segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Saudades da escola

Saudades da escola
Silvia Britto

Saudades dos tempos de colégio...
Acho que esse movimento de volta às aulas, sempre mexe com meu subconsciente. Menina quieta e tímida, era na escola que eu parecia fazer alguma diferença no mundo. Sempre aluna exemplar e conhecida de todos pelas excelentes notas, humildade e doçura no comportamento.
Cheguei ao Rio em abril de 1969, com o ano letivo já começado. Minha mãe, com tantas coisas a organizar e um lar a refazer, achou por bem que eu fosse alfabetizada por uma professora particular, também maranhense emigrada, em sua casa: Tia Yara.
No começo de 1970 fui fazer uma prova numa escola pública, na Glória, para ver em que série me incluiriam. Tirei 95 na prova, apenas porque a quadrúpede da examinadora, deu como errada minha resposta ao escrever "sombrinha", assim, com dígrafo e tudo, ao invés de "barraca". Ainda tentei argumentar, aos meus 7 aninhos, que no Maranhão se dizia sombrinha de praia e não barraca, mas a insensível apenas me disse que estava errado porque no Rio se dizia barraca. Foi a primeira vez que me deparei com a arrogância dos que acham ter o poder. E ali, na escola 1.1. III Deodoro, na Glória, passei alguns anos da minha infância, sempre sendo das primeiras alunas da turma, até a oitava série.
Quando cheguei ao final do antigo Ginásio, meus pais acharam por bem colocar-me numa escola privada, mais forte, já que em breve teria que prestar o Vestibular. Foi assim que cheguei ao novo colégio, Santo Antônio Maria Zaccaria, no Catete. Antes escola só para meninos, já aceitava meninas há alguns anos.
Achei o ensino muito pesado e resolvi pedir ao reitor para cursar novamente a sétima série, fato inédito no colégio, ainda mais partindo de mim, uma menina de apenas 13 anos. Mas assim foi feito, e foi uma das decisões mais sábias da minha vida, felizmente apoiada por meus pais. E no Zaccaria tornei-me adolescente, sempre tímida, por mais que quem me conheça hoje duvide muito disso.
Saudades do meu querido professor de Português, Sérgio Regina, a quem devo muito a minha eterna paixão pela língua. O cara era um gênio! Professores Sylvio Neves e Lavos, que o destino recolocou na minha vida como pacientes e amigos. Professor Tadeu, de Química, eterna comédia... Ainda lembro dele perguntando: "Mas é indeto de cobre ou cupreto de índio?", e a turma caía na gargalhada! Professor Pardal, Gilda, de Inglês, e muitos outros que não esqueço jamais. Meu número na chamada era 44, sempre das últimas por causa do "s" do nome, o que muito me irritava e me fazia ter vontade de chamar-me "Ada", boboca eu!
Os amigos também me ficaram guardadinhos no coração. Luís André, o Dedé, por quem tive uma paixonite aguda. Fez Odonto e consertou o sorriso de minha filha. Mário Wilson e Amaury, esses, paixões mais fortes e platônicas mas que, com a coragem que sempre me acompanhou, consegui revelar-lhes no último mês de escola, antes de partir. Mônica Gabriela, a gatinha da turma. Patrícia Siqueira, a Pathy. José Carlos Santoro, o Batata. Mangelli, sempre com as melhores notas. Mônicas, Sabóia e Menezes. Mas de todos eles, se há um que eu gostaria de resgatar e que me foi perdido numa esquina da vida, é o Ricardo Senna. Costumava chamá-lo de Ricardo Fragonar, pois ele tinha um iate e, à época, estava passando a novela "Água Viva". Esse era um amigo que não me largava. Todo recreio vinha à minha procura em minha sala e ficávamos juntos durante todo o tempo. Nunca entendi o que ele vira em mim, pois não era coisa de paixão. Era coisa de irmão! Amor de alma não se explica. Se alguém teve a paciência de ler este texto até aqui e conhece algum Ricardo Senna que estudou no Zaccaria e saiu no ano de 1980, por favor, me diga.
Daí passei, como era de se esperar, para uma universidade pública, a UFF, e fui cursar Odontologia. Mas aí é outra história que um dia talvez eu conte. Agora vou guardar este texto na minha caixinha de tesouros. Mais um capítulo da minha vida que se fechou.

5 comentários:

  1. Retorno seu Ploc !! Sim nosso colégio era um armazém de gente muito inventiva, agitada, criando sempre !! Muitas saudades deste bom tempo! Descobri que alguns, que eu nem imaginava me notavam e nunca me esqueceram, outros que eu nova nunca me notaram ! Vida boa , bons tempos .... bem vinda ao grupo !!

    ResponderExcluir
  2. Eu também tive essa mesma sensação, Elena! Muito bom reencontrá-los. Um beijo, querida!

    ResponderExcluir
  3. Amiga PSil!voltei no tempo! Na primeira por descobrir muitas coisas em comum no Deodoro...e na segunda por tantas coisas em comum no Zacca! Feliz mais ainda, por termos tantas coisas em comum no presente...e com mais certeza de um futuro cheio de coisas boas a contar! Te amo amiga!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ahh, coisa linda! Amo você! E sim! Muito futuro pra continuar essas histórias gostosa. Amizade não tem preço!

      Excluir
  4. Silvia, que delicia ouvir seu relato! Obrigada por compartilhar esses momentos. Fui aluna do Zaccaria de 1987 a 1993, quando me formei direto pra universidade. Professores Lavos, Regina, Tadeu e Sylvio também fizeram parte da minha vida, além de muitos outros brilhantes. E tinha o Jorge, querido inspetor, que não deixava ninguém sair da linha, hahaha. Abraços a você.

    ResponderExcluir