sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Um beijo e um abraço

Um beijo e um abraço
Silvia Britto

Acabo de chegar a minha casa, vinda de uma situação pra lá de humilhante, onde a culpa foi única e exclusivamente minha, por esperar mais das pessoas do que elas podem me dar. Já havia passado pela mesma humilhação por duas vezes anteriores e não tenho vergonha de colocar minha cara à tapa e assumir minha ingenuidade. Já falei antes, sou ingênua por opção, por querer acreditar sempre no melhor das pessoas, por não ter medo de acreditar no amor.
Chorava muito no ônibus que me trazia de volta à minha verdade, enquanto flashes desse ano que passou atropelavam minha mente. Fui acusada de sofrer de baixa autoestima, com o que discordo categoricamente. Meu amor próprio é tão grande, que acreditei ser capaz de contaminar àqueles que são limitados na arte de amar.
Mais uma vez a vida me provou estar errada. Não se contagia um coração fechado ao amor. Por outro lado, a vida também me provou estar certa em sempre acreditar e entregar-me toda e sem pudor. Apenas assim, sou capaz de entender, com verdade e honestidade, o mundo e as pessoas que me rodeiam,
Pois bem. Chorei e chorei e chorei. E solucei no ônibus sem o menor constrangimento de ser eu mesma. As pessoas me olhavam e deviam pensar: "Coitada! Deve ter perdido alguém muito querido ou é doida de pedra...".
E é mais ou menos isso. Perdi alguém a quem muito amei e também sou louca de pedra. Mas na verdade, ao parar e colocar meus sentimentos em ordem, vi que não fui eu quem perdeu. Eu fui perdida, na voz passiva mesmo. Na passividade de quem passou a vida sem conseguir ser verdadeiro e leal até mesmo com os próprios sentimentos. Como poderia eu esperar lealdade com os meus?
Agradeço muito à minha intensidade e vontade de ser feliz e honesta com o mundo. Nesse choro convulsivo, foi-se toda a minha dor. Entendi, de uma vez por todas, que não se pode esperar de ninguém nada além do que nos possa ser dado. Há pessoas que nasceram autocentradas e vaidosas. Verdadeiros Narcisos. Que não abrem nenhuma brecha aos que os rodeiam e que fazem da solidão sua melhor cúmplice. Essas não são para mim. Eu sou mais do que isso. Eu quero mais. Eu quero dar, mas também acho que mereço receber, se não no mesmo nível em que me dou, pelo menos de forma honesta e assumida.
Acabei de ver que fui excluída dessa vida só. Pena. Já havia conquistado todo o entorno dessa tristeza. Fiz amigos, despertei amores, ganhei pessoas que até posso agora perder em nome de uma lealdade para mim incompreensível. Mas tenho certeza de que as pessoas a quem realmente toquei, não me abandonarão e que seguiremos felizes nossa estrada de amizade e cumplicidade.
Desci do ônibus, com literalmente duas trouxas de roupa, qual retirante de uma situação de aridez e sêca emocional. Resolvi fazer o caminho da Praia de Botafogo à Urca de taxi. Meu coração já estava mais leve, pois minha dor, deixei-a toda no ônibus, com o salgado de minhas lágrimas.
O motorista do taxi, mostrou-se ser mais um daqueles anjos que a vida me presenteia, sempre que deles preciso. Começamos uma conversa leve e verdadeira, como só se tem com velhos amigos. Ele poderia até estar interessado em me "cantar", mas mostrou-se educado e gentil até nosso destino final. Rimos muito e ele me disse que não pareço ter os meus já bem vividos 50 anos. Que a alegria e juventude da minha alma passavam pelo viço do meu olhar. E querem saber? Acreditei. Essa sou eu mesmo. Uma moleca de 50 anos. Uma mulher que se conhece e sabe que tudo que faz é por amor e vontade de facilitar a existência de seus parceiros de jornada. Sigo só de alguém que até conseguiu me ver mas não soube me valorizar da forma que mereço. Chega de tentativas vãs. E sigo sem mágoas, palavra que meu coração desconhece.
E lá vou eu, estrada afora, com meu rebolado, que é bem mais que um poema.
Um beijo e um abraço.

2 comentários:

  1. Nossa...imaginei cada cena, triste,solitário. Não devemos esperar nada de ninguém, mas temos a mania de esperar sempre o melhor, porque é o que damos e achamos que o outro também vai fazer o mesmo. Mas cada um é cada um, somos unicos e só temos a nós mesmos. A vida segue, e com ela novas experiências e novamente novas decepções. Mas tudo vale a pena.Recomeçar sempre, aprender que cada um só dá aquilo que tem. O desapego é uma das maiores virtudes que podemos alcançar. A felicidade existe, independente de quem quer que seja. Beijos

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    1. É bem por aí mesmo, Vivi. Mas só é possível recomeçar, quando se chega realmente ao fim. Leia meu próximo texto, "Coração Iluminado", e acho que terá uma bela surpresa, pois sei e sinto que vc gosta muito de mim. O amor é recíproco, minha Flor Vithoria Rainha Régia. Um grande beijo em seu coração.

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