quinta-feira, 1 de agosto de 2013

De castigo



 De castigo
 Silvia Britto

Estou de castigo.
Estou de castigo para pensar.
Estou de castigo para pensar e tentar entender.
Estou de castigo para pensar e tentar entender  que sonhos e realidade são coisas distintas.

Ninguém está proibido de sonhar. 
Sonhos são permitidos e até necessários.
Porém, tenho que entender que alguns deles nunca deixarão esse espaço mágico da imaginação.
Alguns sonhos podem nunca acontecer. 
Na verdade, a maioria deles não acontece!
Não dependem apenas de nós para virar a esquina da realidade.
E não adianta espernear, insistir e se bater até doer.
São, e sempre serão, apenas sonhos. 

Tenho um pouco de dificuldade em aceitar esse impedimento. 
Muitas vezes insisto em tornar sonhos reais, até ser parada pelo sofrimento. 
Dói. Choro. Lamento. Quebro.
Mas tenho que me conformar.
Queria ter esse conceito de realidade versus sonho mais claro. 
Tempo e sofrimento me seriam poupados. 
Mas não tomo jeito! 
Quero ser personagem ativa, determinante. 
Imperadora de meus sonhos. 
Quero controlá-los a meu bel-prazer.

Por outro lado, há sonhos inteiramente possíveis de realizarem-se.
Basta um esforço um pouquinho maior para que eles cruzem a barreira entre imaginário e realidade.
A esses, muitas vezes, não damos a menor bola. 
Como achamos serem possíveis, os vamos deixando para depois.
Até chegar  o dia em que veremos que eles passaram.
Seu tempo, também, se foi. 
E deixamos de viver os sonhos possíveis, enquanto corríamos atrás dos impossíveis.

Preciso equilibrar os meus sonhos.
É com muita dor no coração que serei obrigada a desistir de alguns.
Dos que não dependem apenas do meu desejo.
Já insisti demais. Desejei, busquei, cutuquei, me entreguei, me expus. 
Devo correr atrás de outros, que já se encontram em estado de negligência terminal.

Contudo, como é difícil!
Normalmente os mais difíceis são também os mais bonitos.
Não quero abandoná-los. 
Não quero acordar.
Mas está ficando triste. 
Estou sonhando sozinha.
Está começando a doer.

Estou de castigo.

Preciso pensar.

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