O mundo por onde andei: London Town
Silvia Britto
Desde muito
pequena que tinha uma admiração inexplicável pela Inglaterra. Adorava saber que
reis e rainhas não eram só invenções de contos de fada. Gostava das cores da
sua linda bandeira. E aos poucos a vida foi me apresentando britânicos ilustres
que só aumentariam essa minha admiração.
Primeiro
foram os Beatles, paixão forte e eterna. Eles dizem tudo que eu sempre quis
dizer. Musicalmente, berço do rock e das grandes bandas que me emocionam até
hoje: Pink Floyd, Genesis, Jethro Tull, Led Zeppelin, Renaissance, Sir Elton
John, e muitos outros favoritos e ídolos de todos os tempos. Depois, a paixão
pela leitura, que crescia ao perder-me pelos enredos maravilhosos e viciantes da
grande dama, Agatha Christie. E Bond...
James Bond, o espião que tem licença para matar. Os ônibus vermelhos de dois
andares, o Big Ben às margens do Tâmisa, Portobello Road, Oxford Street, Camdem Town, Hyde Park...
Qual não foi
a minha emoção quando a vida, aos meus 25 anos, oferece-me não apenas a
oportunidade de conhecer a Inglaterra, como a de morar em Londres por quatro anos!
Era a minha primeira viagem internacional.
Aos sete de
setembro de 1988, desembarcava eu, no centro da capital inglesa, o grande
cenário dos meus sonhos de menina, London Town. Pareceu-me estar desembarcando
no meio de um sonho psicodélico em que Lucy descia dos céus com seus diamantes
para encontrar-me ao lado de Mr Bond, o espião que me amava, enquanto
tomava-mos chá com a Rainha em uma trama a ser resolvida por Hercules Poirot, o
impagável detetive de Ms Christie.
E assim
passaram-se quatro anos, seguidos de mais cinco, tempo em que fui aos mais
fantásticos museus do mundo, relacionei-me com pessoas do mundo inteiro, na
mais cosmopolita das cidades, fiz amigos que mantenho até hoje e andei de moto
pelas suas ruas estreitas e exuberantes em História, bombas, sangue, guerra e
Paz.
Amava
sentar-me em um pub com um amigo querido de Liverpool, tentando entender como
funcionava a tal da “paquera” inglesa, em que as mulheres não podiam perceber
que os homens as olhavam para não se sentirem invadidas e desrespeitadas. Tudo isso
ao sabor de uma deliciosa e encorpada Guinness, a cerveja dos machos, a que me
fez ver que eu sou mais macho que muito homem.
E ali
amadureci em cultura, arte, cidadanismo e música em meio a lindos e verdes
parques, os mais lindos que já vi, principalmente durante a primavera. Ali amei,
separei-me, chorei, reconciliei-me, tive amores e amantes, amizades e cumplicidade
com seu povo e sua arquitetura. Tornei-me – com distinção! – professora de
Inglês e dominei, de uma vez por todas, a língua que tanto me encantava,
podendo ler Jane Austin, Oscar Wilde e Shakespeare em seu mais puro original.
Mas era
chegada a hora de retornar à pátria amada, salve, salve... Essa decisão pegou a
todos de surpresa, inclusive a mim e ao meu grande companheiro de aventura à
época. A gota que faltava para fortalecer a decisão de retorno ao Brasil
crescia em meu ventre, dando-nos a coragem de que precisávamos para fechar esse
lindo e importante capítulo em nossas vidas.
E o dia da
despedida chegou. Lembro como se fosse hoje, sentada na janela do táxi que nos
levaria a Heathrow, passando por lojas, ruas, becos e esquinas que viverão para
sempre em minha memória. No colo, trazia a pequena menina, aquela que para
sempre manteria esse lindo vínculo que tenho com Londres, minha Lady Julia. Ela
foi made in England e é inglesa por direito. Trará para sempre essa identidade
em seu passaporte e no seu espírito de cidadã do mundo, justa e guerreira, como
a terra que a trouxe à luz.
Hoje eu
digo, sem medo de errar, que meu coração é verde e amarelo mas traz em seu
interior uma linda estrela vermelha, azul e branca, que tenho muito orgulho em
carregar.
God Save the
Queen!
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