domingo, 9 de fevereiro de 2014

Um dia muito especial



Um dia muito especial
Silvia Britto

Um dia muito especial. Esse é sempre um dos temas mais populares nas primeiras aulas de redação no ensino Primário, hoje chamado de Fundamental. Lembro-me de, à época, haver escrito coisas do tipo ir à praia com papai e mamãe, comer galeto no português da esquina e terminar o dia assistindo a um filme na Sessão Coca-cola do antigo drive-in da Lagoa, com o Cristo Redentor ao fundo. Fiquei imaginando se tivesse que escrever essa redação hoje, já "adulta", e ficou mais ou menos assim:

Sem sombra de dúvidas, esse dia teria que ser no verão. Um dia de muito calor. A cidade, nada menos do que a Maravilhosa, com suas curvas de mulata faceira, representada por suas montanhas sensuais e seu litoral com cheiro de sal e areia.
Se eu pudesse escolher, todos os meus dias especiais começariam com muitos beijos apaixonados, fazendo amor e jurando amor eterno. Obviamente, música é requisito fundamental. Talvez uma Bossa Nova, Tom Jobim, na voz quente e suave de uma mulher.
No dia especial, não poderia faltar um jogo do Fogão. Poderia até ser uma peladinha mequetrefe, com meu Glorioso perdendo, num calor de rachar o crânio, quase desmaiar no estádio por causa da revolta e do calor... Nada disso abalaria o meu dia, pois estaria ao lado de um príncipe encantado, Botafoguense também, é claro!
Depois disso, pararíamos em alguma pracinha do subúrbio carioca para comer aquele churrasquinho de gato com farofa, que só são encontrados em lugares muito especiais. Encontrar amigos de fé. Ser apresentada com orgulho para a rapaziada como "namorada" de alguém muito especial. Sentar num boteco de esquina. Tomar uma breja geladinha enquanto relembraríamos sambas-enredo clássicos e lindos dos Carnavais de outrora.
Ainda na vibração do samba, voltar pra casa, à noitinha, não sem antes parar numa outra pracinha, talvez já na Zona Sul, para ouvir mais um pouquinho de samba, numa rodinha com direito a instrumentos, microfones e cantores. Subir no banco da praça e dar mais uma sambadinha básica, imaginando-me ser uma daquelas lindas mulheres que vão como destaque, em cima de carros, na Sapucaí.
Finalmente chegar à minha casa, exausta, suada, feliz e dormir como um passarinho que redescobriu a beleza que é voar.
Só que meu dia especial não acaba com o sono. Como sou abusada, estendería-o até a manhã seguinte, quando seria acordada com um: "Levante, meu amor! Vamos dar um "tchibum" no mar! O dia está lindo, o sol está te chamando e eu te amo demais!". Aí sim, poderia terminar esse maravilhoso dia. Entregue nos braços de um amor, depois de uma bela chuveirada e de... Bem... Melhor parar por aqui que esse texto não é para ser um conto erótico.
E assim seria um dia muito especial na minha vida. Quem dera fosse. Felizmente, dizem que sonhos, se desejarmos com muita vontade, podem tornar-se realidade. Será?

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