O retorno às letras
Silvia Britto
Ok. Deixem
eu respirar fundo, pois passei muito tempo longe das minhas letras, palavras e
textos que tanto me encantam. Perdi um pouco a mão para escrever e as teclas
ainda estão inseguras com esse meu retorno.
Infelizmente,
há momentos em que a vida nos impõe certas atitudes e nada podemos contra ela.
O mesmo trabalho, que lutei tanto para conseguir, acabou interferindo na minha
positividade e fluidez de viver e brincar. Mas acho que chegou a hora de
colocar esse cargo no Ministério Público no lugar dele: muito importante na
minha vida mas, nem de longe, o centro dela!
Também não
posso culpar apenas o trabalho pela minha ausência. Andei meio perdida por aí, com complexo de
super-heroína, achando ser a responsável pela paz de espírito e felicidade de
outras pessoas. Era um apartamento que eu tinha que desocupar, uma filha que eu
tinha que deixar amparada, uma irmã para ser cuidada, um amor que precisava
sentir-se seguro. A lista não é pequena. Amigos, família, muita gente por quem
me julguei diretamente responsável.
A verdade é
que, nesse afã de salvar as pessoas, acabei me afogando em mim mesma. Passei
meus dias preocupada em corresponder a todos e a tudo, esquecendo de cuidar da
minha alma e da minha essência. Não brincava mais e as lágrimas, já tão
conhecidas por quem me conhece, caindo
mais por tristeza e cansaço do que por alegria. Isso não está certo.
Chega de
culpar os outros pelas minhas lágrimas e atribuir meu desconforto a causas
externas. Se choro, é por culpa única e exclusivamente minha, que não soube me
defender de energias que não me pertencem. Se me sinto injustiçada, é pela minha falta de energia
para blindar minha alma para fatos que não me pertencem ou que a mim são
imputados de forma irresponsável e sem
fundamento.
Por esse
tempo que parei de escrever, fui subornada pela insegurança, ganhei entrada
gratuita para o show da tristeza e fui sondada pelo ciúme, que veio de mãos
dadas com a baixa-autoestima. Ofertas muito tentadoras, quando se está em um
momento de transição na vida. Estou, mais uma vez, tendo que reinventar o meu
mundo.
Não adianta.
Não posso ser responsável pela felicidade de ninguém. Já tenho um trabalho
danado em manter-me íntegra para quando precisarem de minha ajuda, no que estiver
ao meu alcance. E disso me orgulho.
Nunca desisto de pessoas que sinto estarem aí para contribuir com minha alegria
e felicidade. Ainda estou em aprendizado de deixar partir as que em nada me
fortalecem. Mas, aos poucos estou apurando meu faro para detectá-las.
O maior bem
que posso fazer pelos que me cercam é ser eu mesma. Não adianta querer ensinar
alguém a voar empurrando-o montanha abaixo. O melhor caminho é que eu voe,
linda e solta, com essas asas lindas que Deus me deu. O melhor ensinamento é o
exemplo. Se eu recolher minhas asas e deixar com que as lágrimas de tristeza as
molhem, não deixarei ninguém, que realmente se importa comigo, feliz e muito menos farei a diferença na vida de
ninguém. Nem na minha! Voarei livre e pousarei, linda e faceira ao lado do que
me faz feliz, sem me deixar caçar pelas armas das carências e inseguranças de
outrem. A melhor forma de me comportar é deixar bem claro que, se pousei, foi porque
eu quis e nada me forçou a isso.
Fato é, que
estou de volta ao teclado e não posso negar nem esconder a grande alegria que
isso me dá. É como se a vida estivesse em stand by, esperando o momento em que
eu voltaria a brincar. E isso me deixa imensamente feliz.
Vamos
brincar de viver e escrever?
Nenhum comentário:
Postar um comentário