Zé Turé
Silvia Britto
Zé Turé era
mais um dos milhares de afilhados de minha vó Dedé.
Antes de
continuar a falar de Zé Turé, preciso deixar uma coisa bem clara para que os
desavisados não continuem a ler. Não sou, e nem pretendo ser, esse tal de
“politicamente correto”, que anda tão em voga. Prefiro ser a velha e brega “emocionalmente
amorosa”. Portanto, não esperem de mim termos como “afrodescendente”,
“adiposamente favorecidos” e afins. Prefiro dizer “negona gorda”, pois sei que,
em meu coração, essa negona é tão amada e respeitada quanto a “branquela
magrela”, sacaram?
Esclarecimento
feito, voltemos ao Zé Turé. Mais um dos milhares afilhados de minha Vó Dedé
espalhados por São Luis. Neguinho preto tiziu como dizem por aqui. Apaixonado
por Dona Dedé, sempre aparecia por volta da hora do almoço para saber em que
poderia ajudar a “dinda”. Quase sempre cabia-lhe a função de ir à venda comprar as duas cervejas diárias que
Dedé religiosamente tomava desde sua mocidade.
Certo dia,
lembro ainda como se fosse hoje, estava eu, sentada na sala assistindo a
desenhos animados na TV, esperando o resultado do cheiro maravilhoso que vinha
da cozinha concretizar-se. Como se fosse mágica, “puft”, o som e a imagem da TV
escafederam-se. Gritei desolada. A primeira a acudir-me foi Gracinha, outra das
milhares de afilhadas de Dedé. Ao ver a razão de minha decepção, gritou, aflita:
“D. Dedé! Acuda! A “bicha” está sem voz e sem feição!”.
Zé Turé
aparece correndo, logo em seguida, numa tentativa de sanar a minha grande
decepção. Olha para a TV com seus olhos pretos qual jabuticabas, coça um pouco
a cabeça, põe a mão no queixo, vira a cabeça para um lado e para o outro, faz
cara de sabido e solta seu ilustre diagnóstico: “VIXI!”. Sai logo em seguida em
direção à venda para buscar o refresco de malte da Vó, deixando-nos todos a
gargalhar até a alma não aguentar mais. Exatamente como faço agora!
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