De castigo
Silvia Britto
Estou de castigo.
Estou de castigo para
pensar.
Estou de castigo para
pensar e tentar entender.
Estou de castigo para
pensar e tentar entender que sonhos e realidade são coisas distintas.
Ninguém está proibido
de sonhar.
Sonhos são permitidos e até necessários.
Porém, tenho que
entender que alguns deles nunca deixarão esse espaço mágico da imaginação.
Alguns sonhos podem
nunca acontecer.
Na verdade, a maioria deles não acontece!
Não dependem apenas de nós para virar a esquina da realidade.
E não adianta
espernear, insistir e se bater até doer.
São, e sempre serão, apenas
sonhos.
Tenho um pouco de
dificuldade em aceitar esse impedimento.
Muitas vezes insisto em tornar sonhos reais, até ser parada pelo sofrimento.
Dói. Choro. Lamento.
Quebro.
Mas tenho que me
conformar.
Queria ter esse conceito de realidade versus sonho mais claro.
Tempo e sofrimento me
seriam poupados.
Mas não tomo
jeito!
Quero ser personagem
ativa, determinante.
Imperadora de meus sonhos.
Quero controlá-los a meu bel-prazer.
Por outro lado, há
sonhos inteiramente possíveis de realizarem-se.
Basta um esforço um
pouquinho maior para que eles cruzem a barreira entre imaginário e realidade.
A esses, muitas vezes, não damos a menor bola.
Como achamos serem
possíveis, os vamos deixando para depois.
Até chegar o dia em que veremos que eles passaram.
Seu tempo, também, se
foi.
E deixamos de viver os sonhos possíveis, enquanto corríamos atrás dos impossíveis.
Preciso equilibrar os
meus sonhos.
É com muita dor no
coração que serei obrigada a desistir de alguns.
Dos que não dependem apenas do meu
desejo.
Já insisti demais. Desejei, busquei, cutuquei, me entreguei, me expus.
Devo correr atrás de
outros, que já se encontram em estado de negligência terminal.
Contudo, como é difícil!
Normalmente os mais
difíceis são também os mais bonitos.
Não quero
abandoná-los.
Não quero acordar.
Mas está ficando
triste.
Estou sonhando
sozinha.
Está começando a
doer.
Estou de castigo.
Preciso pensar.
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