quinta-feira, 24 de julho de 2014

Escrever para ser


Escrever para ser
Silvia Britto

Há coisas que só saem de nós por escrito. E é por isso que escrevo. Quando vejo a tela em branco, ou a folha de papel, para ser mais romântica, os pensamentos e  emoções afloram-me à ponta dos dedos e pulam para as letras do teclado.
Há coisas que eu já queria dizer há muito, mas não tinha coragem. Outras pegam até a mim mesma de surpresa, por não tê-las ainda tão claras em minha cabeça. Fato é, que não escrevo por vaidade, ou para fazer fofoca de mim mesma. Escrevo por necessidade de tirar certas emoções de dentro de mim, tanto para melhor abraçá-las quanto para rejeitá-las.
Confesso ser um momento egoísta, em que só eu "falo", não dando chance de ser criticada ou confrontada. Mas acho que acabo remediando essa falha quando tenho a coragem de me publicar, tão despudoradamente nas páginas de um blog.
Colocar para fora tudo que se sente, de um só fôlego e sem edição de pensamentos e emoções, é uma maneira de expurgar culpas e vaidades que de nada contribuem para o nosso melhor viver.
Desde muito pequena descobri que essa era uma das melhores armas que tinha a meu dispor para sentir-me "ouvida". Por mais que, no começo, fosse apenas ouvida por mim mesma, era uma forma de legitimar a minha existência.
Meus textos, a princípio, parecem não concatenar-se uns com os outros, tal a diversidade de emoções que coloco para fora de forma anárquica e desorganizada. Sei que pareço ser uma maníaco-depressiva com minhas constantes alterações de humor. Porém, aproveito para esclarecer que não pareço uma bipolar. Eu SOU uma bipolar, como todo e qualquer ser humano que se deixe olhar mais a fundo. Apenas sou um pouco mais louca por ter a coragem de me expor e admitir-me imperfeita.
Já cansei de ser aconselhada por pessoas queridas para que não me exponha assim. Mas é mais forte que eu. Quando vejo, já escrevi e já lancei no espaço da internet, para que qualquer um sinta-se no direito de me julgar, condenar ou absolver.
Mas isso não me preocupa. Até me excita. Precisa-se de muita coragem para andar nua no meio de uma multidão como a que a internet nos dá acesso. E acaba por tornar-se um vício. E, se esse vício pode ser prejudicial apenas a mim mesma, não vou evitá-lo. Gosto-me assim, plena, corajosa, sem censuras e sem falsas modéstias. Acredito, realmente, que me tornei uma pessoa bem melhor depois que ganhei a coragem de me assumir por inteira. E por isso escrevo. E por isso tenho um blog.
E os textos desconexos, se vistos bem de longe, como a imagem de uma tela de cinema, fazem até um bom sentido. Neles, aparece um retrato em cores vivas e vibrantes, de uma mulher que gargalha e chora ao mesmo tempo, uma mulher-menina, irreverente, barulhenta, petulante, bagunceira e impossível. Exatamente as palavras de minha mãe ao descrever-me. Ah! E Botafoguense, é claro!
E gosto do que vejo... Ou melhor, do que escrevo.
Escrevo para ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário