terça-feira, 1 de outubro de 2013

Burra mas bonitinha

Burra mas bonitinha
Silvia Britto

Eu poderia vir aqui e dizer que sou ingênua por opção. Que prefiro sempre acreditar no outro por achar que todos merecem um crédito. Que ingenuidade não é sinal de burrice. Que burro é quem tenta me subestimar pois, nesse caso, apenas se privará de uma pessoa com um coração enorme e que, felizmente, aprendeu o que é o amor. Mas esse blá blá blá vocês já estão cansados de saber e nada poderia ser mais jururu para começar o mês de outubro do que essas eternas reclamações.
Por isso, resolvi fazer uma das coisas que mais gosto que é rir. E rir de si mesmo é o primeiro passo para a cura. Já disse antes que mentiras sinceras me interessam. Porém, verdades mentirosas levarão de mim apenas um belo e bem dado coice na bunda. Mintam bastante, please! Mas com sinceridade! Não me venham com verdades de 'pernas curtas".
Já falei para vocês da metáfora do vidro? Por muito tempo em minha vida, assistia ao mundo por detrás de um vidro grosso e seguro. Não me expunha e, com isso, ganhava em segurança e perdia em prazer. Parecia-me que o mundo do outro lado era só para alguns poucos sortudos. Um dia, me emputeci de verdade de só a tudo assistir e quebrei o danado do vidro, que estilhaçou-se sem possibilidade de conserto. Mas não entrei crua nesse novo mundo de cores vivas e gostos amargos. Enquanto espiava, observava cada movimento que as pessoas do outro lado faziam e aprendi muito sobre a natureza humana. Em sua maioria, as pessoas não passam de um monte de crianças perdidas achando que são adultas.
Uma das grandes verdade que trouxe dessas observações é que não se pode ajudar ninguém que não queira ser ajudado. Não se quebra o vidro de alguém que prefira viver na solidão. Eu tento, cutuco, instigo, estendo a mão mas não tenho o poder de tirar ninguém da areia movediça que buscam pisar com os próprios pés.
Enquanto isso, eu sigo com minha burrice alegre e descomprometida com mentira e hipocrisia. Acho até que sou uma burrinha bem apessoada e bonitinha. Adoro um bom pasto, uma aguinha bebida diretamente de um rio encontrado pela estrada. Divirto-me tentando caçar borboletas e sempre caio de fuça no chão ao julgá-las inofensivas. Sabiam que, de suas asas, as borboletas exalam um pó que pode irritar os olhos de quem as tocam? Nada é totalmente inofensivo nesta vida. Mas isso só se aprende vivendo.
Só não me tirem a liberdade de viver na transparência. Só não tentem manipular-me para tirar de mim meu orgulho e abalar minha autoestima. Se tentarem, sentirão a força do meu coice, que nada mais é do que a minha eterna alegria. Algo irrita mais aos mau amados do que a alegria de quem sabe amar? E, cá pra nós, sou até uma burrinha muito bonitinha, hein? O que vocês acham?
Despeço-me pedindo licença a Quintana, outro burro incorrigível, para cita-lo.

Não tenho vergonha de dizer que estou triste,
Não dessa tristeza ignominiosa dos que, em vez de se matarem, fazem poemas:
Estou triste por que vocês são burros e feios
E não morrem nunca...
Mario Quintana
Agora com licença que vou ali pastar!
IIIIIIIIHH ONNNNNNN!!!!!!!!!!!!!!!

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