A Lua e eu
Silvia Britto
Hoje acordei
muito cedo. Tinha que voltar pra casa antes do início do rush diário. Vinha da
casa da minha irmã, no subúrbio carioca, ainda cambaleante dos excessos
natalinos.
Assim que
cheguei à rua, como me é de costume todas as manhãs, olhei para o céu para
dar-lhe bom dia. Estava lindamente azul, para saudar o novo dia que despertava.
De repente, algo muito lindo roubou-me a atenção. Bem no meio do céu, alta e
linda, estava a Lua. Parecia não importar-se de que não era mais hora de estar
por ali. Imediatamente, não pude evitar a comparação da Lua comigo. Já disse
antes que não sou chegada à falsidades, nem mesmo à tal da falsa modéstia. Sou
muito justa e honesta, meu bem e meu mal. Por isso, dei-me ao desfrute de
comparar-me à Lua.
Ela brilhava
no céu da manhã, desafiando o que dela se espera, que é iluminar a noite.
Subversiva, assim como eu. Pequena e petulante, assim como eu. Desafiadora da
normalidade, assim como eu. E aquela cena encantou-me enquanto entrava no
ônibus que me traria de volta pra casa.
Ia ainda
absorta nesses pensamentos de grandeza, quando, de repente, numa curva do
caminho, deparei-me com a imensidão do Sol, brilhando por trás de uma montanha.
Perdi a respiração e a ficha caiu. Aquilo sim era majestade! A Lua, em toda sua
grandeza, só consegue extasiar aos namorados por causa do Sol. Eternos
namorados, raramente conseguem encontrar-se. Eu estava testemunhando, mais
uma vez, a beleza daquele encontro.
Não há
dúvidas de que a Lua é bela. Mas sua beleza apenas nos é refletida por causa do
grande amor que o Sol por ela tem. Sempre precisaremos do retorno da nossa
existência. Ninguém consegue ser belo, ou feliz, sozinho. Apenas consigo ser
petulante e subversiva porque alguém criou uma ordem para que eu a desafiasse.
A vida é essa constante troca de emoções e sensações. Foge do nosso controle o
dia em que os amantes encontrar-se- ão, assim como nos foge a direção por onde a vida
nos guiará.
Aí eu sorri.
Dei uma piscadinha para a Lua, que, vaidosa, nem me deu bola. Estava
exibindo-se para o seu amado Sol. Esse sim, piscou-me de volta, como se a me
dizer: “Sacou, menina dos olhos verdes?”. Saquei. Somos todos únicos, mas
precisamos uns dos outros para mostrar a nossa luz. E bora que bora, que o
tempo não para e tenho muita coisa para sacar ainda!
Nenhum comentário:
Postar um comentário