quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O retorno às letras


O retorno às letras
Silvia Britto

Ok. Deixem eu respirar fundo, pois passei muito tempo longe das minhas letras, palavras e textos que tanto me encantam. Perdi um pouco a mão para escrever e as teclas ainda estão inseguras com esse meu retorno.
Infelizmente, há momentos em que a vida nos impõe certas atitudes e nada podemos contra ela. O mesmo trabalho, que lutei tanto para conseguir, acabou interferindo na minha positividade e fluidez de viver e brincar. Mas acho que chegou a hora de colocar esse cargo no Ministério Público no lugar dele: muito importante na minha vida mas, nem de longe, o centro dela!
Também não posso culpar apenas o trabalho pela minha ausência. Andei  meio perdida por aí, com complexo de super-heroína, achando ser a responsável pela paz de espírito e felicidade de outras pessoas. Era um apartamento que eu tinha que desocupar, uma filha que eu tinha que deixar amparada, uma irmã para ser cuidada, um amor que precisava sentir-se seguro. A lista não é pequena. Amigos, família, muita gente por quem me julguei diretamente responsável.
A verdade é que, nesse afã de salvar as pessoas, acabei me afogando em mim mesma. Passei meus dias preocupada em corresponder a todos e a tudo, esquecendo de cuidar da minha alma e da minha essência. Não brincava mais e as lágrimas, já tão conhecidas por  quem me conhece, caindo mais por tristeza e cansaço do que por alegria. Isso não está certo.
Chega de culpar os outros pelas minhas lágrimas e atribuir meu desconforto a causas externas. Se choro, é por culpa única e exclusivamente minha, que não soube me defender de energias que não me pertencem. Se me sinto  injustiçada, é pela minha falta de energia para blindar minha alma para fatos que não me pertencem ou que a mim são imputados de forma irresponsável  e sem fundamento.
Por esse tempo que parei de escrever, fui subornada pela insegurança, ganhei entrada gratuita para o show da tristeza e fui sondada pelo ciúme, que veio de mãos dadas com a baixa-autoestima. Ofertas muito tentadoras, quando se está em um momento de transição na vida. Estou, mais uma vez, tendo que reinventar o meu mundo.
Não adianta. Não posso ser responsável pela felicidade de ninguém. Já tenho um trabalho danado em manter-me íntegra para quando precisarem de minha ajuda, no que estiver  ao meu alcance. E disso me orgulho. Nunca desisto de pessoas que sinto estarem aí para contribuir com minha alegria e felicidade. Ainda estou em aprendizado de deixar partir as que em nada me fortalecem. Mas, aos poucos estou apurando meu faro para detectá-las.
O maior bem que posso fazer pelos que me cercam é ser eu mesma. Não adianta querer ensinar alguém a voar empurrando-o montanha abaixo. O melhor caminho é que eu voe, linda e solta, com essas asas lindas que Deus me deu. O melhor ensinamento é o exemplo. Se eu recolher minhas asas e deixar com que as lágrimas de tristeza as molhem, não deixarei ninguém, que realmente se importa comigo, feliz e muito menos farei a diferença na vida de ninguém. Nem na minha! Voarei livre e pousarei, linda e faceira ao lado do que me faz feliz, sem me deixar caçar pelas armas das carências e inseguranças de outrem. A melhor forma de me comportar é deixar bem claro que, se pousei, foi porque eu quis e nada me forçou a isso.
Fato é, que estou de volta ao teclado e não posso negar nem esconder a grande alegria que isso me dá. É como se a vida estivesse em stand by, esperando o momento em que eu voltaria a brincar. E isso me deixa imensamente feliz.

Vamos brincar de viver e  escrever?


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