domingo, 15 de dezembro de 2013

Meus "pés-na-bunda"


Meus "pés-na-bunda"
Silvia Britto

Levei muitos "pés-na-bunda" ao longo desses meus bem vividos 50 anos. Chorei muito à época que os recebi mas os guardo com muito carinho e agradeço pelos aprendizados de vida que eles me proporcionaram. Resolvi contar aqui alguns dos que mais marcaram este coração inquieto e abusado.
O primeiro de que me lembro, eu tinha apenas 5 aninhos e o "rapaz" em questão, 12! Era um menino lindo, que descia em sua bicicleta, com o peito todo cheio de talco, a ladeira da Rua de São Pantaleão em São Luis, MA. Cruel, ao saber da minha paixão, riu e me falou "Cresça e apareça, pirralha". Chorei muito, escondida, com o coraçãozinho totalmente despedaçado. Mas um dia eu cresci e voltei. Outra história que um dia eu conto. APRENDIZADO: crescer e aparecer!
Depois veio a paixão platônica adolescente pelo menino do prédio. Foram quase dois anos de sofrimento pois ele era apaixonado pela menina mais mandona do prédio, que lhe controlava os namoros e as emoções. Ela até deixou que ele me namorasse por uma mísera semana. Portanto, desse eu conheci os beijos, com sabor de chiclete de tutti-frutti. Chorei muito essa frustração ao som dos Carpenters! APRENDIZADO: não dar murro em ponta de faca!
Em seguida, o grande amor pelo menino da outra rua, lindo, moreninho qual um soberano da Índia. Cobiçado por muitas meninas, foi cair de amores juvenis por mim! Foi a primeira vez que tive uma paixão correspondida e achei ter encontrado o Nirvana quando saímos de mãos dadas do cinema empoeirado. Mas aí veio a inevitável inveja alheia e um telefonema anônimo, sobre o comportamento do meu lindo indiano, abalou minha já baixa autoestima adolescente e terminei nosso lindo namoro. Obviamente descobri toda a verdade, que havia sido vítima de inveja e crueldade das frustradas da época e fiz de tudo para reverter a situação e para que ele acreditasse em mim. Em vão. Tomei, inclusive, meu primeiro e um dos únicos porres da minha vida, desses para ficar na memória de todos que o presenciaram. Descobri, mais tarde, que ele ainda gostava de mim mas seu orgulho enorme impediu que seguíssemos o que poderia ter sido uma linda história de amor. APRENDIZADO: Acreditar em mim e nunca mais deixar minha autoestima ser abalada por anônimos, e também, que orgulho ferido de certas pessoas fogem completamente ao meu desejo e à minha vontade.
Mais tarde um pouco, veio o carinha dos bailinhos do Botafogo. Lindo! Mas também nunca me quis. Virei confidente de seu melhor amigo, que era apaixonado por mim e muito mais bonito que o tal em questão. Quando finalmente enxerguei a situação, era tarde. Meu confidente já havia desistido e partido. APRENDIZADO: Quando "um" não quer, olhe em volta. Pode haver um lindo "dois" apaixonado por você.
Daí encontrei o grande amor da minha vida, com quem fiquei casada 30 anos de minha vida e com quem aprendi o significado das palavras amor, entrega e cumplicidade. Infelizmente, depois de 30 anos o amor transformou-se e virou amizade, uma das maiores e mais fortes que tenho e com quem divido um presente lindo que é a nossa filha. APRENDIZADO: Amar vale muito à pena!
Atualmente, estou em processo de levar mais um pé-na-bunda. Esse, sutil, sem palavras diretas. São apenas atitudes de alguém que não sabe, ou não quer, amar e desconhece o significado das palavras sinceridade e cumplicidade. Não por culpa própria pois a vida não lhe foi amiga. Lutou muito e muito também superou. Mas há certas cicatrizes e vícios de comportamento que não são passíveis de mudança, infelizmente. Já falei em outra ocasiões que sinceridade é o meu bem e o meu mal. Nesse momento, colho mais um fruto decorrente dela. Chega a hora de eu entender e aceitar mais esse pé-na-bunda que, com certeza, ficará para sempre em minha memória. APRENDIZADO: ... Não sei. Ainda não descobri. Quando eu conseguir entender por que submeto-me a isso, prometo vir aqui e contar.
E bora que bora, que a vida é curta e meu rebolado, embora marcado de tantos pés-na-bunda, ainda é mais que um poema e não pode parar!


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