quinta-feira, 24 de julho de 2014

A mentira é uma verdade que não aconteceu


A mentira é uma verdade que não aconteceu
Silvia Britto

Quando pensamos no real significado de verdade e de mentira, tendemos a dar a esta uma conotação negativa e àquela uma conotação positiva. No entanto, esse pensamento tradicional e baseado na definição encontrada nos bons dicionários da nossa língua, deixa a desejar quando tentamos interpretar esses conceitos de uma forma mais profunda e subjetiva. Nossa mente e nossas emoções são anárquicas e tendem a não se aterem a significados formais. 
Por exemplo, ao confortarmos um filho pequeno que acabou de acidentar-se e apresenta um enorme e sangrento machucado, temos a tendência de simplesmente dizer-lhe: "Não foi nada". Como nada, se o que desejamos é o poder de voltar o tempo com a finalidade exclusiva de evitar o acidente que faz chorar nosso pequeno? Nesse momento, nosso desejo é verdadeiro. Queremos realmente que nada tenha acontecido. Ou seja, é uma mentira com força de verdade. 
Expressões como "não foi nada", "vai passar", "você consegue", dentre outras, muitas vezes contradizem a lógica, mas não o coração. Há ainda o que nosso poeta, Cazuza, afirma interessar-lhe: as mentiras sinceras. Ele conseguiu chegar ao âmago dessa batalha tão filosófica que estabeleceu-se entre conceitos aparentemente opostos. Fez-nos ver que mentira e verdade se confundem e se completam quando a questão é emocional. 
Por fim, todos já passamos por momentos em que desejamos tanto que algo seja verdade, que o fato de estarmos diante de uma deslavada mentira é apenas um detalhe insignificante. Verdade mentirosa ou mentira verdadeira? Pouco importa. Nós é que devemos atribuir o verdadeiro sentido  às nossas palavras e às nossas emoções.

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