sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Tadinho do Benhê!

Tadinho do Benhê!
Silvia Britto

Aproveitando o finalzinho das minhas férias, fui à praia hoje de manhã. Estava maravilhosa. Céu de Brigadeiro, mar de Almirante, de um verde emocionante.
No intervalo entre um dos muitos mergulhos que dei para brincar com minhas amigas sereias, estava eu deitada de bruços, oferecendo despudoradamente meu rebolado, que é mais que um poema, ao sol, quando vejo chegando ao longe um casal pra lá de caricato. Ela, uma patricinha típica, dessas que eu chamo de Pat Girl. Ele, um desses maridos gentis e bocós, que pouco questionam da vida. Ela, com imensos óculos escuros, chpéu de abas largas, saída de praia rendada, chinelinho Havaiana Fashion, unhas impecavelmente vermelhas, conversando ao celular de última geração. Ele, de bermuda e camisa, boné, duas cadeiras, duas barracas penduradas e suando bicas.
Quis o destino que montassem o acampamento justo ao meu lado. Logo após cadeiras e barracas devidamente montadas, nossa amiga Pat Girl começa a fazer os seus pedidos, numa vozinha irritante, que só as Pat Girls têm:

- Benhê, passa protetor nas minhas costas? E Benhê passava.
- Benhê, pega um côco pra mim? E benhê pegava.
- Benhê, coloca água no baldinho pra eu lavar os meus pés? E Benhê pegava.

Passado um tempo, começa a "conversa" entre o casal:

- Benhê, aquela ali é mais branca do que eu, né? Aquela outra é mais gorda que eu. Aquela de preto é mais baixa que eu. Meu cabelo é mais bonito que o daquela loira de botox?

E Benhê responde a tudo de maneira resignada e pacífica.
Depois de algum tempo, aproveitando uma trégua entre solicitações da nossa Pat Girl, Benhê senta-se em sua cadeira e tenta sorver um pouco do momento lindo que a praia nos oferecia. Eis que, de repente, passa desfilando a nossa frente, uma morena linda, em um biquini sumário,branco, e com um reboládo quase tão poético quanto o meu. O olhar do Benhê, assim como o de todos os presentes, é atraído em direção à beldade escultural. De repente, numa nota um pouco mais alta do que o seu agudo habitual, nossa heroína manda:

- BENHÊ!!!!!!!! Para de olhar e desejar!!!

O pobre do Benhê ainda tenta retrucar que nada havia feito, mas ela diz que ele não fez mas pensou!
E o coitado fica lá, sentado, cara de paisagem, desprovido até de liberdade de pensamentos, olhando para o infinito do mar e, provavelmente, lastimando ter nascido com aquele pendurucalho entre as pernas, tão guloso e exigente e pelo qual tinha que submeter-se aos mais inimagináveis sacrifícios. Melhor aturar do que ter que encarar o solitário cinco a um.

Tadinho do Benhê!!!!!!

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