segunda-feira, 8 de julho de 2013

Um passeio de trem




Um passeio de trem
Silvia Britto

Dormi na casa da minha irmã, no Engenho de Dentro, e resolvi voltar para casa, na Urca, de trem e ônibus. Julgando-me muito esperta, esperei até as 10 horas da manhã, para fugir da hora do rush nos trens. Certamente, às 10 horas, todos já estariam trabalhando.
O primeiro susto se deu quando cheguei à estação e a encontrei lotada. Perguntadeira como sou, logo inteirei-me da situação: os trens estavam com atrasos de 40 minutos hoje. A razão: só Deus sabe.
Por sorte, o trem vinha chegando e pensei, metida, que havia dado sorte. Sorte? Eu disse sorte? Bem, julguem vocês. O trem abriu as portas e eu duvidei da lei da Física de que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo. Mas como meus companheiros de estação apressassem-se a entrar no vagão, eu é que não iria ficar para trás!
Como num passe de mágica, encontrei-me no centro do vagão. Lógico que não havia lugar para me segurar. Mas, ei! E daí? A vida é feita de emoções! À minha frente, havia uma mocinha, que ainda conseguia ser mais baixa do que eu, na ponta dos pés, tentando segurar na alça de metal que pendia do teto. Atrás, um negão afrodescendentão, à Seedorf, fazia a segurança do meu bumbum, que quase não ocupa lugar no espaço, pousando a mão delicadamente no meu também delicado derrière. Eu nem tinha como reclamar ante tamanha solicitude.
E seguimos viagem no trem “direto” para a Central, com paradas em São Francisco Xavier e Silva Freire. O maquinista, talvez supondo a imensa onda de calor humano que eclodia nos vagões, não se apressou e fez em 40 minutos um percurso que dura geralmente um pouco mais de 10 minutos. Na parada de Silva Freire, me dei por feliz de conseguir continuar no vagão rumo a Central. Quase fui levada pela horda pacífica de trabalhadores atrasados.
Agora eu tinha um pouco mais de espaço. Minha colega de meio metro partiu e me cedeu seu lugar na alça do teto. Já nem precisava mais da proteção do afrodescendentão. Mas ele não arredou pé, solícito em sua proteção à minha lombar. Quando eu achava que nada poderia ser pior, um dos passageiros resolveu soltar um pum! E foi daqueles estilo “fffffffffffffffff”! E cheguei à conclusão de que, realmente, nada é tão ruim que não possa piorar.
Chegando ao destino, resolvi refrescar-me e tomar um refresco de maracujá, para tentar acalmar os ânimos. Bebi o líquido amarelo, torcendo para que a minha flora intestinal não estranhasse muito as suas amiguinhas, que vinham naquela água de origem duvidosa. Enquanto eu bebia, olhava os rostos daquelas pessoas e pensava naqueles que ainda tiveram coragem de criticar o movimento pela redução do preço das passagens, que assolou nosso país nos últimos dias. Como assim, só por causa de 20 centavos? Antes de criticarem, tenho uma sugestão a fazer-lhes. Que tal pegarem vossas famílias e irem dar um passeio de trem pelos subúrbios do Rio de Janeiro numa manhã de segunda-feira? A emoção é garantida. Só não garanto que essa seja uma das melhores. Bon voyage!

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