Silvia Britto
Acabo de
retornar de uma consulta médica, na academia, necessária para avaliação da
capacidade do corpo de suportar os exercícios e seus impactos físicos. Fiquei
imensamente feliz em receber também uma avaliação que transcendeu o físico e a ordem
natural das coisas.
O médico, um
senhorzinho de voz macia e simpática, de lá seus quase oitenta anos, iniciou os
exames de praxe. Pressão arterial, inspire, expire, língua para fora, diga “A”,
rosto para cima, olhos para um lado, olhos para o outro... Nesse momento ele
parou e disse, não conseguindo ater-se às normas profissionais:
-Menina! Que
olhos lindos você tem!
Agradeci,
sorridente e disse a ele que os olhos foram feitos pela mamãe. Ele continuou
dizendo que não estava falando da cor, que olhos verdes há aos milhares. Falava
da expressão forte de vida que deles transbordavam. Em sua prática diária,
cansava-se de examinar meninas ditas rainhas e princesas de academia, com
corpos esculturais, mas que traziam olhos mortos e opacos em seus rostos de
boneca.
Como não
resisto a uma boa provocação, perguntei se ele estava me chamando de gorda e
velha, ao citar as “meninas” e seus “esculturais” corpos e que já tenho 51 anos de idade!
Ele não se intimidou e respondeu que a idade era o que menos se notava em mim.
Meu corpo estava funcionando perfeitamente e meus olhos deixavam ver que minha
alma era criança, não no sentido da imaturidade, mas no sentido da sinceridade.
Realmente,
concordei, meus olhos não sabem mentir. Sou uma eterna moleca, petulante e corajosa,
mais uma vez, citando palavras da minha mãe.
Ele terminou
dizendo que meus olhos eram presentes de Deus e que eu dava orgulho a Ele por
fazer bom uso dessa dádiva. Com olhos assim, você não apenas nunca envelhecerá
como tornar-se-á eterna, disse-me o encantador doutor.
Saí da
consulta feliz por ver que, de alguma forma, estou recuperando minha alegria e
vontade de viver. Sei que elogio em boca própria é vitupério (não sabem o que é
isso? Vão procurar no dicionário, seus folgados!), mas há muito que já me despi
de falsas modéstias e comportamentos normais. Fui ao espelho do vestiário da
academia e constatei a verdade das palavras do médico... Vai ter olhos lindos
assim aqui em casa, menina!!
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