Estou
apaixonada
Silvia Britto
Sei que este
texto pode parecer, a muitos, um poço de pedantismo e falta de modéstia, mas já
disse antes que falsa modéstia é algo que não me pertence. Por isso, venho aqui
falar de um outro tipo de paixão. Não da paixão linda que se dá quando duas
almas encontram-se e explodem dentro uma da outra. Nem da paixão maternal e
incondicional que sentimos por um filho. Tampouco, da paixão pela vida, pelas
pessoas, animais ou pelo mundo. Venho falar de uma das paixões mais difíceis de
serem conquistadas que é a paixão por nós mesmos.
Isso mesmo.
Estou falando da paixão por mim mesma! Do imenso prazer que tenho sentido ao
acordar e sentir-me capaz de sair para a vida carregando um grande orgulho de
ser quem sou. Da satisfação narcísica de deparar-me com a minha imagem no
espelho e encontrar uma pessoa madura com olhos de menina e lábios de mulher.
Do cabelo que brilha. Do corpo que sabe deixar-se receber e dar muito prazer.
Há muito que
não me sentia assim, tão plena. Passei até um bom tempo de mal comigo mesma,
evitando encontrar meus olhos no meu reflexo. Talvez por vergonha de ter
pensado em desistir da vocação para a felicidade e da alegria que nasceram
comigo. Mas consegui recuperar essa imensa empatia que sinto pelo meu jeito de
ser.
Amo-me mais
ainda, por sentir que esse amor não é forçado. Não estou tentando reproduzir na
minha vida o clichê batido de “ame-se primeiro para poder ser capaz de amar a
outrem”. É uma admiração tão natural, que não me envergonho de parecer metida
ou presunçosa.
Tenho
milhares de defeitos, como todo e qualquer ser vivo, mas os amo com a mesma
intensidade com que amo minhas qualidades. Sem os defeitos, eu seria apenas uma
mulher passando de carona pela vida. Através dos meus defeitos e erros é que eu
consigo acertar e fazer o meu caminho.
Despertar e
encontrar o amor de verdade, são apenas consequências da minha coragem.
Encontrei, de fato, esse amor a que todos buscam e que poucos tem o privilégio
de conquistar. É um amor prateado, que me faz querer sempre melhorar e procurar
dar o melhor de mim, em qualquer situação.
Mas voltando
ao namoro comigo mesma, também estou muito orgulhosa da minha força, perseverança
e coragem para nunca desistir das coisas que sei terem me sido destinadas pela
vida. Não tenho medo de errar. Não tenho medo de perdoar. Não tenho medo de
reescrever a história. Isso faz com que as minhas escolhas, por mais que me
levem por caminhos tortos e sofridos, acabem desembocando em terra firme e
florida.
Finalizando,
que nem eu estou me aguentando com tanta babação própria, quero erguer um
brinde a mim, mulher de verdade, destemida e honesta com meus sentimentos e que
conseguiu a linda proeza de apaixonar-se por si mesma.
Eu me amo! Viva
eu!
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