sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

"Que se dane-se!"



“Que se dane-se!”
Silvia Britto

Hoje, finalmente, consegui retomar minhas atividades físicas normais e deliciei-me com uma aula de hidroginástica no Guanabara, clube na Zona Sul do Rio de Janeiro, em um local pra lá de privilegiado, com vista do Cristo Redentor de dentro da piscina.
Quando saía, com a alma e o corpo lavados pela água gostosa, deparo-me com um grupo de crianças, de lá seus oito anos, chegando à piscina acompanhados de monitores animados. Tratava-se de uma dessas colônias de férias urbanas, para pais que não têm como viajar e querem que seus pimpolhos façam algo saudável e divertido.
Vinham todos já em seus trajes de banho. Lá no fim do grupo, meus olhos foram atraídos por uma garotinha muito bonitinha, bem moreninha, olhos verdes e muito falante. Lembrou-me de alguém que conheço muito bem. Vinha toda animada com seu biquini preto, de bolinhas brancas e lacinhos vermelhos. Consegui escutar o que falava de longe, tão discreta era a criaturinha. Ela dizia:
- ...E se “eles” flarem que a gente tá gorda, a gente só diz: Que se dane-se!
Não pude conter o riso. A pequena estava certíssima! Essa já disse a que veio. Será, provavelmente, muito feliz com ela mesma e livre dessas ditaduras do corpo, absurdas, que fazem adolescentes morrerem de inanição e vergonha de si mesmas.
Eu sempre fui, digamos assim, do lado mais “carnudo” das pessoas. Mas nem por isso deixei de ir à praia, ter paixões e apaixonados, namorar, brincar e sorrir. É certo que passei muitos anos de minha vida sendo cobrada para ter o “corpo perfeito”. Aquilo entristecia-me mas não abalava minha autoestima. Apenas sentia-me mal pela dificuldade que minhas inocentes gordurinhas tinham de serem aceitas.
Não prego aqui a obesidade. Sei que gordura em excesso tráz males à saúde e, por isso mesmo, estou na luta para perder os dez quilos extras que apoderaram-se do meu corpo quando cheguei no fundo do poço há coisa de quatro anos. Mas sei que nunca terei esse padrão corporal imposto pelas revistas de moda atuais. Minha retaguarda é muito africana para moldar-se a esse padrão europeu.
Entretanto, estou em paz comigo mesma e com a minha imagem. Agradeço ao meu corpo por todas as sensações maravilhosas e prazeres que me faz sentir. Tudo parece estar funcionando a contento, a não ser pela tal rótula frouxa do joelho, razão pela qual devo emagrecer um pouco e o motivo de ter que limitar-me à hidroginástica e alongamento e, também, aos parafusos a menos que possuo no cérebro mas, para esses, não há solução.
No mais. Estou bem, obrigada. E se alguém não gostar ou achar feio, “que se dane-se”!

4 comentários:

  1. Sensacional...é isso ai Bjosss

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  2. Ahhhhhhh que ótimo texto, Silvinha... Estou começando a ler seus textos, muito bons. Adorei alguns parágrafos maravilhosos como este:
    "Entretanto, estou em paz comigo mesma e com a minha imagem. Agradeço ao meu corpo por todas as sensações maravilhosas e prazeres que me faz sentir. "
    Nosso corpo, nosso templo.. devemos cuidar e amá-lo, é nosso e que estejamos de bem com ele, seja ele como for... Também não tenho neuras com o meu, atrapalhado pela deficiência, mas com ele vou aonde posso ir e além de tentar, mostrando-me, que é possível continuar, apesar de! E quem não gostar que SE dane-Se, antes, durante e depois..kkk Muito bom.. Amei.. Silvinha!
    Tem mais...
    "Minha retaguarda é muito africana para moldar-se a esse padrão europeu"...
    Como nós brasileiras lutamos contra este legado que trazemos no sangue e ainda nos dizemos sem preconceito, mas queremos ser alta loura, linda, magra e nos esquecemos que o quê nos faz sermos consideradas belas mulheres é exatamente esta miXtura ... Por mim... bendita retaguarda africana...
    De novo: belo e harmonioso texto... Amei...

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  3. Poxa! Obrigada, Beth. É muito importante para mim, ver que consigo passar minhas ideias de forma clara e direta. Esse elogio, vindo de você, vale muito para mim. Beijo gostoso e que se dane-se!

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