Sedução e paixão
Silvia Britto
Sedução...
Sem querer,
peguei-me pensando no significado dessa palavra. É a capacidade de encantar ao
outro. É o momento em que esforços não são medidos para chegar ao objeto de
nosso desejo.
No amor, é
um dos mais encantadores momentos, em que doces “nadas” são sussurrados aos
nossos ouvidos, fazendo a pele arrepiar. É o momento em que deixamos nossa
criança interior vir à tona e reinar quase que absolutamente, solta e feliz.
Não há nada mais sedutor do que o carisma de uma criança.
E assim
seguimos, felizes, despreocupados, dançando pelas ruas, cantando felizes,
descobrindo o prazer que cada pedacinho do corpo do outro nos proporciona.
Embriagando-nos de novos cheiros, novos sabores e novas emoções.
Não há como
negar que é um momento mágico. Lágrimas brotam aos olhos de quem está seduzido
tanto quanto de quem seduz. O mundo para de girar e tudo se concentra em apenas
um nome, um rosto, uma boca. E os pés, como em um sonho do qual não se quer
acordar, não andam, mas flutuam.
Paixão...
É a emoção quase patológica do amor. Sentimento doloroso, muitas vezes com perda de individualidade, mas que exerce um fascínio absurdo sobre quem por ela é atingido. Ultrapassa todas as barreiras possíveis e imagináveis.Quando completamente correspondida, causa grandiosa felicidade. Dizem que é um sentimento passageiro... Dizem que não há como durar uma eternidade. Como tudo na
vida, há o momento de retorno à realidade, onde a paixão cede lugar ao amor e o
mundo tende a recuperar seu passo. E tudo fica mais sereno, a calmaria se
instala e o coração se aconchega na paz da certeza.
E é aí que
começa o meu problema. Não chego a alcançar esse patamar de tranquilidade. Sou
intensa. Vivo eternamente enamorada e encantada com a sensação maravilhosa que
um “eu te amo” provoca nos meus sentidos. Busco abraços, contatos, cheiros,
como se nunca saísse do estágio da paixão e da sedução.
Obviamente,
sempre chega o momento em que uma certa paz e certeza instalam-se em algum
lugar ao fundo, mas não é isso que me faz arder de vida. Ardo com o inesperado,
ou esperado, toque no meu pescoço, que tem o dom de arrepiar cada célula do meu
corpo.
Tenho crises
de abstinência de beijos, abraços, cafunés, danças no meio
da rua, declarações inesperada e deliciosamente fora de hora. Sinto ânsias de encontros! Sou uma eterna
apaixonada e sei que tenho que tomar extremo cuidado com esse meu sentimento
sob o risco de sentir-me rejeitada ou esquecida. Nem todos nasceram sem esse
freio normal e, se seguirem o meu ritmo, acabarão atropelados pelo próprio
desejo.
Estou em
fase de tentar amadurecer. Fase de tentar entender que cada um tem seu ritmo,
independentemente do amor que possa sentir. Tranquilidade não é sinal de
desamor ou falta de interesse. O fim da sedução, não significa falta de paixão.
Minha tendência é ser eternamente uma adolescente enamorada e, se não tomar
muito cuidado com isso, acabo por me machucar ao esperar do outro, coisas que
não me podem ser dadas. Há milhares de outros detalhes que impedem que essa
paixão e o jogo de sedução estejam sempre no topo da lista das prioridades das
pessoas em geral.
Entretanto,
faço questão de marcar muito bem a minha posição inconsequente de eterna
apaixonada. Luto para dar atenção também aos inevitáveis problemas do dia a
dia, mas nunca deixarei que nada interfira no delicioso jogo de sedução,
entrega e paixão, tão difíceis de ser alcançados, desacreditado por alguns e
invejado por muitos.
Apenas tenho
que aprender a me bastar e ficar feliz em sentir o que sinto, independentemente
do que o outro possa estar sendo capaz de me dar. A felicidade e plenitude vêm
de dentro e nunca devem ser cobradas de quem quer que seja. Cada um dá o que
pode e quando pode. Fico muito feliz em apenas sentir o que o outro provoca em
mim e tento desligar-me do que me pode ser dado. Dá quem pode e como pode. Cobra
quem não sabe amar. E é isso que aprendo mais e mais a cada dia. Apesar da
minha carência sem fundamento, não quero cobrar... Quero amar.
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