O encontro
Silvia Britto
Essa noite
eu tive um sonho. Ou terá sido uma visão? Agora não sei, tão nítidas eram as
imagens e acontecimentos.
Eu vinha
andando, não sei bem de onde, mas de algum lugar bem distante, a julgar pelo
pesar em meu corpo e em minha mente. O cansaço impossibilitava-me de seguir em
frente e, por conta disso, sentei-me em um banco, à beira da estrada de terra.
Entretida
estava em meus devaneios, quando passa por mim uma criança, trazida pelas mãos
da mãe, uma mulher jovem e de olhar profundo.
A criança me
olha e posso ver a alegria e encantamento que seus grandes olhos verdes e
sorriso pleno transmitiam. Era uma menina.
Quando dou
por mim, estou sentada no chão de terra batida, observando a menina que se
esbaldava em um lindo e colorido parque que a ela se desvendou.
Ela corria
solta, sempre observada pelos olhos atentos da mulher que dela não desviavam.
Descia pelo
escorrega e caía na terra gargalhando. Balançava tão alto no balanço que quase
foi abduzida pelo sol. Cantava músicas de roda a plenos pulmões.
Enquanto eu
balbuciava baixinho as minhas angústias, ela gritava: YUPIIIEEEE!
Enquanto eu
sentia o gosto salgado das minhas lágrimas, ela saboreava um maravilhoso e
refrescante Chicabom.
Enquanto
minhas pernas pareciam paralizadas pelo cansaço, ela parecia flutuar entre os
cavalinhos do carrossel.
E assim
passaram-se horas. Talvez dias. Até que a mulher decidiu que era hora de partir
e chamou a menina que, correndo, jogou-se em seus braços.
As duas
passaram por mim e eu pude sentir o perfume da liberdade emanando da criança.
De repente,
a menina virou-se em minha direção,
correu e me abraçou, dizendo em meus ouvidos: “Um dia, eu vou crescer e serei
você!” E se afastou correndo ao encontro da mulher. Foi quando pude observar
que a criança usava sapatos de salto alto.
Sem saber o
que dizer, levei as mãos à cabeça e percebi que eu estava de “Maria-Chiquinha”
com um lindo laço amarelo a esvoaçar nos meus cabelos. Foi quando alguma coisa
tomou força dentro de mim e fez com que eu gritasse para a menina:
“Não!! Deixe
que EU volte a ser como você!!!!”
E saí
correndo em sua direção, dando-lhe a mão enquanto, o agora trio, sumia no
caminho de volta pela estrada que eu havia percorrido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário