Habeas Corpus Cidadão
Silvia Britto
Em um país
onde todos podem propor o que lhes vier à telha, à exemplo da ridícula Cura
Gay, também eu tenho uma proposta a fazer. Aprendi que o Habeas Corpus trata-se
de um remédio Constitucional que deve ser utilizado quando tivermos nosso
direito de ir e vir ameaçado ou cerceado. Eu, como cidadã, tenho esse meu
direito cerceado diariamente. Hoje ele quase faleceu, precisando mais do que um
remédio, talvez uma CTI Constitucional. Proponho o Habeas Corpus Cidadão!
Explico-me.
Tinha que
vir do Engenho de Dentro à Urca. Como boa cidadã, resolvi acatar o pedido dos
nossos “governantes” e trocar o carro/táxi pelo transporte público. E lá fui
eu, toda prosa, para a estação do Engenho de Dentro, pegar o trem que me
levaria à Central, percurso de coisa de 10 minutos. Ao chegar à estação, achei
que estava um pouco mais cheia do que o normal. Deveria ser por todos terem
tido a mesma ideia que eu. Não era. Os trens estavam atrasando! E ali fiquei
por mais de trinta minutos.
Chegado o
trem, obviamente lotado, entrei, quase que sem pisar no chão, tamanha a
multidão que esperava comigo. Tudo bem. Ninguém morrerá por ficar amontoado por
dez minutos. Ledo engano. Levamos nada mais nada menos do que uma hora e meia!,
para completar o percurso de dez minutos. Trabalhadores desesperados tentavam
fazer crer a seus patrões o que estava acontecendo. Outros ligavam para avisar
do evidente atraso a compromissos. E eu ali, agradecida por não ter nenhuma
hora marcada. Odeio chegar atrasada a compromissos. Absolutamente inconcebível
para uma filha do Dr Britto.
Enquanto
esperávamos, qual gado transportado para matadouros, nem uma explicação se fez
ouvir. Mais uma vez eu agradecia pelo “rebanho” estar aparentemente calmo e sem
sinais de violência. Temia por mim, que, a essa altura, já vivenciava meus mais
puros instintos de vândala, ao querer pular no pescoço de uma mulher que
insistia em ouvir música evangélica ao meu lado.
Chegando à
Central, era a vez de encarar o ônibus. Obviamente que, passadas duas horas, o
meu bilhete único já havia perdido a gratuidade do segundo trecho da viagem. Revoltada,
ainda tive que pagar pelo descaso das nossas “autoridades”.
Vinha
sentada no ônibus pensando se os chamados “ricos”, também tinham que passar por
isso. A resposta veio clara. Claro! Que sim! Só têm direito a celas especiais.
Seguem em seus carros importados, vidro fumê, ar condicionado e mp3, mas nem
por isso livres da lama caótica do trânsito desta cidade, dita maravilhosa.
Junte-se a
isso a derrota do Botafogo ontem e pronto! Teste de ferro para um velho e
otimista coração. Pensei que não só nós, botafoguenses, somos escolhidos. Nós,
brasileiros, também o somos. Há que se ter um tanto quanto de conformismo
otário para conseguir seguir com a vida neste nosso Brasil.
Provavelmente,
tudo funcionará lindamente na época da Copa do mundo. Tudo perfeito, para
inglês ver. Infelizmente, logo após o término da competição, cairemos novamente
no nosso usual descaso público. E há soluções? Manifestações, em que sofre
apenas o nosso pífio patrimônio público, já tão depredado por governos omissos
e corruptos? Voto, em que a escolha fica entre Não Presta e Não Vale Nada? Pois
é.
E os
responsáveis pela Supervia ainda tiveram a pachorra de deixar um número de
telefone caso tivéssemos sugestões a fazer. Pois bem, eu tenho:
- VTNC! VSF,
bando de FDPs sem mãe!
Pronto,
falei!
AFFFFFFFFFF!
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