terça-feira, 24 de novembro de 2015

Entre peitos e bundas



Entre peitos e bundas
Silvia Britto

Sou mulher, desde que me entendo por gente. Porém há momentos em que me incomoda um pouco ser parte desse grupo. Sei que nem todas são iguais, mas a competição e tentativa de “puxar o tapete” uma da outra é algo que, por muitas vezes, me enoja. Acho que é a minha parte “gente” que fala mais alto nessas horas.
Não digo que não faço lá minhas críticas também. Mas confesso que as faço quando atingida por idiotices que, não nego, tiram-me do sério. É o meu lado defesa que fala mais alto. Para se ter uma ideia, até meus olhos já foram acusados de serem falsos, de serem lentes de contato, como se ter olhos claros fosse algo que ameaçasse a integridade dos que não os têm. Pois eu conheço muitas mulheres (deixemos os homens fora disso, por ora) de olhos azuis e verdes que são mais feias que o capeta, principalmente internamente, em seus preconceitos e ignorâncias.
Constantemente, pode ser entreouvido por aí, quando a beleza de alguma linda mulher é colocada em questão: “Ah! Mas ela colocou silicone nos peitos! A bunda também foi comprada! Não percebem que faz chapinha no cabelo?”. E eu pergunto: e daí? E daí se temos recursos para mudar a cor dos cabelos, tirar pelancas extras da barriga ou do rosto, ou até mesmo fazer depilação definitiva para remover pelos anti-higiênicos e indesejáveis?
Particularmente, aos 17 anos de idade, fiz redução dos seios e isso mudou minha vida de adolescente deprimida para jovem mulher autoconfiante. E alguém ainda tem coragem de dizer que não o deveria ter feito? Que o bonito é ser natural? Que atire a primeira pedra a mulher que nunca pintou as unhas! Ou terão elas nascido vermelhas? Ou ainda, aquela mulher que nunca usou maquiagem! Ou será que os lábios nasceram mais rubros do que a maçã da branca de neve?
As falsas loiras, criticam as “luzes” das morenas. As morenas, criticam as sardas das ruivas. As ruivas, criticam o tamanho agigantado das bundas das mulatas... Affff! Quanta pobreza de espírito, sisters! Cansa-me ter que ver a que ponto hipócrita chegou nosso senso de beleza e inveja.
Porém, desconfio que o buraco seja mais embaixo. A crítica não vai aos cachos do cabelo ou ao tamanho dos seios e bundas. A crítica vai como uma forma de tentar sentir-se superior, de alguma forma, ao sucesso que a outra faz. O que incomoda, de fato, não é a bunda ou os seios, e sim a inteligência, o charme e aquele “quê” a mais que algumas mulheres possuem. Isso é inato! Não há como comprar simpatia na farmácia. Muito menos, sedução em bisnagas de tinta para o cabelo.
Há mulheres que, sem nenhuma maquiagem, sem penteados elaborados, sem roupas de grife e sem bolsas Louis Vitton, chegam e abalam qualquer ambiente. E essa beleza interior incomoda demais. Tanto, que as invejosas se pegam com fervor no silicone do peito e nas celulites das pernas para tentar compensar o que nunca terão: charme e luz própria!
Portanto, “critiquetes” de plantão, antes de julgarem a chapinha da outra, deem uma olhada em seus livros nas estantes, em seus discos, seus quadros nas paredes, suas fotos de viagem, a quantidade sincera de pessoas que querem o seu bem, na sua forma de expressar-se e escrever, no seu jeito de inserir-se nos problemas do mundo e na sua capacidade de passar de um papo “cabeça” ao não pensar em nada e deixar-se levar pelo som do “Charme” nas pracinhas dos subúrbios cariocas.
Por favor, não me venham falar de peitos ou bundas! Ou vocês acham que eles serão eternos? Olhem dentro dos meus olhos e tentem ver um pouco mais além da cor. Eles dizem muito mais do que sua vã ignorância as deixa ver.


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