sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O poder da loucura


O poder da loucura
Silvia Britto

Às vezes me pego pensando, em madrugadas perdidas tentando entender o que a vida quer de mim, e hoje, um lampejo me veio à mente, já cansada e muito abatida de tanto procurar nexo para a minha existência. Já pensaram na força que a loucura e os loucos têm?
Não raro entreouvir-se por aí que fulano é louco, sicrano surtou, fulaninha é maluca. E isso, sempre vem acompanhado de um sentimento de desistência por parte de quem fala, como se estivesse justificando que as atitudes dos fulanos e sicranos é normal diante de sua loucura.
E nós, os sãos, como ficamos? Perdemos, constantemente, as batalhas pois, contra a loucura não há argumento. Falar com alguém cego por suas sandices  internas é como tentar enxugar gelo. Remamos, remamos, remamos e não saímos do lugar.
Eu, por temperamento ou teimosia, passo horas tentando argumentar com os pirados que cruzam o meu caminho e, inevitavelmente, termino exausta e com um sentimento enorme de impotência e incompetência em me fazer ouvir.
Não sou de largar o osso fácil, em nenhuma situação em minha vida. Isso me traz muitas vitórias, como o cargo público que conquistei  quase que na unha e à base de muito esforço, mas também me traz muitas noites mal dormidas, muitas dores de cabeça e muita dúvida em relação à minha própria normalidade. Sim, porque só um louco debate tanto tempo com outro louco.
Estamos rodeados de pessoas que vivem em mundos paralelos e deturpam os fatos da vida real como se vivessem no mundo da Alice, a das maravilhas. Suas realidades são tão ébrias e equivocadas que, às vezes, não vejo nem como começar um argumento. Por vezes, vejo-me embrenhada a tal ponto, que fico na dúvida se a louca de verdade não serei eu.
E os loucos da minha vida acabam sempre me vencendo, sugando minhas energias e minha tão desejada paz, que vivo buscando e que sempre me dá olé e escapa-me das mãos como um porquinho ensaboado correndo na lama.
Acho que eu deveria começar a rasgar dinheiro, comer cocô e também jogar  minhas inseguranças e dificuldades no colo dos outros para me sentir um pouco mais fortalecida. Só assim, talvez eu pudesse ter a força de que preciso para conseguir sobreviver nesse mundo de loucos em que vivemos.
Manter-me sã, em nada contribui para o meu bem-estar. Quanto mais tento manter meus pés no chão para dar a mão aos meus malucos de plantão, mais sou sugada pela areia movediça em que eles se encontram e parecem ter prazer em ficar. Quanto mais me entrego, mais me sugam. E esse movimento louco de puxar, segurar, aguentar firme, está me deixando sem noção de qual atitude tomar para manter-me intacta e com a cabeça fora d’água. As mãos que me acenam são muitas e vêm de todos os lados.
 Infelizmente, aos 52 anos de idade, ainda não fui capaz de encontrar um porto seguro para me amparar e me dar colo. Tenho certeza de que esse depoimento provocará mais revolta do que entendimento mas, como disse há pouco, em outro texto, se eu calar minhas palavras e meus textos, aí mesmo é que afundo de vez.
Uma revolta a mais, uma a menos, um grito aqui, outro ali, isso tudo parece que não pesa mais tanto em meus ombros. Simplesmente, pelo fato de perceber que, nada do que eu faça  ou diga, é capaz de impedir as revoltas e cobranças que me cercam de todos os lados.
Acho que estou começando a ganhar força na loucura também e desconfio estar embarcando no navio confortável da insanidade. Não sei. Será? Sou uma louca passando por sã ou uma sã que sucumbiu à loucura? Não sei. Diga-me quem for capaz.

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