quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A Lua e eu





A Lua e eu
Silvia Britto

Hoje acordei muito cedo. Tinha que voltar pra casa antes do início do rush diário. Vinha da casa da minha irmã, no subúrbio carioca, ainda cambaleante dos excessos natalinos.
Assim que cheguei à rua, como me é de costume todas as manhãs, olhei para o céu para dar-lhe bom dia. Estava lindamente azul, para saudar o novo dia que despertava. De repente, algo muito lindo roubou-me a atenção. Bem no meio do céu, alta e linda, estava a Lua. Parecia não importar-se de que não era mais hora de estar por ali. Imediatamente, não pude evitar a comparação da Lua comigo. Já disse antes que não sou chegada à falsidades, nem mesmo à tal da falsa modéstia. Sou muito justa e honesta, meu bem e meu mal. Por isso, dei-me ao desfrute de comparar-me à Lua.
Ela brilhava no céu da manhã, desafiando o que dela se espera, que é iluminar a noite. Subversiva, assim como eu. Pequena e petulante, assim como eu. Desafiadora da normalidade, assim como eu. E aquela cena encantou-me enquanto entrava no ônibus que me traria de volta pra casa.
Ia ainda absorta nesses pensamentos de grandeza, quando, de repente, numa curva do caminho, deparei-me com a imensidão do Sol, brilhando por trás de uma montanha. Perdi a respiração e a ficha caiu. Aquilo sim era majestade! A Lua, em toda sua grandeza, só consegue extasiar aos namorados por causa do Sol. Eternos namorados, raramente conseguem encontrar-se. Eu estava testemunhando, mais uma vez, a beleza daquele encontro.
Não há dúvidas de que a Lua é bela. Mas sua beleza apenas nos é refletida por causa do grande amor que o Sol por ela tem. Sempre precisaremos do retorno da nossa existência. Ninguém consegue ser belo, ou feliz, sozinho. Apenas consigo ser petulante e subversiva porque alguém criou uma ordem para que eu a desafiasse. A vida é essa constante troca de emoções e sensações. Foge do nosso controle o dia em que os amantes encontrar-se- ão,  assim como nos foge a direção por onde a vida nos guiará.
Aí eu sorri. Dei uma piscadinha para a Lua, que, vaidosa, nem me deu bola. Estava exibindo-se para o seu amado Sol. Esse sim, piscou-me de volta, como se a me dizer: “Sacou, menina dos olhos verdes?”. Saquei. Somos todos únicos, mas precisamos uns dos outros para mostrar a nossa luz. E bora que bora, que o tempo não para e tenho muita coisa para sacar ainda!

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