A Paixão Não Escolhe Raça
Silvia Britto
Há momentos em que a vida, essa sacana, resolve fazer das suas.
Estava quieta em meu canto, brincando e flertando qual lagarta recém-transformada em borboleta, quando me deparo com duas espécies totalmente diferentes que chegaram para "zunzunear" meu voo: um gato e um cachorro.
Sempre preferi cachorros a gatos. Leais, previsíveis, dóceis, carinhosos. Já gatos me passam uma ideia de liberdade arrogante, senhores do pedaço e uma segurança quase debochante.
A vida, em um de seus eternos testes, presenteou-me com um cão e com um gato encantadores.
O gato prendeu-me pela sua extrema sensualidade, seus poemas suas palavras, sua inteligência crítica e cruel.
O cão encanta-me pela sua docilidade, sua brincadeira moleca, sua música, sua meiguice descompromissada.
O gato é egoísta demais. Vem quando quer, fica o quanto quer e só demonstra seu carinho em pequenas doses, que sorvo como se fosse a última vez que receberei tal atenção. Me ama mas não me quer.
O cão chega assim que assovio. Enche-me de carinhos e mimos. Trata-me como se para ele, fosse a última vez. Mas está sempre pronto se o assovio ecoar de algum outro chamado. Me quer mas não me ama.
Pensando bem, chego à conclusão de que cão e gato não são inimigos. Eles são opostos concretos e absolutos. Completam-se.
E eu, coitada, no meio, tendo que decidir se me deixo arrebatar pela sexualidade magnética do felino ou pela fidelidade infantil do cão.
Como decidir? Como seguir sem violentar minha essência? A vida, repito, essa sacana, bem sabe que sou a felina mais canina que há. Adoro brincar com o cão, mas quando canso, quero deitar-me ao sol com o gato.
E tanto se completam essas duas paixões, que vejam quanta ironia: meu cão tem um gato e meu gato tem um cão!
E eu, a essa altura só consigo pensar, MELECA!
Nenhum comentário:
Postar um comentário