quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

De menina mulher a mulher menina



De menina mulher a mulher menina
Silvia Britto

Daqui a alguns dias completarei 51 anos de idade. O número da "Boa ideia". Uma boa ideia para dar início a uma nova fase em minha vida. Uma fase em que a menina mulher consegue, finalmente, crescer e começa a ficar dependente.
Não. Não escrevi errado. É DEPENDENTE mesmo. Dependente, no momento em que descubro que, realmente, preciso dos outros para me ajudarem a achar o rumo e o prumo certos na minha estrada.
Desde muito pequena, imprensada entre uma irmã especial e um irmão idolatrado, tive que ser independente. O que mais escutava era: "Sua irmã é especial e seu irmão é muito pequeno. Você tem que ser independente! Faça sozinha sua mala, seja uma boa aluna e cumpra sempre com seus compromissos!".
E assim fiz. Fui excelente aluna, cumpria com minhas obrigações e passei a vida inteira fazendo, sozinha, a minha mala. As escolhas que fazia sobre o que "levar" e do que não era importante, nem sempre foram corretas. Mas só dependia de mim para resolver o que fazer.
Até bem pouco tempo assumi esse papel. Supria, ou tentava suprir, meu coração, tapando os buracos do jeito que achava ser o único, o mais correto, chegando, às vezes, até mesmo a prostituir minha alma.
E assim fui levando, já que não fazia mal a ninguém senão a mim mesma, já "macaca velha" na arte de suprir-me com pouco e com vulgaridades. Mas sempre sentindo um imenso vazio dentro de mim, vazio esse que já expus, aqui, inúmeras vezes.
De repente, a vida resolveu gritar: BASTA!! É hora de crescer e preencher de uma vez por todas esse vazio! Não machucava ninguém mas destruía-me, aos poucos, a certeza de que era capaz de ser mais do que aquilo.
Infelizmente, por ironia da tinhosa vida, tive que descobrir isso machucando alguém. O único alguém que entrou com força na minha vida e decidido a também cuidar de mim, invadindo meu coração desencantado.
Vejam bem, não falo de alegria, otimismo e vontade de viver, que isso sempre tive de sobra. Falo desse buraco negro na alma por onde sempre tive que caminhar, sozinha, tomando decisões feito a "cabra-cega" das festinhas infantis.
Acho que além deste ser um texto libertador, é também um texto de agradecimento. Agradecimento a uma pessoa muito intensa e com uma "pegada" de vida maravilhosa, que me mostrou que posso acender a luz desse túnel e ter ajuda de placas, carregadas por anjos, todos dispostos a me ajudar.
Infelizmente (já estou cansada dessa palavra!), esse anjo quebrou as asas para me dizer isso. Mas vai curá-las. Também ele é muito mais do que se permite viver. A vida sempre retribui.
E assim vou seguindo a estrada do 51. A da boa ideia. Já começo a ver as placas de luz. Quem sabe, se eu for realmente merecedora, a vida não recoloque esse anjo em minha estrada para que eu o ajude a curar as asas que quebrou por mim? Para que possamos seguir, voando juntos, esse resto de caminho que ainda nos resta descobrir? Afinal, eu com 51 e ele com quase 59, já passamos da metade do caminho. Mas ainda há muita coisa para viver, muitos orgasmos a vivenciar.
E assim sigo eu, DEPENDENTE, finalmente.


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