domingo, 2 de fevereiro de 2014

Vai dormir, Silvia Helena!



Vai dormir, Silvia Helena!
Silvia Britto

São três e meia de manhã e eu aqui, acordada, tentando entender o que aconteceu com meu tão valioso sono, aquele pelo qual sempre me gabei dizendo adorar-me e, por isso mesmo, pela adoração que Morfeu tem por mim, ser uma mulher muito boa de cama.
De repente, pareceu-me escutar a voz de minha mãe gritando: "Vai dormir, Silvia Helena!". E pela primeira vez, desde que ela nos deixou em março passado, sinto este imenso nó no peito, por sentir que a vida passa e que nada segura o tempo.
Por isso tenho tanta sede de presente. Tenho a real percepção de que o passado não voltará e de que o futuro, a alguém pertence, mas ainda não o conquistei. Ainda não é meu e pode, até, nunca ser.
Havia muito tempo que não me via assim, perdida no meu próprio presente. Não estou entendendo muito bem o que a vida quer de mim. Como quer que me comporte? Que ritmo quer dançar?
Sempre tivemos uma cumplicidade muito forte, a vida e eu. Mas a sensação que dá é que ela está com um pouco de ciúme de mim, talvez por essa perda de conexão com ela, por conta de tantas indecisões e dúvidas que se colocaram em meu caminho. Deixei a vida um pouco de lado para me grudar com a inércia. E a vida, amante implacável, está revolta, cobrando caro, tirando-me meu tão querido e amado sono.
Sempre gostei muito de dormir. É no sono que minha alma vagueia prostituta, entregando-se aos sonhos. É nos sonhos que encontro meus desejos mais íntimos e tenho pistas de como trazê-los para a realidade. E é tendo a coragem de realizar esses desejos que gozo, literalmente, com a vida. O sono é meu alimento para viver de forma corajosa e verdadeira.. E os sonhos, ah, os sonhos! São o meu instrumento para atingir meus mais loucos orgasmos.
Mas, no momento, não estou conseguindo fazer nada disso. Não sei que ritmo dançar. Parar e tomar chá de cadeira? Nem pensar! Por isso estou aqui, escrevendo a esta hora da madrugada, tentando descobrir por onde seguir.
E escuto a voz da minha mãe, de novo, gritando lá de longe: "Já falei pra dormir, menina!"
Já vou, mãe... Já vou.

2 comentários:

  1. Ahhhhhhh como gosto da forma com que escreve, Silvia Helena! E parece que fica melhor qdo perde o sono e de pirraça com a mamy... que presente e tenta proteger a cria, diz: vai dormir Silvia Helena..
    Dorme não e continue a criar..
    Muito bom, muito bom!

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  2. Obrigada, minha loiruda linda! Realmente, comigo não há hora certa para escrever, rsrsrs. Beijo!!

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