domingo, 8 de dezembro de 2013

Ai Ei Eiô, Mamãe Oxum!


Ai Ei Eiô, Mamãe Oxum!
Silvia Britto

Hoje é dia 8 de dezembro e, mais uma vez, lá vem a ateia assumida falar das encantadoras entidades da Umbanda. Mas é que Oxum, Nossa Senhora da Conceição para os católicos, tem um significado muito especial para mim. Desde muito pequena, por intermédio de uma amiga, adepta da Umbanda, que desenvolvi um carinho especial por Oxum e pelo que ela significa. Petulantemente, acho que me identifico com ela e resolvi "adotá-la" como mãe, mesmo sem saber se ela gostaria de assumir esse posto.
Esse meu encantamento acabou por contagiar minha mãe e era sempre à Conceição que ela pedia que olhasse por mim e me protegesse com seu manto que, por vezes debochei, dizendo à mamãe que o manto trabalhava tanto que já era hora de lavá-lo!
Sempre li muito sobre Oxum e digo-lhes agora porque dela me apoderei como exemplo e a razão da minha admiração.
Oxum é uma mulher forte, que conseguiu impor-se em um mundo de Orixás machos. É a deusa da fertilidade, daí sua ligação com Conceição, e dos rios e cachoeiras. Seu elemento, assim como o meu, é a água.
É uma mulher que ainda tem um quê de adolescente, coquete, maliciosa, ao mesmo tempo em que é cheia de paixão e busca objetivamente o prazer. Também tem como um de seus domínios, a atividade sexual e a sensualidade em si, sendo considerada pelas lendas uma das figuras mais belas do universo dos orixás.
Oxum corresponde também à deusa grega Afrodite e ser abençoada por ela significa que a mulher sentir-se-á plenamente à vontade com sua sexualidade e beleza, noção que ela adquire ao mirar-se no espelho que sempre trás consigo. É muito vaidosa mas, acima de tudo, em todos os seus relacionamentos, a mulher-Oxum coloca o seu coração.
Sua beleza física e interior podem abrir-lhe muitas portas para o mundo, inclusive as da inveja, o que poderá fazer a mulher-Oxum, por diversas vezes, duvidar do seu real valor.
A deusa-Oxum também herdou as qualidades guerreiras de Artémis, deusa grega da guerra, o que desperta-lhe um amor intenso pela liberdade, pela independência e pela autonomia.
Os ditos filhos de Oxum, identificam-se com as águas de um rio, sempre preferindo contornar habilmente um obstáculo a enfrentá-lo diretamente, chegando mesmo a serem chamados de teimosos e obstinados.
Os filhos de Oxum tendem a ter um enorme espírito maternal e tornam-se protetores e apaixonados pelos bebês humanos e pelos animais.
Sinceramente e sem falsa modéstia, que não sou disso, sempre que releio a história de Oxum, parece-me estar lendo um relato sobre a minha própria vida. Ela também é petulante e corajosa em assumir-se, assim como eu. Guerreira e teimosa, assim como eu. Maternal e sensual, assim como eu.
Finalizando, aqui vai uma pequena canção, ponto de Umbanda, que aprendi nas minhas incursões aos terreiros em minha adolescência, e que encanta-me, principalmente, pela sua simplicidade:

"Eu vi Mamãe Oxum na cachoeira,
sentada na beirada do rio,
colhendo lírio, lírio ê,
colhendo lírio, lírio á,
colhendo lírio pra enfeitar nosso congá."

Espero não tê-los entediado com tantas informações mas é que Oxum, para mim, é mais que uma deusa. É uma lenda que resolvi adotar como mãe e que me traduz como nenhuma outra.
Ai, ei, eiô, Mamãe Oxum!


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