segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O encontro



O encontro
Silvia Britto

Essa noite eu tive um sonho. Ou terá sido uma visão? Agora não sei, tão nítidas eram as imagens e acontecimentos.
Eu vinha andando, não sei bem de onde, mas de algum lugar bem distante, a julgar pelo pesar em meu corpo e em minha mente. O cansaço impossibilitava-me de seguir em frente e, por conta disso, sentei-me em um banco, à beira da estrada de terra.
Entretida estava em meus devaneios, quando passa por mim uma criança, trazida pelas mãos da mãe, uma mulher jovem e de olhar profundo.
A criança me olha e posso ver a alegria e encantamento que seus grandes olhos verdes e sorriso pleno transmitiam. Era uma menina.
Quando dou por mim, estou sentada no chão de terra batida, observando a menina que se esbaldava em um lindo e colorido parque que a ela se desvendou.
Ela corria solta, sempre observada pelos olhos atentos da mulher que dela não desviavam.
Descia pelo escorrega e caía na terra gargalhando. Balançava tão alto no balanço que quase foi abduzida pelo sol. Cantava músicas de roda a plenos pulmões.
Enquanto eu balbuciava baixinho as minhas angústias, ela gritava: YUPIIIEEEE!
Enquanto eu sentia o gosto salgado das minhas lágrimas, ela saboreava um maravilhoso e refrescante Chicabom.
Enquanto minhas pernas pareciam paralizadas pelo cansaço, ela parecia flutuar entre os cavalinhos do carrossel.
E assim passaram-se horas. Talvez dias. Até que a mulher decidiu que era hora de partir e chamou a menina que, correndo, jogou-se em seus braços.
As duas passaram por mim e eu pude sentir o perfume da liberdade emanando da criança.
De repente, a menina  virou-se em minha direção, correu e me abraçou, dizendo em meus ouvidos: “Um dia, eu vou crescer e serei você!” E se afastou correndo ao encontro da mulher. Foi quando pude observar que a criança usava sapatos de salto alto.
Sem saber o que dizer, levei as mãos à cabeça e percebi que eu estava de “Maria-Chiquinha” com um lindo laço amarelo a esvoaçar nos meus cabelos. Foi quando alguma coisa tomou força dentro de mim e fez com que eu gritasse para a menina:
“Não!! Deixe que EU volte a ser como você!!!!”

E saí correndo em sua direção, dando-lhe a mão enquanto, o agora trio, sumia no caminho de volta pela estrada que eu havia percorrido.

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