sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Zé Turé





Zé Turé
Silvia Britto

Zé Turé era mais um dos milhares de afilhados de minha vó Dedé.
Antes de continuar a falar de Zé Turé, preciso deixar uma coisa bem clara para que os desavisados não continuem a ler. Não sou, e nem pretendo ser, esse tal de “politicamente correto”, que anda tão em voga. Prefiro ser a velha e brega “emocionalmente amorosa”. Portanto, não esperem de mim termos como “afrodescendente”, “adiposamente favorecidos” e afins. Prefiro dizer “negona gorda”, pois sei que, em meu coração, essa negona é tão amada e respeitada quanto a “branquela magrela”, sacaram?
Esclarecimento feito, voltemos ao Zé Turé. Mais um dos milhares afilhados de minha Vó Dedé espalhados por São Luis. Neguinho preto tiziu como dizem por aqui. Apaixonado por Dona Dedé, sempre aparecia por volta da hora do almoço para saber em que poderia ajudar a “dinda”. Quase sempre cabia-lhe a função de ir  à venda comprar as duas cervejas diárias que Dedé religiosamente tomava desde sua mocidade.
Certo dia, lembro ainda como se fosse hoje, estava eu, sentada na sala assistindo a desenhos animados na TV, esperando o resultado do cheiro maravilhoso que vinha da cozinha concretizar-se. Como se fosse mágica, “puft”, o som e a imagem da TV escafederam-se. Gritei desolada. A primeira a acudir-me foi Gracinha, outra das milhares de afilhadas de Dedé. Ao ver a razão de minha decepção, gritou, aflita: “D. Dedé! Acuda! A “bicha” está sem voz e sem feição!”.

Zé Turé aparece correndo, logo em seguida, numa tentativa de sanar a minha grande decepção. Olha para a TV com seus olhos pretos qual jabuticabas, coça um pouco a cabeça, põe a mão no queixo, vira a cabeça para um lado e para o outro, faz cara de sabido e solta seu ilustre diagnóstico: “VIXI!”. Sai logo em seguida em direção à venda para buscar o refresco de malte da Vó, deixando-nos todos a gargalhar até a alma não aguentar mais. Exatamente como faço agora!

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