sábado, 21 de junho de 2014

Sossega o rabo, menina!


Sossega o rabo, menina!
Silvia Britto

- Sossega o rabo menina!

Isso era o que eu mais escutava minha mãe falar quando ela ainda estava entre nós. Às vezes, o "menina" era substituído por "Silvinha", quando a "arte" era mais branda, ou "peste", quando mais moleca. Mas do que eu não gostava mesmo era quando ela mandava o "Silvia Helena"! Aí, podia esperar que vinha chumbo grosso!
Sempre fui atrevida e petulante, não no trato com as pessoas, mas em minhas atitudes. Adorava fazer coisas que saiam do script esperado pois sempre eram as mais gostosas de viver. Andava de carrinho de rolimã pelas ladeiras da vida, tocava campainhas e saía correndo com o coração a mil por hora, dava calote pela porta traseira dos ônibus... Enfim, sempre uma boa molecagem, sem fazer mal a ninguém nem colocar em risco a minha vida, que sempre amei de paixão.
Lembro-me de uma vez em que estava em São Luis - MA, com meus primos Pedro e Paulo e um amigo querido, Raimundinho. Enquanto nossa vó Laíde tomava café na copa com a Mundica, tia do Raimundinho, nós três aprontávamos no andar de cima da casa dele. Passávamos cerol na linha do papagaio (pipa, no Rio de Janeiro) e, não satisfeitos com isso, pulamos a janela e fomos os três para o telhado. Infelizmente, era bem em cima da copa e poucos segundos depois, duas vozes histéricas ordenavam-nos que saíssemos já dali! Bando de moleques encapirotados!
E sempre sobrava para mim a eterna ladainha:

- Mas até você, Silvinha? Uma mocinha?

É... Felizmente, até eu!
Se há uma coisa da qual me orgulho em mim mesma, é essa coragem de me atirar de cabeça na vida. Isso não faz com que eu me sinta menos princesa do que sou. Sou princesa até demais, obrigada! Mas sou uma princesa que anda com os pés descalços pela rua, toma banho de chuva com roupa e tudo, faz amor no chão e na piscina, topa tudo para o que é convidada e não se inibe, nem muda de comportamento, se está numa cobertura da Vieira Souto ou num barzinho numa praça no Irajá.
E é assim que sei viver. Sou intensa, sou inteira. Choro de verdade, rio de verdade, sambo de verdade, sou amiga de verdade, gozo de verdade e, acima de tudo, AMO de verdade. Assim pretendo seguir até o fim dos meus dias e por mais um ano, sempre ouvindo alguém dizer:

- "Sossega o rabo, menina!"


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