Silvia Britto
Já estou com
vergonha de tanto dizer que fracassei no amor. Vergonha de falar a todos da minha
alegria para depois cair num poço profundo de tristeza e solidão. Sempre achei
que a vida era injusta comigo nesse quesito, mas estou começando a achar que
sou eu a injusta com ela. Devo ser eu que estou tratando tão mal da vida que
ela se ressente comigo e não cansa de me fazer doer.
Sempre fiz
sozinha a minha mala e as escolhas do que levaria comigo. Isso não é uma tarefa
fácil. Muitas vezes acertei e algumas
vezes errei. Mas os erros, nessa estrada da vida, têm um peso muito maior do
que os acertos. Cometi erros que agora
me parecem irreparáveis. Erros pelos quais me cobrarei pelo resto da minha
vida, quando se trata de amor verdadeiro.
Por ter
errado tanto comigo mesma, agora só provoco um sentimento de que sou descartável aos
que de mim se aproximam. Amam-me com descaso, com sentimentos de que podem de mim fazer o que lhes aprouver que não lhes farei a mínima retaliação. Amam-me com mentiras, com volúpia,
com desconfianças, com acusações injustas. Minha alegria é lida como exibição.
Minha entrega é vista como deficiente. Minha presença é tida como inapropriada,
vulgar e exibicionista. Meu amor é tido como trampolim para que possam voar mais alto, enquanto apoiam-se na minha suposta força.
Achei , por
alguns poucos e felizes dias, que nunca mais voltaria aqui para falar de tristeza.
Julguei ter encontrado o caminho para a liberdade do meu
coração. Mas qual! Fui condenada à prisão perpétua pelo meu jeito “cabra-cega” de tentar ser feliz. Atiro-me de cabeça de penhascos inacreditáveis, apenas por acreditar no amor e na força que esse sentimento pode nos proporcionar.
Porém, acredito haver
encontrado a cura para a doença das migalhas. Aquela doença em que
tudo se aceita em nome de ser feliz. Com essa doença infeliz, eu só comprava
artigos baratos, supérfluos e que me deixavam com o coração vazio e
desesperançado. Isso fazia de mim uma
pessoa sem filtro para receber amor. Disso, espero não mais sofrer. Não será mais
qualquer um a beijar-me a boca. Sigo minha estrada sem o peso das migalhas nas
costas. Nua na alma e com o corpo machucado e roxo.
Desisti de encontrar o rumo. Isso não existe. A vida não tem pé nem cabeça. Apenas um corpo que, se não for levado ao som de um bolero e não confiar em deixar-se conduzir pelas águas calmas de uma piscina morna, torna-se um fardo muito pesado a ser carregado.
Desisti de encontrar o rumo. Isso não existe. A vida não tem pé nem cabeça. Apenas um corpo que, se não for levado ao som de um bolero e não confiar em deixar-se conduzir pelas águas calmas de uma piscina morna, torna-se um fardo muito pesado a ser carregado.
Não
desacredito do amor paixão. Sei que ele existe e que é tão saboroso quanto um
picolé de limão nos jogos do Fogão, em um subúrbio quente qualquer desta vida.. Apenas não parece ser mais para mim. Terei que me contentar ao vê-lo
contagiando o mundo de fora de mim e torço para que todos consigam enxergá-lo, agarrá-lo e
nunca mais deixá-lo partir. Eu não fui capaz. Ou não fui merecedora, vai saber...Por isso, sinto vergonha.
Vergonha de mim mesma, da minha filha e dos que sempre torceram por mim e acreditavam que eu merecia ser feliz.
Perdão. Perdão. Três vezes perdão.
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