quarta-feira, 1 de julho de 2015

E ninguém cala este chororô


E ninguém cala este chororô
Silvia Britto

Antes de começar, faz-se importante esclarecer que não escrevo este texto por estar deprimida ou triste. Longe disso! Estou em uma fase de muitas realizações pessoais e a vida me tem sido muito generosa.Talvez esteja apenas um pouco incomodada comigo mesma por pegar-me tentando secar minhas emoções e ser menos do que eu sou. Não posso engolir meu choro e minhas inseguranças, sob o risco de morrer sufocada pelos mesmos.

Chorar, muitas vezes, é interpretado como carência.
Ser carente é nunca estar completo, é nunca ser capaz de estar contente.
Ser contente é sentir-se pleno. E isso, eu sou, pelo menos em relação à realização dos meus desejos e sonhos. Apenas os merecedores têm esse privilégio.
Obviamente, não tenho controle sobre a realização desses sonhos da maneira com que os imaginei. Mas procuro aceitar que meus sonhos também dependem de outrem e que ninguém pensa ou sente como eu. Somos únicos na nossa idealização de felicidade. Melhor seria dizer de "momentos felizes", pois já me convenci de que felicidade eterna não existe. Vivemos da lembrança e da expectativa de momentos felizes.
Infelizmente, (ou felizmente!) não me contento com pouco ou com partes. Dou muito, sou muito, busco muito. Só consigo contentar-me quando recebo de volta, pelo menos, a tentativa do retorno dessa entrega. Consequentemente, sou confundida com uma mulher carente, para quem nada parece ser suficiente. Sou muito teimosa na busca por essa cumplicidade.
Nem todos nasceram com parafusos a menos como eu. Doar-se, entregar-se, mergulhar de cabeça, é para os desmiolados ou para os que não se furtam à intensidade que a vida, em sua brevidade, merece. Não meço esforços para fazer feliz a quem amo. Mas essa sou eu! Meu tempo é o aqui e o agora. Tenho que aprender a respeitar o tempo alheio e até mesmo que esse nunca chegue.
Constantemente, minha intensidade transborda e é tida como ridícula ou como algo a ser ignorado. Sou tomada por carente ou dramática quando abro o berreiro para não deixar minha alma acomodar-se a menos do que acho que mereço. E sigo ouvindo, com o coração apertado pela falta de carinho e clareza do que venho a ser eu:

- Lá vai ela de novo, a bipolar! A "quadripolar"!
- Ela precisa do choro para ser feliz!

Triste é perceber-me engolindo as lágrimas para não perturbar os que não as entendem. Mas é uma luta perdida para mim. Nunca irei me satisfazer com a mediocridade da injustiça. Choro, esperneio, mudo tudo de lugar, ando de costas, de cabeça para baixo, pulando em uma só mão. Saio toda ralada dessa aventura que é viver, mas não deixo situações de provação vencerem meu direito à felicidade.
Quando digo que choro muito, creiam, não é por carência. Choro por tristeza, felicidade, por prazer. Choro por transbordar a intensidade da minha coragem e ânsia de justiça. Sei que posso, muitas vezes, estar equivocada na minha interpretação do que seja justo. Mas para isso existem as palavras e as conversas. Sei mudar de ideia, não sou cabeça-dura. Isso seria burrice e tenho, sem falsa modéstia, plena convicção de que burra não sou. Tola sim! Sonhadora também! Mas nunca burra.
Chorar é expressar-se e expressão é sinônimo de superação.
Portanto, sinto muito se incomodo mas:

- Cala o choro já morreu! Quem manda no meu choro sou eu!

BUÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!!!!!!!!!!!!!


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