sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A fila que anda

A fila que anda
Silvia Britto

Enganam-se os que acham que a conquista é uma parte finita do amor. Talvez ela seja a parte mais importante de um relacionamento de sucesso. É o que mantém acesa a vontade de ir sem mais voltar.
Deve ter sua dose diária de imposição sutil. Poesias diárias são sonhos impossíveis. Não é necessário que se tenha jantares românticos todas as semanas. Ou que todos os meses se vá ao cinema. Nem sequer que se ganhe alianças de prata todos os anos.
A conquista se dá no ouvido atento ao outro. No cafuné feito de maneira inesperada. No beijo roubado no cangote. No mimo vindo do nada. No olho no olho. Mas há certas ocasiões que merecem um destaque especial. Quem não gosta de se sentir importante para seu amor?
O que deixamos de perceber é que a fila da vida anda e, se não nos apressarmos em acompanhá-la, ficamos sozinhos, para trás. Normalmente há um comodismo preguiçoso depois da conquista. E é aí que a relação nos escapa das mãos. Quando nos damos conta, as mãos não mais se tocam. A fila andou e ficamos sós, absortos em nosso mundo autista e confortável.
Há muito desisti de conforto. Chutei e chuto o balde quantas vezes forem necessárias para a fila não parar. Ando de mãos dadas nessa fila, tento acompanhar o passo. Mas, às vezes, mãos não conseguem manter-se unidas. E vêm outras. E vão. É assim que é. É assim que deve ser nessa fila que insiste em andar.

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