quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Gentileza gera decepção

Gentileza gera decepção
Silvia Britto

Estava eu, sentada sozinha em um restaurante, coisa comum com os digamos assim, avulsos, quando deparo-me com um olhar que me hipnotizou. Sabe daqueles que você acaba por perde-se de tão profundo?
Não é nem que eu goste de homens altos, morenos, olhos profundos, barba por fazer, expressão de "cuida-de-mim" no rosto, boca carnuda e um cheiro enebriante que atravessa o salão. Não!
E nesse olha pra lá e olha pra cá, percebi que ele também estava me olhando.
O coração acelerou e tive que engoli-lo com o copo de água à minha frente.
De repente, o Apolo fez um movimento de levantar-se, fitando-me descaradamente.
Tive que controlar meu corpo pra que ele mantivesse a pose de não tô nem aí.
Mas a cabeça começou a disparar, essa sacana incontrolável!
Comecei a imaginar que ele pediria para sentar-se comigo, pediríamos uma garrafa de vinho, ficaríamos levemente embriagados, riríamos da vida e que, no fim, ele me levaria para sua casa e não mais me deixaria partir dos seus lençóis de algodão egípcio.
Ele veio, passo firme, determinado e começou a se abaixar ao meu lado.
Pensei e quase falei: "Não precisa ajoelhar-se meu lindo! Pode sentar!".
Ainda bem que sou meio lerdinha para algumas coisas...
Apolo levantou-se com minha bolsa na mão e disse: "A senhora deixou sua bolsa cair".
Quase morri de decepção, mas consegui balbuciar um trêmulo agradecimnto.
Mas quer saber? Ele não fazia mesmo o meu tipo!
Meu rebolado, que é mais que um poema, pede algo com mais pegada!
Sacudi e sorri.
E só mais uma coisa, ô Apolo afrescalhado...
Senhora" é a sua vó!
E tenho dito!

Nenhum comentário:

Postar um comentário