletindo sobre isso e chegando a conclusão de que era hora de pendurar as chuteiras e dar esse jogo por encerrado, terminei o dia exausta e vazia dos sentimentos que me consumiram os dias. Tomei um banho e caí num sono profundo, como há muito não experimentava, por andar perambulando de braço em braço de homens que não conseguiram me amar.
Acordei com um estranho vazio no peito. Mas um vazio bom. Vazio de quem teve a coragem de deixar partir aquilo que mais amava para poder virar a página e recomeçar a escrever a sua história. Não resisti e vim correndo até aqui, escrever o primeiro texto deste novo capítulo que se inicia.
Desistir, só se for para recomeçar. É chegada a hora de construir um novo futuro.

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