quinta-feira, 19 de junho de 2014

Feliz continuação



Feliz Continuação
Silvia Britto

Estou eu aqui, no meio de uma tarde chuvosa, continuando com a minha vida solitária e sonhando com paixões improváveis e carinhos fugidios. Gostei dessa palavra, fugidio. É como tenho sentido a felicidade ultimamente. Fugidia, como a neve dos contos de Natal. Parece-me que chega e me domina por momentos que parecem intermináveis para, de repente, fugir, desaparecer, e me fazer pensar que tudo não passou de um sonho. Talvez, felicidade seja isso mesmo: pequenos sonhos que acontecem ao longo da vida. Por isso é tão importante que não os ignoremos quando se fazem presentes.

Tenho vivido numa montanha russa de emoções. Há momentos em que me sinto a mais plena das criaturas. Feliz, amada, brincalhona, bonita. E outros, como agora, em que as lágrimas têm a força de um rio rebelde e agitado. Dessas que não pedem licença e já saem rasgando os olhos e o coração. E vem a solidão. Palavra que não me abandona nunca. 

Havia feito planos perfeitos terminar os meus dias. Por que deram errado? Será que foi o excesso de expectativa? Há até alguns momentos em que me sinto feliz quando, por exemplo, ouço uma música gostosa que me faz dançar, vejo um jogo bom da Copa do mundo, brinco com amigos pelas ruas do Rio de Janeiro...

Mas de resto... 

Ainda há pouco, resolvi sair para passear. Mas a chuva insistiu em se fazer presente o tempo todo, frustrando minha empreitada. Voltei para casa, sozinha, observando as famílias e os namorados se apertando em baixo de guarda-chuvas de cores indecifráveis na tarde molhada. 

E dormi.

Acordei agora, com o barulho da chuva e com o desejo que ela sempre me provoca de namorar. Olhei para o lado, torcendo para estar sonhando e ter ao meu lado alguém com quem dividir essa loucura ao barulho da chuva. Nada. É. O jeito é voltar a dormir. Quem sabe o sonho não chega.

Um sentimento de ressaca de mim mesma não me deixa levantar. Mas o mundo me chama.Tenho que sair da concha novamente. Não queria... Queria ficar aqui para sempre, sem ter que dar explicações a ninguém. Para sempre e mais um ano.

Mas algo me dá forças para levantar e continuar. Repete baixinho dentro de mim que a felicidade é um trabalho de equipe. ”Levanta! Vai procurar tua turma!” E eu vou. Olhos inchados, coração apertado, porta adentro desse novo momento, buscando saciar a saudade de fazer falta a alguém e de poder preencher essa falta de forma plena e recíproca.

Feliz vida que continua!

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