quarta-feira, 11 de junho de 2014

O mundo por onde andei: London Town


O mundo por onde andei: London Town
Silvia Britto

Desde muito pequena que tinha uma admiração inexplicável pela Inglaterra. Adorava saber que reis e rainhas não eram só invenções de contos de fada. Gostava das cores da sua linda bandeira. E aos poucos a vida foi me apresentando britânicos ilustres que só aumentariam essa minha admiração.
Primeiro foram os Beatles, paixão forte e eterna. Eles dizem tudo que eu sempre quis dizer. Musicalmente, berço do rock e das grandes bandas que me emocionam até hoje: Pink Floyd, Genesis, Jethro Tull, Led Zeppelin, Renaissance, Sir Elton John, e muitos outros favoritos e ídolos de todos os tempos. Depois, a paixão pela leitura, que crescia ao perder-me pelos enredos maravilhosos e viciantes da grande dama, Agatha Christie.  E Bond... James Bond, o espião que tem licença para matar. Os ônibus vermelhos de dois andares, o Big Ben às margens do Tâmisa, Portobello Road, Oxford Street, Camdem Town, Hyde Park...
Qual não foi a minha emoção quando a vida, aos meus 25 anos, oferece-me não apenas a oportunidade de conhecer a Inglaterra, como a de morar em Londres por quatro anos! Era a minha primeira viagem internacional.
Aos sete de setembro de 1988, desembarcava eu, no centro da capital inglesa, o grande cenário dos meus sonhos de menina, London Town. Pareceu-me estar desembarcando no meio de um sonho psicodélico em que Lucy descia dos céus com seus diamantes para encontrar-me ao lado de Mr Bond, o espião que me amava, enquanto tomava-mos chá com a Rainha em uma trama a ser resolvida por Hercules Poirot, o impagável detetive de Ms Christie.
E assim passaram-se quatro anos, seguidos de mais cinco, tempo em que fui aos mais fantásticos museus do mundo, relacionei-me com pessoas do mundo inteiro, na mais cosmopolita das cidades, fiz amigos que mantenho até hoje e andei de moto pelas suas ruas estreitas e exuberantes em História, bombas, sangue, guerra e Paz.
Amava sentar-me em um pub com um amigo querido de Liverpool, tentando entender como funcionava a tal da “paquera” inglesa, em que as mulheres não podiam perceber que os homens as olhavam para não se sentirem invadidas e desrespeitadas. Tudo isso ao sabor de uma deliciosa e encorpada Guinness, a cerveja dos machos, a que me fez ver que eu sou mais macho que muito homem.
E ali amadureci em cultura, arte, cidadanismo e música em meio a lindos e verdes parques, os mais lindos que já vi, principalmente durante a primavera. Ali amei, separei-me, chorei, reconciliei-me, tive amores e amantes, amizades e cumplicidade com seu povo e sua arquitetura. Tornei-me – com distinção! – professora de Inglês e dominei, de uma vez por todas, a língua que tanto me encantava, podendo ler Jane Austin, Oscar Wilde e Shakespeare em seu mais puro original.
Mas era chegada a hora de retornar à pátria amada, salve, salve... Essa decisão pegou a todos de surpresa, inclusive a mim e ao meu grande companheiro de aventura à época. A gota que faltava para fortalecer a decisão de retorno ao Brasil crescia em meu ventre, dando-nos a coragem de que precisávamos para fechar esse lindo e importante capítulo em nossas vidas.
E o dia da despedida chegou. Lembro como se fosse hoje, sentada na janela do táxi que nos levaria a Heathrow, passando por lojas, ruas, becos e esquinas que viverão para sempre em minha memória. No colo, trazia a pequena menina, aquela que para sempre manteria esse lindo vínculo que tenho com Londres, minha Lady Julia. Ela foi made in England e é inglesa por direito. Trará para sempre essa identidade em seu passaporte e no seu espírito de cidadã do mundo, justa e guerreira, como a terra que a trouxe à luz.
Hoje eu digo, sem medo de errar, que meu coração é verde e amarelo mas traz em seu interior uma linda estrela vermelha, azul e branca, que tenho muito orgulho em carregar.

God Save the Queen!

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